terça-feira, 23 de novembro de 2010

Tim Burton no MoMA


Hoje faz um ano que visitei o MoMA e vi a exposição do Tim Burton - aquela que chegaram a anunciar que vinha pro Brasil, mas depois desapareceu do mapa. Procurando umas fotos, achei essa matéria que escrevi pra revista Movie. Resolvi republicar aqui.

Se bem me lembro (provavelmente me lembro mal), o André Forastieri decidiu me pedir uma colaboração poucos dias antes de eu embarcar pra Nova York, e acabamos achando que era uma boa ideia. Por conta dos prazos de fechamento, acabei escrevendo a matéria no aeroporto, num teclado minúsculo de um EEE PC. Por isso, acabei dando uns tapas nessa versão aqui, que deve ser diferente dos tapas que a Maria Beatriz deu na versão que s
aiu na Movie # 5.


Parecia shopping em véspera de Natal – dez pessoas por metro quadrado, empurra-empurra pra caminhar e um calor dos infernos. Só que não era shopping, e sim a exposição dos trabalhos de Tim Burton no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Tem gente por todo lado. Mal dava pra ver as obras – que vão desde desenhos feitos para um concurso dos bombeiros de sua cidade-natal até uma escultura com movimentos robóticos do personagem Robot Boy.


A mostra, que inaugurou no fim de novembro e fica em cartaz até abril, é uma das mais populares do ano. Por lá, as filas constantes e o movimento forte marcaram as primeiras semanas da exposição (Nota: na época, eu não sabia que isso era fichinha. Semanas depois, amigos passaram mais de uma semana na cidade e não conseguiram comprar ingressos). No resto do mundo, a imprensa repercutiu os desenhos do criador de filmes como Peixe Grande, Edward Mãos de Tesoura e da nova versão de Alice no País das Maravilhas.


A filmografia de Burton por si só já justificaria toda essa atração que a exposição vem provocando. O diretor é um dos mais cultuados das últimas décadas. Suas criações saíram do mundo do cinema e passaram a ocupar uma posição de destaque na cultura pop. Por exemplo: Jack Skellington, de O Estranho Mundo de Jack, virou figura onipresente na cultura emo. Até hoje há bonecos de Edward Mãos de Tesoura nas lojas de brinquedos mais sofisticadas.


Mas a real é que a exposição cria um marco. Há um Tim Burton pré-MoMA: um diretor de cinema que faz filmes visualmente impressionantes e que havia lançado um livro de poemas. E há um Tim Burton pós-MoMA: um artista completo, que expressa sua visão de mundo gótica e lúdica em filmes, mas também em outros meios.


O Burton pós-MoMA é aquele que, num dos textos da exposição, se define não como um roterista, mas como um produtor de imagens – que podem se manifestar em qualquer meio.


Faz desenhos simples em guardanapos, mas também concepções visuais elaboradas com giz e aquarela. Faz esculturas que se mexem e encomenda outras para ajudar a pensar em filmes. Para consumo próprio, produziu uma série de fotografias em polaróide, que rendeu uma sala do museu dedicada apenas a elas, com a esposa, Helena Bohan-Carter e pedaços de bonecos de Jack Skellington. Escreve e ilustra poemas. Faz pinturas de seus personagens. Desenha muito. E também, claro, faz seus filmes.


Esse novo Burton, aliás, é um artista obsessivo – desenha muito, cria cada detalhe de seus filmes. E isso reflete na mostra: depois da seleção da curadoria, ficaram mais de 700 peças espalhadas pelo espaço. Entre elas, está a série Surviving Burbank, em que estão os desenhos feitos pelo Burton adolescente, leitor da revista Mad, morador de um subúrbio norte-americano. E os esboços para projetos nunca realizados, como o longa-metragem de Superman. E o clipe de Bones, da banda The Killers. E um estudo de animação em 3D para o personagem Stainless Boy. E máscara de Batman, capacete do Planeta dos Macacos, esboços de Alice...


Boa parte dessa produção visual também acaba de ser compilada em The Art of Tim Burton, um luxuoso livro de arte com quase 500 páginas (vendido apenas no site da editora). Não é um catálogo da exposição: vários trabalhos expostos no MoMA não constam do livro e vice-versa.

Na introdução, curta, Burton explica: toda a sua arte era pra ajudar a criar seus filmes ou apenas para ele mesmo. Nunca tinha pensado em torná-la pública – e só aceitou porque amigos e colaboradores davam sempre a mesma ideia: que tinha que mostrar.


Tinha mesmo: o Burton pós-MoMA não é um artista diferente. Mas é um artista melhor, mais completo, mais complexo e mais fascinante.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Barbeiro de Sevilha

O Barbeiro de Sevilha (The Barber of Seville), by Rossini. Stage concept and direction: Pier Francesco Maestrini; graphic concept and animation: Joshua Held

Ontem, vi a última apresentação da ópera O Barbeiro de Sevilha em São Paulo. E, por acaso, uma das últimas do ano: depois de passar por várias cidades em um semestre, estão programados apenas mais um fim de semana em Ribeirão Preto e uns dias no Rio. E aí acabou.

O Barbeiro de Sevilha, no caso, é a primeira montagem da Cia. Brasileira de Ópera, montada pelo maestro John Neschling depois que ele foi demitido da Osesp. Muita coisa foi escrita tanto sobre a demissão da orquestra quanto sobre a criação da companhia. Não preciso repetir tudo aqui. Mas, de tudo que vi, uma ideia ficou, e nela eu queria pedir licença para insistir: Neschling declarou que não tinha interesse em assumir uma outra orquestra porque o Brasil não precisaria de uma outra Osesp; preferia fazer algo novo, que não existia por estas bandas.

Passam-se uns meses, mas não muitos, ainda mais no tempo que se pensa que é necessário para montar uma companhia, e não só um espetáculo - a mim, parece que é um esforço que exige um bom tempo. Aí a montagem estreia. Primeiro em Belo Horizonte, depois itinerando pelo Brasil, até chegar na apresentação de ontem.

Comprei ingresso com medo.

Fui com medo.

E não me torrem a paciência com meus medos, não temo sem motivos: já vi algumas montagens razoáveis no Brasil, mas também já vi algumas coisas medonhas, de sentar nas primeiras filas e mesmo assim a voz da cantora não chegar até mim. Mesmo um diletante como eu, um flâneur desse mundo, percebe que tem algo muito errado nessas horas.

O Barbeiro de Sevilha (The Barber of Seville), by Rossini. Stage concept and direction: Pier Francesco Maestrini; graphic concept and animation: Joshua Held

Só que o Barbeiro me encantou. Saí com a sensação de que tinha algo de muito especial nascendo ali. E essa é a ideia que eu queria que ficasse pra vocês de tudo que falo neste post.

Como sou absolutamente leigo em música erudita (aliás, em quase tudo), não vou tomar o tempo de ninguém com uma crítica impressionista sobre a música que não vai levar a lugar nenhum.

Mas é evidente que Neschling e sua companhia fizeram um esforço monumental para fazer uma ópera explicitamente acessível e generosa. Partiram de uma peça bem popular. Até o Pica-Pau já cantou esse Rossini, pô:



Aí vem a opção de usar um desenho animado como cenário, o que torna a montagem fácil de transportar e, portanto, itinerar - porque não há uma Sevilha inteira de compensado, apenas uma tela e um projetor. E a escolha de usar esse desenho animado não só como um recurso de cenário, mas também pra dar o tom da linguagem.

O elenco interage com a animação o tempo todo. Usa roupas coloridas, perucas, tem uma atuação que lembra as criaturas de Hanna-Barbera - o Barbeiro definitivamente está mais para a dupla que para Disney. Ficou um barato: o clima sisudo se quebra em minutos e as pessoas riem o tempo todo, aplaudem, se divertem mesmo.

Ok, admito que em alguns momentos - mas só alguns - fiquei com a impressão de que o humor fica escrachado demais e para de funcionar. Aposto que é meu lado ranzinza se manifestando, porque o público não parou de rir. Eu nunca gostei de Chaves, né?

Não vi as récitas infantis, apresentadas à tarde, encurtadas para 50 minutos de duração (versus as quase três horas do espetáculo regular), mas aposto que foram fabulosas e que as crianças amaram.

O fato é que a Cia. Brasileira de Ópera chegou num Barbeiro fácil de se gostar. Facílimo. Tão fácil que imaginei apresentações relâmpago de árias em parques, em prédios, em shoppings, em centros comunitários, em qualquer lugar. Popular mesmo, sem ser precário nem primário nem vulgar, mas que é generoso com seu público, que é convidativo. E que é fresco e novidadeiro num mundo que parece empoeirado pra quem está longe.

Se a ideia de Neschling é mesmo ter uma companhia de ópera permanente no Brasil, me parece um começo cheio de boas escolhas.

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O Barbeiro de Sevilha (The Barber of Seville), by Rossini. Stage concept and direction: Pier Francesco Maestrini; graphic concept and animation: Joshua Held

Pra mim, é fato que a Cia. encerra esta primeira temporada com bastantes méritos. Mas também com uma lista de tarefas para cumprir para as próximas temporadas. E, note, são tarefas que ela não pode cumprir sozinha.

1. Não sei como foi nas outras cidades, mas, em São Paulo, havia dois elencos se revezando nas apresentações, sem contar o elenco das récitas infantis. Num o Bartolo é o Pepes do Valle; noutro, o Sávio Sperandio, dentre outras diferenças. Não sei qual o melhor elenco, nem se há um melhor. Não sei se vi o espetáculo com o elenco certo. Mas tenho uma amiga que sabe. O problema é que eu não soube que havia dois elencos até chegar no Teatro Alfa e olhar o programa. Não soube disso no site da companhia, nem no site extra-oficial, nem no site de vendas de ingresso. Se isso saiu em algum jornal, passou batido por mim. Não pude perguntar pra minha amiga. Em tempo: a imprensa bem que poderia se empenhar em indicar qual o melhor elenco, se houver um.

2. Mesmo em cima do laço, comprei um lugar ótimo na quarta fileira, bem central. Mas o programa não trazia o libreto nem mesmo um resuminho da ópera. Isso porque havia a legendagem - e, como ocorre no teatro às vezes, a legenda fica lá no alto. Só que isso eu só soube disso ao entrar no teatro. O meu até então ótimo lugar virou uma fábrica de torcicolo. A sorte é que a sessão não estava lotada, e eu consegui me acomodar em um lugar algumas fileiras mais para trás. Divulgar esse tipo de informação é um serviço utilíssimo. Se a companhia não faz isso para não se melindrar com os teatros, os jornais, as revistas e os sites poderiam fazer.

3. Não vi em nenhum lugar a informação de que havia um intervalo na apresentação de 150 minutos. Havia. Também é um serviço importante.

E digo tudo isso porque tenho certeza de que há muita gente como eu, que está começando a ir a óperas agora, e porque nitidamente a Cia. tem olhos voltados para atrair esse público e um outro, que nunca na vida foi a uma ópera. Metade do público de ontem tinha menos de 40 anos - ou seja, é bem mais jovem do que qualquer ópera a que tenha ido na vida, mesmo as do Metropolitan transmitidas nos cinemas.

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O Barbeiro de Sevilha (The Barber of Seville), by Rossini. Stage concept and direction: Pier Francesco Maestrini; graphic concept and animation: Joshua Held

Claro, tudo isso passa por uma questão central: se a gente acha que é realmente importante o Brasil ter uma companhia permanente de ópera e uma cultura de ópera. Porque de nada adianta fazer tudo isso se não for relevante.

Pra falar a verdade, do alto da minha capacidade de pensar bobagens sobre assuntos que desconheço por completo, eu tinha sérias dúvidas a respeito dessa necessidade. Ópera é um troço caríssimo de produzir, de manter, de preparar elenco, e que é fácil de deixar tosco. Pra mim, em um curto prazo, não valeria a pena fazer tudo isso só pra atrair quem vai pros Estados Unidos e pra Europa pra ver montagens de fôlego e ficar falando mal dos similares nacionais. Talvez fosse melhor usar essa grana em um plano de fomento pra jovens e velhos talentos, bolsas, iniciativas menores e pontuais, preparando o terreno.

Posso estar enganado. Provavelmente é cedo pra dizer o que vai acontecer. Mas o fato é que o Barbeiro me pegou. Neschling parece ter encontrado um caminho que põe essa visão de investir num milagre a longo prazo em xeque. Me deixou curioso pra ver no que vai dar. E eu gosto disso. Que venha a temporada 2011.

(Fotos deste post extraídas do Flickr de Joshua Held, responsável pela concepção gráfica e pela animação do Barbeiro.)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Laerte

Vi no Twitter do hermano Érico Assis. E aí vi duas vezes seguidas, uma depois da outra. Simples, simples, meia dúzia de depoimentos em menos de 15 minutos, é um documentário emocionante sobre o Laerte.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Oca Maloca / A Soma dos Dias

Juntei aí embaixo dois vídeos que fiz. Juntei porque os dois mostram passeios por obras de arte em que a gente entra e fica lá dentro, as duas em exibição em São Paulo.

São obras com 20 anos de diferença -- sem falar de todas as outras diferenças: branca / colorida, luz natural / lâmpada de maloca, tecido translúcido / madeira de demolição. Mas há outra similiridade entre elas: a parceria. Numa, com um exímio carpinteiro e dezenas de artistas. Noutra, com um músico renomado internacionalmente.

Filmei sem pretensão, ponto de vista de quem está entrando com uma câmera vagabunda na mão (e foi isso mesmo), tentando e fracassando em transmitir a ideia da obra para quem não a viu. Claro que é impossível.

Não abri os segredos da Oca Maloca, porque essa é a natureza dos segredos. A trilha do Philip Glass de A Soma dos Dias é quase inaudível, porque a Pinacoteca sábado é um barulho só - e lá também as falas se sobrepõem à música.

Os vídeos, enfim, são só isso mesmo.

Oca Maloca - Maria Tomaselli com João Melquíades
Caixa Cultural da Sé - até 17 de outubro



A Soma dos Dias - Carlito Carvalhosa com Philip Glass
Pinacoteca do Estado de São Paulo - até 7 de novembro

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O sistema magnético disse que sou ladrão

Foi só eu atravessar a porta da livraria que o sistema de segurança apitou. Nem deu tempo de pensar “Fui eu?” que a segurança, uma moça, já veio:

– Podemos ir até a seção de atendimento ao cliente?

– Hã? – eu ainda estava tonto, tentando entender que estava sendo acusado de furto por um sistema magnético.

– Podemos ir até a seção de atendimento ao cliente? É que apitou...

Saco. Um saco. Eu tinha que ir até o atendimento ao cliente? Jura?

Pra pontuar: já era noite, estava frio, eu tinha trabalhado o dia todo, eu estava com sinusite, eu estava cheio de problemas, eu tinha acabado de gastar uma grana razoável na livraria e eu sou um bom freguês da livraria há anos (mesmo que eu tivesse roubado um livro forrado a ouro, provavelmente a rede ainda estaria lucrando com a nossa agora corrompida relação).

– Eu tenho mesmo que ir até o atendimento ao cliente?

– Não, só se o senhor quiser.

– Então eu não preciso? Isso não vai atrapalhar você?

– O senhor só vai se o senhor quiser.

Eu não estava a fim de ir mesmo. Me desculpei com a moça, só por gentileza mesmo. E fui embora.

De cara, achei bem razoável a saída. Gentil. Sei lá.

Só que logo me dei conta de que não tem como consertar um grito de pega-ladrão, mesmo quando ele é velado em forma de sistema de segurança eletrônico. Saí me sentindo mal. Porque o sistema é constrangedor. Porque é cruelmente invasivo. Porque eu não quero abrir minha mochila e ter minhas coisas revistadas.

E, afinal de contas, porque é um sistema traíra. Eu vou nessa mesma livraria três ou quatro vezes por mês, pelo menos, desde que a loja abriu. (Cheguei a ser mayor no Foursquare, se bem me lembro.) Em outras lojas da rede, vou umas dez vezes por mês. E isso, com essa frequência, há uns oito anos. Mas acho que minha primeira compra lá já tem pelo menos quinze anos.

É estatisticamente óbvio: com uma frequência tão alta, o sistema ia falhar alguma vez. Porque uma hora uma atendente não ia desmagnetizar direito. Ou outra etiqueta magnética ia interferir no sistema. Ou ia dar um bug qualquer mesmo.

Só pra comprovar que o sistema falha: uma vez, nesta mesma loja, minha mochila apitou quando eu estava ENTRANDO na loja. Um segurança foi ao meu encontro pra avisar que eu não me preocupasse, que ele já tinha avisado a central e que eu não sofreria nenhum tipo de constrangimento. Como se o apito já não fosse constrangedor o suficiente.

Não quero discutir soluções estapafúrdias (não me ocorre nenhuma justa, e livrarias devem evitar furtos de livros). Nem me fazer de vítima (não fui levado para uma sala e espancado, atitude que até recentemente era comum de se ver nos jornais).

Afinal, não é bom pra ninguém. Eu perco a paciência. A livraria perde por encher o saco do cliente – que sai falando do assunto por aí, em blog, no Twitter, ou que se irrita e não volta mais pra comprar lá. Provavelmente a livraria também ganha por evitar que alguns livros sejam roubados. E eu ganho pagando um pouco menos por um livro, porque a livraria não tem que arcar com custos de furtos nem de manter as lojas cheias de vigias e olheiros (bastam umas câmeras discretas, mais agradáveis que fiscais em cima do seu ombro).

Às vezes, parece que é porque a gente tem um blog que tem que dar solução pra tudo. Não é verdade. Tem dias em que o que resta é ficar perplexo com o fato de que o sistema magnético disse que eu sou ladrão.

sábado, 14 de agosto de 2010

Uns DVDs que vi


Conversas noturnas - Lançamento da Biscoito Fino, é um documentário sobre a pianista argentina Martha Argerich. Quem já a viu tocar sabe que Martha é uma figuraça, que ela deixa o público com uma vontade louca de saber o que passa em sua cabeça. No filme, o diretor Georges Gachot consegue ser muito revelador a respeito de Martha, mas de uma forma sutil e muito elegante. O resultado não é uma caricatura. Pelo contrário: é de uma riqueza admirável.

O amor - Uma nora muito generosa tem que esconder de sua sogra, uma velhinha moribunda, que o marido está preso. Mais um filme de que eu nunca tinha ouvido falar, que era inédito por aqui em qualquer formato, mas que vi por conta do selo da Lume Filmes. Não tem erro: nunca vi um filme ruim lançado pela Lume.

Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia - Só pra confirmar o que eu tava falando: também da Lume. Até onde sei, é o único filme em que Sam Peckinpah fez o corte final, sem sofrer interferências do estúdio.

Por uma vida melhor - É um Sam Mendes (Beleza americana, Foi apenas um sonho) menor, e acabou saindo direto em DVD, sem passar pelo circuito. É o tipo de coisa que acontece, mas não faz muito sentido: um Sam Mendes menor está longe de ser ruim. Em vez de passar como um filme mediano nos cinemas, acabou se tornando um dos mais interessantes dos filmes direto para DVD do ano até agora.

Neblina e sombras - Outro filme menor na filmografia do diretor. Mas não chega a ser desprezível por isso. Até porque, como se sabe, um Woody Allen menor é melhor que quase tudo. Melhor até do que dizem sobre ele por aí. É que esse é um dos filmes mais achincalhados do diretor, dizem que é pesado e chato, que Allen perdeu a mão em sua homenagem ao expressionismo alemão. Mas agora que saiu em DVD, como parte de uma caixa com outros "filmes menores", revi e me dei conta de que Neblina e sombras tem o seu charme, o seu humor. Não é encantador e envolvente como Whatever works. Mas é bacana.

Coração louco - Se estou falando de filmes muito esquisitos pra você, arrisque este Coração Louco, história de um cantor country decadente chamado Bad Blake - um Jeff Bridges que atua loucamente e ganha Oscar por isso. Com Maggie Gyllenhaal, que é sempre uma satisfação de ver.

Capitalismo - Uma história de amor - Eu gosto de como o Michael Moore conta suas histórias. Para ser bem claro: gosto de como ele constrói a narrativa para nos envolver na sua cruzada para salvar o mundo. Eu não gosto da forma como ele pega a realidade e distorce de uma forma bizarra, para fazer jus à trama que quer contar. Esse é o problema desse novo documentário do cara - que também saiu direto em DVD. Mesmo que eu simpatize com algumas das ideias de Moore, não simpatizo em nada com a distorção. Moore não é burro. Ele sabe que está manipulando, e isso é irritante: se ele está fazendo isso conscientemente, e eu acho que está, Moore é um picareta. Mas, de novo, gosto da forma como ele monta suas histórias. E é isso, e não uma suposta verdade, que me interessa na sua obra.

Vida e arte de Georgia O'Keeffe - Veja bem: esta é uma recomendação muito específica. Porque o filme não é nada demais. E porque Georgia O'Keeffe não é uma artista que me interessa - não consigo entrar naquele mundo feminino leve e delicado dela. Nem consigo ver a agressividade contida que alguns espectadores veem em seu trabalho. Mas tem quem goste, e muita gente gosta. No ano passado, a mostra de suas abstrações no Whitney Museum foi um baita sucesso. E consta que esse telefilme deu um empurrão pra mostra. Então o meu interesse no DVD foi justamente esse: sou um espectador de artes visuais muito insistente e queria tentar entender mais uma vez o que motiva as pessoas a gostarem tanto de Georgia O'Keeffe. No filme, encontrei uma Joan Allen fazendo uma Georgia O'Keeffe chata e um Jeromy Irons matando a pau como o fotógrafo, galerista, jet set, amante e marido Alfred Stieglitz. Mas nenhum dos dois conseguiu me convencer ainda. Talvez você consiga. Aí me ajude aí nos comentários. Boa sorte.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Receita" de extrato de tomate

Geralmente as pessoas compram extrato de tomate em lata. E muitas fazem isso porque não sabem que é fazer em casa é mais gostoso e mais econômico, além de ridiculamente fácil. Tão fácil que a reação das pessoas ao saber como se faz extrato de tomate é um "Ah, é TÃO fácil?". Oh, yeah.

A verdade é que não chega nem a ser uma receita. Por isso, pus as aspas no título do post. Parece mais correto, porque é bem razoável considerar que quem compra extrato de tomate tem habilidades mínimas na cozinha. Se uma pessoa usa extrato de tomate, é capaz de fazer o seu.

Veja só:

Precisa de...

Uma panela grande

Água

Tomates maduros

Um liquidificador


E as quantidades?

Olha, você pode fazer muito extrato de tomate de uma vez só. Muito mesmo. Então eu não vou restringir as quantidades. O que é importante é que os todos os tomates caibam na panela e possam ficar mergulhados nela. Se você só tiver uma panela pequena, faça menos extrato. Se tiver uma panela imensa, pode fazer extrato pra um batalhão (mesmo).



Siga os passos

1. Ponha para ferver uma panela grande cheia de água.

2. Pegue tomates maduros e, com uma faca, faça um corte superficial nas cascas, só para rompê-la, sem chegar até o miolo. Pode ter um milímetro de profundidade, não faz mal. O importante é que a casca esteja rompida.

3. Desligue o fogão e mergulhe os tomates na água fervente. Deixe-os de molho por alguns minutos, até a casca começar a soltar. Geralmente três minutos bastam, mas às vezes é preciso deixar um pouco mais.

4. Quando a pele estiver solta, tire a água quente da panela. Encha de água fria, para ajudar a resfriar os tomates.

5. Tire os tomates da água. Você vai notar que a casca está solta. É só começar a puxar que ela sai toda, e fácil.

6. Jogue o tomate sem casca no liquidificador. Bata até desmanchar bem. E pronto.


Como eu vinha dizendo: fácil demais. Dá até para complicar um pouco: use tomates de cores e espécies diferentes. Ou tomates orgânicos. Reaproveite potes de vidro para guardar o molho. E passe a fórmula adiante.


Atualização - Foi só eu jogar no Twitter que vieram os primeiros comentários.

Comentando com o Diego Figueira, o cartunista Ota falou que nem precisa fazer o corte, que as cascas estouram. Eu prefiro porque de vez em quando a gente depara com cascas mais resistentes, então com o corte é mais rápido.

Ele também disse que só se tira as cascas por causa dos agrotóxicos, e isso eu já não sabia. Aprendi a fazer assim e vinha fazendo sem pensar, mesmo usando tomates orgânicos. Vou experimentar e depois conto.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Bienvenido de volta


Cada vez que escrevo no blog, tenho que dizer que estou de volta, o que é uma chatice pra mim e pra vocês. Mais fácil assumir que este é um blog bissexto mesmo.

Mas o fato é que voltei pra avisar que nesta quinta, dia 20, vou mediar um papo entre dois caras muito bacanas: o Paulo Ramos, jornalista especializado em quadrinhos, e o Claudio Martini, editor da fabulosa Zarabatana Books.

O mote da mesa é Bienvenido (capa acima), baita livro sobre os quadrinhos argentinos escrito pelo Paulo, editado pelo Claudio e encapado com essa imagem matadora do Liniers. Claro que a ideia é falar dos quadrinhos argentinos como um todo.

Começa às 19h, na Fnac da Av. Paulista.