segunda-feira, 7 de março de 2011
Notas sobre Berlin Alexanderplatz
Foi motivado por uns dias que passei em Berlim no fim do ano passado que comecei a ver Berlin Alexanderplatz, a magistral série feita para TV pelo grande diretor alemão Rainer Werner Fassbinder.
Achei que seria difícil de encontrar. Mesmo em Berlim, havia apenas uma caixa - sem legendas em nenhuma língua que servisse pra mim. Nas lojas, vendedores garantiam que não havia nenhuma outra versão em parte alguma do mundo.
Mas há.
Uma delas é a caixa da Criterion, aquele selo americano que lança maravilhas do cinema. Essa é para colecionadores e em quem tem fetiche pela coleção da Criterion. Não é o meu caso.
A surpresa pra mim é que havia esse tempo todo uma edição brasileira, bem mais em conta, pela Versátil. Minha busca inicial por aqui deve ter sido bem displicente, porque não havia encontrado.
Então cá estou eu assistindo a Berlin Alexanderplatz em DVD com legendas em português e a um preço equivalente ao da caixa alemã.
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Ainda não acabei. Comecei em janeiro e ontem vi o capítulo 11. Não é uma série pra se ver de uma sentada. Tipo Lost, que você assiste a uma temporada em um fim de semana.
Em tese, daria. São 13 episódios e um epílogo, cada um com um pouco mais de uma hora. Total: 15 horas, divididas em seis DVDs -- com extras.
Mas não dá. Acho difícil aguentar. E Berlin Alexanderplatz demanda um tempo pra ser digerido. Porque Fassbinder faz uma obra densa e profundamente reflexiva.
A vida do ex-presidiário Franz Biberkopf na Berlin da década de 1920 é sofrida. E doída. Bieberkopf tenta se reeguer. Não consegue. Se filia a todo tipo de canalha, de nazistas a assaltantes. Não consegue.
As relações de Bieberkopf com as mulheres é penosa. Intensas e violentas. Só roubada, diria o outro.
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Outro dia, assistindo apenas ao episódio 9, tuitei umas frases da série. Busquei lá, colo aqui:
"Às vezes a vida é curta demais pra eternidade dos sofrimentos."
"Acho isso estranho. Que se possa falar a favor e contra uma coisa ao mesmo tempo."
"Não viu que não tenho um braço? Esse é o preço que paguei por trabalhar."
"Os socialistas não conquistaram o poder político. Foi o poder político que conquistou os socialistas."
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Em termos de série: Berlin Alexanderplatz está entre as melhores que já vi. Brigando com Twin Peaks.
O Franz Bieberkopf de Günter Lamprecht me lembra Tony Soprano, até fisicamente, pela opulência.
Pra alguém aí, outro dia, defini que Berlin Alexanderplatz é como se fosse Sopranos ou Mad Men, mas só com as melhores cenas.
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Saiu em português o livro que serviu de base para Fassbinder, de Alfred Döblin. Pela Martins Fontes. Fiquei curioso.
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Também me perguntam sobre Berlin Alexanderplatz em si, a real, a de verdade. Que é uma praça bastante central em Berlim.
Há várias imagens dela aqui no Google.
Há uma estação de trem e acesso às duas redes de metrô da cidade - U-Bahn e S-Bahn, uma atendia à antiga Berlim Oriental e outra à Ocidental.
Há uma série de magazines e um shopping center, além de pequenas lojas e uns vendedores ambulantes.
Há a antena de TV que, na falta de outros cartões postais, ganha destaque no horizonte de Berlim.
E é uma ligação entre dois pontos centrais dessa cidade que foi dividida por décadas: o bairro de Mitte, cool e tal, que os guias hão de descrever como "de vida noturna agitada", e os lados da Ilha dos Museus e da avenida sofisticada Unter den Linden.
Tudo isso em volta de um imenso de piso de laje, com pouco verde e poucas árvores.
É na crueza espartana que as duas Berlin Alexanderplatz, a série e a praça, se unem.
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