Amigos de Porto Alegre eventualmente reclamam que as coisas de que falo aqui nem sempre servem, que vários filmes que comento nunca estreiam nos cinemas de lá, que não é fácil vir pra São Paulo toda hora. Pois vou aproveitar que Porto Alegre está com uma agenda de exposições absolutamente incrível pra compensar as reclamações.
Jailton Moreira, Rotação |
Vou começar pela mais complicada, porque, pra resumir, gosto demais do Jailton e sou muito grato a ele por coisas que vão de orientações a respeito de Ticianos do começo da carreira em um refeitório de uma igreja em Padova até dicas de sabores de tramezzini. E aí eu poderia dizer "descontem", mas nesse caso não vale. O Jailton é um cara que usa o mundo como atelier, então me parece que tanto os Ticianos quanto os tramezzini fazem parte desse processo de criação, que depois é editado (uma palavra bem feliz que surgiu num debate sobre a exposição que rolou sábado. Eu não sei como definir e, na verdade, não tenho o menor interesse em definir o que tem na exposição. Só quero dizer que é comovente.
2) O tamanho do mundo, de Vik Muniz (curadoria de Lígia Canongia), no Santander Cultural.
Eu gosto do Vik Muniz. É verdade que já tive mais entusiasmo com o trabalho dele. Hoje, me incomoda que, depois de entender a sacada, eu não tenha muito pra onde ir na obra. Deve ser a velhice. Mas ainda assim essa é uma grande exposição. Tem bastantes trabalhos novos - e me encanta especialmente a série de castelos de areia. E tem trabalhos antigos - entre eles, Cloud Cloud, primeiro trabalho de Muniz que conheci, em um programa de TV da época, e que continuo achando arrebatador.
3) Ensaio sobre a Dávida, de Nuno Ramos (curadoria de Alberto Tassinari), na Fundação Iberê Camargo
Dois filmes - Dádiva 1 - copod'águaporvioloncelo e Dádiva 2 - cavaloporPierrô - falam sobre a dádiva no sentido proposto por Marcel Mauss, em que as trocas ocorrem em um sistema sem valor monetário, e portanto trocar um copo d'água por um violoncelo ou um cavalo por um pierrô são atitudes absolutamente cabíveis. Achei bom demais. Bom demais mesmo.
Em tempo: as outras duas exposições que estão na Fundação valem muito a pena.
EXPOSIÇÕES QUE FECHARAM ANTES DE EU PUBLICAR ESTE TEXTO NO BLOG:
4) A força do tempo, de Ricardo Chaves, na Casa De Cultura Mario Quintana
O Kadão é editor de fotografia da Zero Hora. Trabalhei com ele lá. É um imenso fotógrafo: era certo que, se ele entrava no jogo, a foto seria um acontecimento. Ver esse trabalho reunido é bastante impressionante. Por conta da qualidade do seu trabalho no fotojornalismo, Kadão estava nos lugares que importavam. E, às vezes, em ocasiões ainda mais especiais, fez os lugares em que estava se tornarem importantes.
5) Território da Folha - Paisagens de Teresa Poester (curadoria de Eduardo Veras), no MACRS (que fica na CCMQ)
O Edu Veras também trabalhou comigo na ZH. Se trabalhar numa redação é legal pelas pessoas em volta, o Edu era uma das pessoas que fazia o trabalho valer a pena. Nos encontramos por acaso na exposição do Jailton, e ele me contou que tinha feito essa curadoria da Teresa Poester pro MAC. Só trabalhos com paisagens, de várias fases, de muitos anos. Corri pra ver. Eu não lembrava direito do trabalho da Teresa, tinha mais uma lembrança meio amorfa. Desta vez, os trabalhos bateram com uma força imensa. Ainda vou ver o que vai sair daí.
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