Já faz um tempinho que não publico comentários rápidos e rasteiros sobre os filmes que vi (os bons, os interessantes, os que valem à pena por algum motivo qualquer). Mas enfim, estão aí:
Boyhood - Enquanto a gente achava que Richard Linklater estava falando de envelhecer só ao transformar Antes do Amanhecer em uma trilogia, ele já estava dirigindo um longa de duas horas e meia que acompanha o crescimento de um moleque. É muito mais radical. Se dedicar por tanto tempo a um projeto tão arriscado: poucas vezes vi maior prova de amor ao cinema.
Relatos selvagens - Neste filme argentino, a selvageria é o oposto de civilização. E os seis relatos selvagens são sobre pessoas que rompem os limites civilizatórios. Vou um pouco além: ao mostrar pessoas que se deixam levar pelos impulsos, o filme fala diretamente aos impulsos que contemos: a vontade de matar a ex do marido, de explodir o funcionário público kafkiano, de arrebentar a cara do motorista que nos ultrapassa na estrada.
Pra ser ótimo, Relatos selvagens fica devendo uma reflexão que vai além da documentação. O filme expõe os limites, mas não reflete sobre eles. Mas entendo o porquê de tanta gente sair encantado do cinema: acho que estamos muito próximos dos nossos limites civilizatórios, e acabamos nos identificando com as fantasias realizadas dos personagens. Vira catarse pura.
Tim Maia - Com um tom mais próximo da comédia do que da tragédia, o filme começa melhor do que acaba. Os percalços da juventude têm mais graça e leveza que um homem que precisa enfrentar a si mesmo. Mas Tim Maia não deixa de ser uma biografia competente, com uma atuação bárbara do protagonista, Babu Santana. (Tenho a impressão de que quem leu o livro do Nelson Motta pode se decepcionar. Mas eu não li e curti.)
O pequeno fugitivo - Filme de 1953 que ficou perdido até agora, mas enfim estreou nos cinemas. E que bom que estreou: a história do menino Lennie, que vaga cheio de culpa por Coney Island, é uma delícia.
Made in China - Há uns anos, visitei uma sinagoga histórica do Lower East End, em Manhattan. O templo tinha sido construído em pleno bairro judeu, mas o bairro havia mudado bastante: havia chineses e letreiros em chineses por todos os lugares. Sobravam poucos indícios de que um dia aquela região tinha sido ocupada por judeus. A sinagoga estava perdida ali.
- Isto aqui virou Chinatown. Mas o que se vai fazer? - perguntou-me a guia da visita, resignada. - Nos dias de hoje, o mundo é uma grande Chinatown.
Lembrei dessa historinha vendo o filme do Estevão Ciavatta, estrelado por Regina Casé: uma comédia sobre a transformação do Saara carioca em Chinatown. É um filme bem popular, na pegada do que Regina Casé vem fazendo, e que eu acho interessantíssimo. Umas piadas que se repetem demais pro meu gosto, mas só isso me incomoda. E nem incomoda tanto: o tema é bacana demais pra eu me apegar a detalhes.
A farra do Circo - Um documentário sobre o Circo Voador feito apenas com imagens da época. Fui ver por interesse na contracultura do Circo. Mas foi outra coisa que me conquistou. É que, nos anos 80, o vídeo se massificou. Ter uma câmera se tornou relativamente fácil e barato, e não era mais preciso passar por um laboratório para revelar. O audiovisual perdeu de uma tacada só os pudores e a pompa. A farra do Circo se aproveita dessa transformação histórica, e da abundância de imagens que foi gerada por esse movimento.
Libertem Angela Davis - Mulher e negra, Angela Davis foi perseguida, perdeu o emprego e se tornou entrou na lista dos 10 mais procurados do FBI por defender os direitos civis de, veja só, negros. Um primor de documentário.
Bem-vindo a Nova York - Abel Ferrara faz um filme baseado na história do executivo do FMI que é acusado de estuprar uma camareira em NY. Ferrara pesa a mão (e Depardieu o acompanha com virulência), mas ainda deixa a dúvida: será que a realidade não foi ainda mais dura?
Nos próximos dias, volto com uma lista dos filmes que vi na Mostra, e outros que vi nas férias.
Pra ler sobre os filmes anteriores, é só ir no link.
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