sábado, 21 de junho de 2014

No cinema (6)

De novo, separei uns filmes legais que vi no cinema pra comentar rapidinho aqui e, por tabela, recomendar. Vai que alguém cansou de Copa e quer ver um filme no fim de semana...



* Jogo das decapitações - O novo do Sergio Bianchi. Complicadíssimo, com muitas ideias para serem debatidas. Claramente não há opção à direita, e a esquerda ficou muito complicada. Eu mesmo acho complicadíssima a ideia presente de que as vítimas da ditadura são oportunistas que se deram bem. Sabe-se que não é assim, ou não é só assim. O Luiz Zanin Oricchio escreveu no Estadão que é capaz que a direita goste. Acho difícil. Também me incomoda que o filme tenha um tom de discurso moral. Ao mesmo tempo, tem o artista, Jairo Mendes, pai do protagonista, que se deu mal na ditadura. Aí há uma ideia de que a arte, ao menos, pode contestar e se salvar, mas que o verdadeiro artista libertário está sozinho e se perde. Como Riocorrente (que comentei há uns dias), Jogo das decapitações também captou no ar coisas que ainda viriam a acontecer depois das filmagens – manifestações e linchamentos inclusive. Enfim, tem um monte de coisas para discutir nesse filme do Bianchi, mas o xadrez político virou fla-flu e não parece que há clima para essas discussões. Vão abafar esse filme. Vão vendo.

* Coração de Leão - León é um cara com problema de crescimento. Tem 1,40 m, se a memória não me trai. Mas é sedutor, e atrai uma mina que fica toda ressabiada de sair com um cara mais baixo. Quando começou, achei que tinha caído numa roubada da temporada de Copa. Mas o filme me pegou, mesmo a mim, que não caio fácil por comédias. Poderia ser um filminho politicamente correto, talvez até seja, mas é convincente. Mais: é encantador. Em tempos de efeitos especiais computadorizados, o jogo de câmeras pra fazer o ator encolher é notadamente artificial, porque cinema é ilusão. Lembrou muito L'homme à la tête de caoutchouc, do Méliès. Depois de assistir, vejam se não é exatamente isso:


* Vic + Flo viram um urso - Vic saiu da prisão e foi ficar na casa de um tio entrevado. Flo é uma ex-criminosa que vai morar com ela numa cabana no meio do mato, perto de uma cidadezinha que leva todo jeito de ser a Twin Peaks francesa. Denis Côté levou o Urso de Prata em Berlim.

* Antes do inverno - Um neurocirurgião casado começa a receber flores. Seu casamento está em crise. Sua mulher e seu melhor amigo flertam. Aparece uma garota. Envelhecer não é mole. Mesmo na França.

* Dominguinhos - Um documentário feito quase que só com cenas de arquivo. Bonito, sensível.

* O menino e o mundo - Enrolei muito pra ver. Vi agora, empurrado pelo fato de que ganhou o Festival de Annecy. Tenho a impressão de que quem gosta de desenho pira, seja animado ou não.

Mais filmes nos posts anteriores:
No cinema (1 a 4)
No cinema 5

domingo, 15 de junho de 2014

No cinema (5)

Exceto em jogos do Brasil, os cinemas não param de funcionar durante a Copa. Mas ficam mais vazios, e as distribuidoras lançam filmes com menos marketing – mas não necessariamente menos qualidade. Há, por exemplo, uma quantidade de documentários em cartaz que é coisa rara de se ver.

A última Copa que acompanhei tinha o Naranjito como mascote, e acho que só acompanhei os desenhos animados do Naranjito mesmo. Então estou curtindo bastante esta temporada mais amena no cinema.

Acho que já tem filme bom o suficiente pra fazer uma quinta lista de filmes legais que vi no cinema (as anteriores eu publiquei no Facebook e compilei aqui):


Transmedia storytelling: stencil ao lado de um cinema que passa Riocorrente

* Riocorrente - Há uns meses, saquei uma coisa do ato de retratar no desenho ou na pintura: o retratista revela defeitos que o retratado sabe que tem (ou que acha que tem, pois só ele atribui como defeito), mas finge que ninguém mais pode ver. Pode ser uma pinta, uma papada, o formato do rosto. A fotografia, por sua natureza, digamos, realista, segue iludindo o retratado. Com a intermediação do filme, pode parecer que o tal defeito passou batido pelo fotógrafo (mas certamente não passou, lembre-se de que estamos falando apenas do delírio do retratado). Num desenho ou numa pintura, a mediação humana é evidente: alguém desenhou / pintou aquele defeito, portanto, viu.

Recuperei essa ideia porque Paulo Sacramento (O prisioneiro da grade de ferro) fez de Riocorrente um poderoso retrato de São Paulo. E é um retrato como um desenho, como uma pintura. Mesmo sendo filme. Sacramento escolhe mostrar o Tietê. E o cara pobre sufocado pela falta de alternativas. E o crack. E a arte escondida nos cemitérios. E o clima das manifestações. É um retrato que os moradores de São Paulo talvez não gostem de ver. Quem acha que a cidade é perfeita vai se incomodar. Como bem definiu meu amigo Marcos Carlini: é desconsertante.

* O lobo atrás da porta - Quando escrevi sobre Praia do futuro, falei dessa ideia de que eu cresci num país que ou só fazia "filme ruim" ou, mais tarde, simplesmente não fazia filmes. E disse que era muito incrível viver agora num país que tinha o Karim Aÿnouz. O que eu não sabia é que teria ainda Riocorrente e este O lobo atrás da porta em cartaz simultaneamente com Praia do Futuro. Que alegria imensa ver uma coisa dessas. Que momento!

O filme do Fernando Coimbra é, digamos, um thriller conjugal: a filhinha do casal é levada por uma estranha na saída da creche, e o mistério só será resolvido quando o delegado fuçar na relação deles. Digamos: de certa forma, é uma versão dark de Nelson Rodrigues.

* Que estranho chamar-se Federico - O grande Ettore Scola estava aposentado, mas interrompeu seu descanso para fazer uma homenagem a seu amigo Fellini. Há cenas com atores recontando a vida dos dois misturadas com desenhos e trechos de filmes. Acho que classificam como documentário, mas eu partiria pra uma nova definição: é uma memória. (Escrevi sobre pro Eh,Già!, mas ainda não saiu. Está aqui.)

Mr. May

* Uma vida comum - Não sei por que traduziram assim. Still life, o título original, quer dizer "natureza morta", e tem muito mais a ver com a história de Mr. May, um dedicado funcionário público londrino encarregado de cuidar da morte de pessoas que não têm ninguém. Até porque há umas naturezas mortas espalhadas ao longo de todo o longa. É um pequeno grande filme, de sair da sessão abalado. (Vou escrever sobre pro Eh,Già! também.)

Mengele e Wakolda
* O médico alemão - Vivendo escondido no sul da Argentina, o cientista nazista Mengele se encanta com uma argentininha chamada Wakolda, que tem problemas de crescimento. E começa a fazer experimentos com ela e com sua família. É uma espécie de Lolita com doses cavalares de demência.

* Amazônia eterna - Ainda não é o grande documentário sobre a Amazônia (que está pra ser lançado), e sim um documentário mais focado na economia sustentável da floresta, que parte da interessante ideia de que a melhor forma de preservá-la no mundo atual é fazendo com que ela renda dinheiro.

* Tim Lopes - Histórias de Arcanjo - Outro documentário. Mostra Bruno Quintella em busca do pai, o jornalista Tim Lopes. Acho que especialmente os jornalistas vão curtir.

* Junho - É o documentário da TV Folha. Eu até esperava menos: achei bem amarrado, sem se esquivar da covardia da própria Folha em condenar os protestos e abrir espaço pra PM trucidar há um ano. O maior problema do filme está fora dele: parece que nós é que esquecemos de junho do ano passado.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Exposições para levar / recomendar a estrangeiros

Já vi acontecer algumas vezes: um estrangeiro chega ao Brasil, e aí o paulistano, cheio de orgulho, leva-o ao Masp.
Nada contra o Masp, pelo contrário. Vou sempre. Mas o Masp é um museu muito calcado em coleções europeias e norte-americanas. É tímido pra quem tem um Metropolitan, um Louvre ou um Prado por perto. O turista é cordial, fica feliz pela atenção, agradece.
Claro que estou generalizando, e há turistas que não são de cidades grandes e outros que são de países que não têm um Masp e nunca puderam ir a um museu etc. Ou tem um cara que é fanático por Renoir ou Van Gogh ou Turner (exemplo: hipoteticamente, eu iria no Masp, sim). Mas enfim: de forma geral, há opções que me parecem mais interessantes pra levar um turista, ou mesmo pra recomendar. Até porque, em época de Copa, um turista não tem tempo nem disposição de ir a muitos museus.
Separei algumas exposições que vi em São Paulo como sugestões:
foto roubada do site do mam
* A vontade construtiva na coleção Fadel, no MAM-SP - Essa eu acho a mais legal. Tem modernistas, tem concretistas, neoconcretistas, formalistas. Ninguém concorda com ninguém. A briga por quem trouxe realmente o modernismo pro Brasil é travada ali a tapa, a chute, com dedo no olho. Não tem tudo, mas tem tudo o que precisa pra entender a dinâmica da arte no Brasil no século passado. Mas provavelmente você vai precisar dar uma ajudinha.
* Transarquitetônica, de Henrique Oliveira + Vânia Mignone + acervo, no MAC-USP (no prédio em que era o Detran) - Acho que esse trabalho do Henrique Oliveira rende bastante pra um estrangeiro. A pintura da Vânia Mignone eu curto demais. E o acervo tá com coisas boas, como o Hudinilson Jr., Leon Ferrari, Volpi... Eu já tinha ido no novo MAC duas vezes (e mais uma em que tava faltando luz), mas agora tem mais andares preenchidos, e tá bem interessante. Mesmo pra quem mora em SP, tá merecendo uma visita atenta.

Boltanski, foto roubada por mim mesmo
* Boltanski 19 924 458 +/-, de Christian Boltanski, no Sesc Pompeia - É a mais paulistana de todas (e já ia me esquecendo dela). Num dos galpões da Lina, prédios feitos com caixas, mais sons e rios não deixam dúvida: o artista recriou São Paulo.

* Um trágico nos trópicos, de Iberê Camargo, no CCBB - Esse eu tinha até esquecido, mas a Lili lembrou nos comentários. Eu, meio como todo mundo de Porto Alegre, é meio habituado a ver muito Iberê com frequência. É incrível ver Iberê fora de lá: ao ver as pessoas fascinadas, nos lembramos do nosso próprio fascínio perdido.

Selfie roubadíssima no Miguel Rio Branco
* Teoria da cor, de Miguel Rio Branco, na Estação Pinacoteca - Miguel nasceu na Espanha, mas é brasileiro. É um imenso fotógrafo. Esta exposição é uma retrospectiva que parte do seu uso de cores. Tem obras antigas, outras mais novas, algumas que estão no pavilhão dedicado a ele em Inhotim. Aproveite e já emende com o acervo da Estação Pinacoteca e com o da própria Pinacoteca (e de uma olhadinha no Grupo Zero, que já estando lá não custa).
E mais:
* Se o cara tá em Porto Alegre, tem umas dicas aqui.
* Se ele vai pra BH, tem Inhotim.
* Indicando sem ter visto: Richard Serra no IMS do Rio, com a casa modernista totalmente recuperada pra abrigar os desenhos do Serra.
* Em São Paulo, ainda vai abrir a exposição dOsgemeos.

Se quiser deixar dicas, os comentários tão aí pra isso.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Cinco exposições em Porto Alegre

Post que escrevi no Facebook há duas semanas. Dentro do possível, atualizei pro blog, mas não mexi muito, pra ficar como registro.

Amigos de Porto Alegre eventualmente reclamam que as coisas de que falo aqui nem sempre servem, que vários filmes que comento nunca estreiam nos cinemas de lá, que não é fácil vir pra São Paulo toda hora. Pois vou aproveitar que Porto Alegre está com uma agenda de exposições absolutamente incrível pra compensar as reclamações.

Jailton Moreira, Rotação
1) Percevejo, de Jailton Moreira, no glorioso Museu do Trabalho
Vou começar pela mais complicada, porque, pra resumir, gosto demais do Jailton e sou muito grato a ele por coisas que vão de orientações a respeito de Ticianos do começo da carreira em um refeitório de uma igreja em Padova até dicas de sabores de tramezzini. E aí eu poderia dizer "descontem", mas nesse caso não vale. O Jailton é um cara que usa o mundo como atelier, então me parece que tanto os Ticianos quanto os tramezzini fazem parte desse processo de criação, que depois é editado (uma palavra bem feliz que surgiu num debate sobre a exposição que rolou sábado. Eu não sei como definir e, na verdade, não tenho o menor interesse em definir o que tem na exposição. Só quero dizer que é comovente.

2) O tamanho do mundo, de Vik Muniz (curadoria de Lígia Canongia), no Santander Cultural.
Eu gosto do Vik Muniz. É verdade que já tive mais entusiasmo com o trabalho dele. Hoje, me incomoda que, depois de entender a sacada, eu não tenha muito pra onde ir na obra. Deve ser a velhice. Mas ainda assim essa é uma grande exposição. Tem bastantes trabalhos novos - e me encanta especialmente a série de castelos de areia. E tem trabalhos antigos - entre eles, Cloud Cloud, primeiro trabalho de Muniz que conheci, em um programa de TV da época, e que continuo achando arrebatador.

3) Ensaio sobre a Dávida, de Nuno Ramos (curadoria de Alberto Tassinari), na Fundação Iberê Camargo

Dois filmes - Dádiva 1 - copod'águaporvioloncelo e Dádiva 2 - cavaloporPierrô - falam sobre a dádiva no sentido proposto por Marcel Mauss, em que as trocas ocorrem em um sistema sem valor monetário, e portanto trocar um copo d'água por um violoncelo ou um cavalo por um pierrô são atitudes absolutamente cabíveis. Achei bom demais. Bom demais mesmo.


Em tempo: as outras duas exposições que estão na Fundação valem muito a pena.


EXPOSIÇÕES QUE FECHARAM ANTES DE EU PUBLICAR ESTE TEXTO NO BLOG:

4) A força do tempo, de Ricardo Chaves, na Casa De Cultura Mario Quintana
O Kadão é editor de fotografia da Zero Hora. Trabalhei com ele lá. É um imenso fotógrafo: era certo que, se ele entrava no jogo, a foto seria um acontecimento. Ver esse trabalho reunido é bastante impressionante. Por conta da qualidade do seu trabalho no fotojornalismo, Kadão estava nos lugares que importavam. E, às vezes, em ocasiões ainda mais especiais, fez os lugares em que estava se tornarem importantes.

5) Território da Folha - Paisagens de Teresa Poester (curadoria de Eduardo Veras), no MACRS (que fica na CCMQ)
O Edu Veras também trabalhou comigo na ZH. Se trabalhar numa redação é legal pelas pessoas em volta, o Edu era uma das pessoas que fazia o trabalho valer a pena. Nos encontramos por acaso na exposição do Jailton, e ele me contou que tinha feito essa curadoria da Teresa Poester pro MAC. Só trabalhos com paisagens, de várias fases, de muitos anos. Corri pra ver. Eu não lembrava direito do trabalho da Teresa, tinha mais uma lembrança meio amorfa. Desta vez, os trabalhos bateram com uma força imensa. Ainda vou ver o que vai sair daí.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Filmes no Netflix

Já faz uns meses que eu fiz uma pequena lista de filmes não-óbvios para se ver no Netflix. Era uma seleção bem simples, mas rendeu bastante. Até hoje, me pedem mais. Mas é aquilo: uma lista dessas só funciona se torna possível depois que se vê bastantes filmes, então leva um tempo pra renovar o estoque de assunto. Até porque a ideia não é recomendar O lobo de Wall Street – é óbvio que é pra ver, não preciso dizer isso pra ninguém. Mas acho que agora tenho um conjunto interessante:

* Dear Mr. Watterson - Bill Watterson, criador de Calvin & Haroldo, é um cartunista recluso. Sempre evitou imprensa. Queria que seu trabalho falasse por si. Este documentário persegue Watterson respeitosamente, indo atrás das informações públicas a respeito dele, sem nunca abordá-lo. (Este ano, Watterson saiu um pouco da toca. Entre outras coisas, deu uma entrevista em áudio pro documentário Stripped. Mas, na boa, Dear Mr. Watterson é melhor.)

* Good Ol'Freda - Freda foi a secretária dos Beatles (e coordenadora do fã-clube) ao longo de toda a carreira da banda. Neste documentário, essa mulher que é uma figura abre seu coração pela primeira vez. É um barato.

* A Thirsty World - Falta água no mundo, não só na Cantareira. Este documentário é sobre isso. Tem muita coisa que eu não sabia. Por exemplo, em 2008, acabou a água de Barcelona.



* Interior. Leather Bar. - Diz a lenda que o filme Cruising, aqui conhecido como Parceiros da Noite, teve 40 minutos de cenas de sexo sadomasô gay cortadas entre sua estreia no Festival de Berlim e sua estreia comercial. James Franco, quem mais?, resolve refilmar esses devassos 40 minutos perdidos em um documentário maravilhoso. Sinceramente? Eu programaria pra ver com uma sessão dupla de Cruising – que não tem no Netflix, mas tem num DVD da Lume.

* Habemus Papam - Uma hora dessas tenho que escrever sobre esse filme do Nanni Moretti pro Eh,Già!. Mas, com um papa como esse picareta do Francisco pagando de diretor de marketing do Vaticano, melhor nem esperar pra ver.



* Carlos - É uma série de TV baseada em fatos reais (mas não muito, porque os fatos disponíveis eram poucos e obscuros) com apenas três episódios sobre um terrorista venezuelano que atacou a OPEP em plenos anos 70. Os três são dirigidos pelo Olivier Assayas (do maravilhoso Depois de Maio). É uma das melhores coisas já produzidas pra TV. É um dos melhores filmes do Netflix. Não tem nada melhor nesta lista.

* Sleeping Beauty - Uma mocinha bonita é paga pra dormir sedada na companhia de homens. Filme adorável. Passou meio batido nos cinemas aqui.

* Terms and conditions may apply - Um documentário fascinante sobre os contratos de uso de sites como o Google e o Facebook (onde esta lista está hospedada) e o quanto nós abrimos nossos dados até mesmo à NSA ao aceitá-los.

* Blackfish - Documentário sobre maltratos a orcas no Sea World – e as mortes de humanos que são decorrentes desses maltratos.

* Tales of the Night - Animação linda, linda, linda. Pra quem tem criança e espera que elas vejam algo decente. Ou pra quem quer ver um filme lindo.

terça-feira, 3 de junho de 2014

No cinema (1 a 4)

Na época do Oscar, comecei a fazer uns comentários de filmes no Facebook. De tempos em tempos, faço uma lista de uns filmes bons que vi no cinema. Mas no Facebook as coisas de perdem. Resolvi trazer também pra cá. Nesta primeira vez, a lista tá editada, arrumadinha em ordem alfabética, com link pra comprar o DVD quando tiver... Ainda tem uns cacos deixadas pelo passar do tempo, mas enfim, vai ficar assim.

Tenho achado que o Facebook é legal pra postar esses textinhos porque rola uma discussão que não tenho mais esperança que rolem nos comentários do blog. Então, se alguém quiser acompanhar e comentar lá, tá liberado. Não precisa ser amigo, é só seguir.


***




12 anos de escravidão - Eu gosto demais do Steve McQueen desde que ele fazia ~videoarte~.

A grande beleza - Jep Gambardella é o melhor guia de Roma, e ficamos por isso por enquanto. Escrevi sobre o filme mais demoradamente aqui.

Alemão - Acho que 75% do filme é filmado num caixote. Não deve ter custado caro, mas nem dá pra notar. É aquele tipo com potencial de blockbuster que é decente o suficiente pra você torcer pra que dê certo. E deu sorte / azar de a situação estar difícil de novo no Alemão.

Amante à domicílio - Woody Allen é um gigolô, John Turturro faz michê, meio que não tem como dar errado. E não dá.

Azul é a cor mais quente - Acho bem bonito, e tem uma fofura de Sessão da Tarde.


Blue Jasmine - Cito a Mari Messias, que nem lembra que falou isso: "Eu e o Woody All velho nos damos muito bem".

Caçadores de Obras-Primas - Divertido demais, especialmente se você se importa com o destino de obras-primas durante a guerra.


Capitão América 2 - O Soldado Invernal - Tentaram me dizer que era tipo um filme de espionagem dos anos 70. Fui achando que veria o Tinker Tailor Soldier Spy da Marvel. Não é nada disso. Mas é um filminho de super-heróis divertido. Tem lá suas bobagens. Tá longe até de ser o melhor do gênero (Batman - O Retorno segue imbatível), mas é dos melhores dessa leva da Marvel, e merece uma mençãozinha.

Godzilla - Muita gente adorou. Mais que isso: pessoas com quem eu tenho afinidade pra gosto pra filme adoraram. Eu achei que tem seu charme. É bacana a coisa toda estar ligada a esse zeitgeist Fukushima. Tem a Juliette Binoche sendo incrível. Por isso que eu ponho aqui. Mas aquele lance de o rapaz coincidentemente estar sempre perto dos monstros é forçado demais. Estraga tudo. Dava pra resolver de um milhão de jeitos, mas ficou esse aí, meio chinfrim.

Gloria - Sobre essa mulher de uns 50 anos que vive a vida, não cai no papel de velha, e que é uma realidade cada vez mais comum.





Heli - A violência no México rendeu um filme que, no ano passado, deu a Amat Escalante o prêmio de melhor diretor em Cannes. Mostra a confusão entre polícia e narcotráfico, no sentido de que com um Estado fraco essas fronteiras se confundem. É uma história pesada, claro. Que se passa no México, mas deixa uma impressão de que pode estar acontecendo agora mesmo aqui em São Paulo, no Rio ou em qualquer periferia de grande cidade.

Hoje eu quero voltar sozinho - Na contramão de tudo, correndo o risco de ser achincalhado, eu pego no pé de alguns filmes rotulados de "gays" que acabam sendo comédias românticas ou melodramas ruins, mas que, por terem personagens gays, ganham automaticamente ganham um verniz de revolucionárias. Tá cheio de filme assim. Mas Hoje eu quero voltar sozinho, ainda bem, não tem nada a ver com esses filmes aí. Mesmo que seja uma comédia romântica adolescente, ou talvez porque seja uma bela comédia romântica adolescente. Num mundo melhor que o nosso, faria da Sessão da Tarde uma festa. Todo o auê em torno do filme está justificado.




Hotel Mekong - Demorou, mas chegou. O novo filme do Apichatpong Weerasethakul tinha passado no Festival do Rio de 2012 e eu nem tinha mais esperanças que entrasse em cartaz por aqui. Mas entrou. E é maravilhoso. Talvez seja o filme mais incrível em cartaz.

Os personagens estão nesse hotel na beira do rio Mekong, que está passando por uma enchente grande, devastadora. O governo está tentando remediar, mas é meio patético (todo governo é meio patético). Tem o fantasma de Pob, que come tripas. E tem a música de Chai Bathana, toda no violão, uma trilha linda que percorre quase todo o filme, acho que tem só uma interrupçãozinha.

O filme segue o tempo da enchente, e isso me emocionou bastante: a enchente é real, e o tempo de duração das filmagens é o tempo em que o rio esteve cheio. Só consigo imaginar o que é restringir o tempo de filmagens ao tempo de uma inundação.

(Como única ressalva, fiquei meio traumatizado por ter recomendado o Apichatpong anterior, Tio Boonmee. Muita gente adorou, mas alguns amigos acharam terrivelmente chato e nunca vão me perdoar pela indicação.)


Inside Llewyn Davis - Esse é um dos filmes que justifica esta lista: não sei se as pessoas estão se dando conta que estão perdendo um filme desses.





Instinto Materno - Resolvi escrever hoje porque esse é um filme que está quase saindo de cartaz, e merece muito ser visto. Trata-se do romeno que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim no ano passado. Passou batido. Desde a semana passada, vem sobrevivendo em sessões esparsas e esquisitíssimas em alguns dias da semana em alguns Cinemarks menos cotados. Ao menos em São Paulo. É a história de um rapaz rico que atropela e mata um menino pobre, e especialmente da mãe do rapaz, uma dondoca que vai fazer de tudo para proteger seu filho, mesmo que isso signifique comprar a família do menino morto. Um petardo. Simples e profundamente original.

Jackie - Não sei se ainda tá passando nos cinemas ainda. De São Paulo, saiu. Mas é um filminho holandês divertido, leve e surpreendente sobre duas irmãs holandesas que vão em busca da americana que serviu de barriga de aluguel pros pais gays. Chegam lá e encontram uma hippie loucona que mora num trailer e está toda zuada. E partem com ela por uma viagem pelo deserto.

Marina - É uma cinebiografia do cantor Rocco Granta, que fez sucesso com músicas italianas na Bélgica. Eu tenho pé atrás com biografias, mas fui ver e achei bem decente. Escrevi sobre ele aqui.

Nebraska - Aquele lance coxinha no Hawaii que foi Os descendentes me tirou toda a vontade de ver outro filme do Payne. Mas ainda bem que fui.

Ninfomaníaca v. 1 e v. 2 - O 2 é mais extremo que o 1. E acho que o conjunto pode mudar a percepção que parte do público tem a respeito de Von Trier. Mas eu queria mesmo é que o sucesso dos dois justificasse a exibição da versão hardcore de cinco horas.


Noé - O filme só é fiel à Bíblia na visão de Aronofsky. Por exemplo: a Bíblia diz que existiam gigantes na Terra; Aronofsky nos dá anjos transformers deformados de pedra. A Bíblia diz que Deus falou com Noé; o filme mostra Noé como um fanático religioso que tem alucinações psicotrópicas e delírios darwinistas. Muita gente não gosta, mas Aronofsky é um maneirista, e eu curti demais. Inclusive peço que me ajudem: vocês também ficaram com a impressão de que o Aronofsky usou as distorções da conversão em 3D pra distorcer o próprio Noé na medida em que ele vai ficando mais loucão?



O Congresso Futurista - Uns anos atrás, Ari Folman fez algum sucesso com a animação Valsa com Bashir. Pois bem: O Congresso Futurista é muito mais legal. É sobre o fim do cinema, sobre envelhecimento, tecnologia. Uma parte do filme é com atores. Outra, com animação. Acho que é um daqueles filmes que a gente fica falando deles pra sempre, mesmo que não se dê muita bola agora.

O Grande Mestre - Esse eu vi na Mostra, mas acabou estreando só agora. O filme conta a história de Yip Man, popularmente conhecido como ~ o mestre de Bruce Lee ~. Não é o primeiro filme sobre ele. Tem até uma série chamada Yip Man que é divertida. Mas esse novo é do Wong Kar-Wai, que pesa um pouco a mão (ou era eu que já tava com o peso da Mostra?), mas acaba fazendo um belo filme. Em tempo: mal entrou em cartaz e já tá saindo. Se liguem.

O Lobo de Wall Street - Scorsese transloucado. E isso é bom. (PS: tá no Netflix.)



Os filhos do padre - Uma comédia croata impagável. Decidido que contracepção é pecado, um padre bola um plano de furar todas as camisinhas da cidade e devolver a fertilização às mãos de Deus.

Pelo malo - De partir o coração: na Venezuela, um menino pobre de marré deci tem, digamos, questões de gênero: uma queda pelo rapaz que trabalha na vendinha, vontade de alisar cabelo... A mãe acha um horror, quer que ele seja machinho, faz horrores pra não ter um filho gay. A avó delira: ajuda a alisar o cabelo, estimula a ser artista. Só desgraça.

Philomena - Bem bom! Como que a Judi Dench pode melhorar cada vez mais?

Praia do Futuro - Eu cresci num país que ~só fazia filme ruim~ (era o que eu ouvia nos tempos da Embrafilme, mesmo que hoje eu saiba que não era bem assim). Aí teve o Collor, que andam tentando redimir por aí como presidente, mas que simplesmente matou o cinema brasileiro. Depois disso tudo, ter um cara como o Karim Aïnuoz fazendo filme aqui é um acontecimento, é uma evolução brutal em pouquíssimos anos.

Então, na boa: que preguiça da polêmica toda. Que discussão rasa que tá rolando. O filme nem mesmo tem como foco esse relacionamento gay do Wagner Moura com o alemão. É sobre outras coisas, sobre família, sobre distância e, nesse sentido, tem muito mais a ver com outras coisas que o próprio Karim Aïnouz fez, inclusive o Viajo porque preciso, volto porque te amo (que é o título mais lindo do cinema brasileiro). É um filme gigante de um diretor gigante.

Rio 2 - Não tenho uma relação muito boa com animações feitas por computador. Mas achei Rio 2 incrivelmente colorido, principalmente nas cenas musicais. Por mim, podiam deixar de lado a historinha das araras e focar só nos clipes alucinantes.

Vidas ao Vento - O Harold Bloom tem um livro em que compila e analisa os últimos poemas de poetas, e fala sobre morte e uma certa sensibilidade para a morte que os poetas acabam desenvolvendo. Vidas ao Vento foi anunciado como o último de Hayao Miyazaki, e, a partir da leitura de Bloom, me parece que ele sabe que vai morrer.

***

Depois desses filmes, tenho sido perseguido por filmes meia boca. E esses eu ignoro. Essas listas são mais pra guiar quem quer ver filme bom do que pra resenhar.