segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Excelentíssima Sra. Governadora Yeda Crusius

Eu não moro no Rio Grande do Sul há mais de dois anos. Mas visitei o estado neste fim de semana, por umas 36 horas. Fiquei bem impressionado, admito. E não é um impressionado bonito, pra cima. É que as pessoas estão desmotivadas e exaustas. Elas não agüentam mais.

E digo mais: dos muito pobres aos muito ricos, não achei ninguém que defendesse o seu governo. E ouvi muita gente capaz de listar os problemas do estado, mas ninguém consegue apontar a solução. Parece que o pessoal perdeu a esperança.

Porto Alegre é uma cidade igualzinha ao que era quando saí daí. Não tem obras, não muda, parou no tempo. Só mudou o desânimo geral, que aumentou. Até aquele orgulho de ser gaúcho, sentimento que me irritava bastante, confesso, parece estar abalado.

Sei que a culpa não é só sua. Que a senhora é herdeira de outros incompetentes, de diversos partidos. Que a crise é mais antiga. Acredito até que a senhora esteja se mexendo para mudar isso.

Mas a notícia que tenho é ruim: não está dando certo.

Sinto muito, mas pra mim é claro que a senhora e sua equipe precisam se esforçar mais.

Ou, no mínimo, que parem de atrapalhar.

Falo isso porque vi, recentemente, dois bons amigos envolvidos em desgastantes matérias de jornal que me pareceram desnecessárias.

A primeira foi a Vera Callegaro, que a senhora conhece melhor do que eu, mas por quem, graças a uma velha amizade entre nossas famílias, tenho bastante carinho. Mas, apesar de saber que a senhora, e não ela, estava errada, deixo que vocês, velhas amigas que são, possam se acertar.

Foi um erro seu, coisa que faz parte da vida política.

Mas o que foi feito com o Luis Paulo Faccioli não tem explicação. Não só com ele, por sinal, mas com a cultura gaúcha inteira. Fazer chacrinha no Conselho Estadual de Cultura é amadorismo, governadora.

E mais: é coisa dos seus adversários políticos, a corja escarlate, vide as tentativas do Ministro Hélio Costa em mexer com a Anatel. A senhora, que estuda essas coisas, sabe melhor do que eu: pega mal meter a mão onde a autonomia se instaurou.

Conheço muito pouco a secretária de Cultura, Mônica Leal, filha do saudoso Pedro Américo, lembro apenas que foi minha colega na faculdade de comunicação e soube que foi uma bem votada candidata ao senado. Como estou fora há muito tempo, nem tenho como avaliar suas qualificações. Mas acho que vocês deveriam conversar um pouco. Pelo jeito, parece que o seu governo está apenas brincando com a pasta da Cultura, que exige muita seriedade.

Governadora, a senhora está com a faca e o queijo na mão: quem tirar o Rio Grande do Sul da lama vai governá-lo por muito tempo. É uma oportunidade única. Seja esperta como a senhora sempre foi: não jogue fora o que tem na mão.

Atenciosamente,

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Larry Rohter, sentiremos saudades (2)

Na real, não sentiremos saudades de Larry Rohter, o ex-correspondente do New York Times no Brasil. Ele continua por aqui, como contou na belíssima entrevista que o Estadão deu no domingo passado, mas eu me esqueci de avisar. A leitura é indispensável.

Mais que isso: não vejo a hora de o livro sair.

domingo, 19 de agosto de 2007

Freeganistas: a matéria do Observer

"Marks & Spencer's policy - if it is a policy - of leaving open access
to the bins gets a thumbs-up from the freegans. At other supermarkets in this
city they've found the food has had rotten milk, blue dye or even bleach poured
over it. Sainsbury's compact all the waste food before binning it, while Tesco
keep their bins locked until the rubbish trucks come. The freegans had only two
complaints about Marks & Spencer. One is about the grotesque amount of
packaging - virtually nothing is sold loose, it seems. The lunch I cooked did
generate a fully stuffed carrier bag full of plastic and polythene. The other
concerns all the packets of peeled and sliced fruit and veg that turn up in the
bin - 'They do it for lazy lunchtime customers, and it's gone off by evening.
It's very annoying.'"

Bela matéria, senhoras e senhores. Belíssima matéria. Invejável.

Alex Renton mata a pau e inclui até uma relação da política para detritos dos principais supermercados ingleses.

sábado, 18 de agosto de 2007

VMB 2007

Fui fazer o ritual anual do jabaculê e votar nos amigos que concorrem ao VMB. É algo que faço sempre, e invariavelmente o critério de voto é eu achar que os amigos são bacanas e merecem o voto, mais do que um artista desconhecido qualquer.

E por "amigo", por favor, entendam que isso inclui até os moleques que iam me levar releases na redação e diziam "boa tarde" educadamente. Ou ser amigo de amigo de amigo.

(Nem adianta me xingar: se a MTV quisesse idoneidade na eleição, deveria apelar para outro sistema político. A democracia, como todos sabemos, é falha.)

Fiquei bem surpreso: agora que a MTV não passa mais clipes, não se vota mais em clipes, a não ser na categoria de clipe do ano. O que dá mais ou menos na mesma, porque dificilmente o público votante conseguia distingüir o conceito de "melhor clipe" de "artista com mais fãs".

Os clipes saíram porque foram da TV pro Youtube (ou, supostamente, pro MTV Overdrive). E então o VMB premia o hit internético do ano. Isso é bem comum, mas tem cara de que rende pauta para eventuais interessados.

Mas o que mais me surpreende é a categoria Hit do Ano, em que se escolhe a melhor das sete-melhores: eu poderia jurar que nunca ouvi nenhum deles.

Freeganistas: você ainda vai ouvir falar deles

Os freeganistas vão, ironicamente, provocar uma gastança de papel incomensurável nas próximas semanas. É que amanhã eles serão destaque no Observer. E o jornal inglês é um pauteiro danado de bom para a imprensa mundial. Se ele fala, pode ter certeza de que até a imprensa brasileira vai tratar do assunto uma hora dessas.

Cá entre nós, é bom ficar de olho nos freegans (há uma definição bem precisa aqui). A idéia tende a colar porque não soa tão estranha para os nossos dias. Se, de um lado, tem gente que não muda seus hábitos de jeito maneira, do outro tem até celebridades como o Al Gore e o Bono Vox dizendo que o caminho é por aí.

Os freegans radicalizam (com uma pitada ideológica) uma idéia que está no meio de nós, que aparece na TV, que o taxista comenta com a gente. E que, em sua exacerbação, acaba virando bandeira.

Mas é inegável que algumas de suas ações são mais que bem-vindas: transformar terrenos baldios em hortas, caminhar e recuperar coisas desperdiçadas são coisas simples que todos nós podíamos implantar no nosso cotidiano.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Desconfiômetro ligado, coração tranqüilo



Tá rolando um stress por causa da nova campanha do Estadão, cujo polêmico filme está aí em cima.

Tudo porque, na cabeça dos blogueiros, trata-se de uma campanha anti-blog, em que o jornalão estaria detratando todas as conquistas e vitórias digitais dos últimos anos.

O que, naturalmente, é uma bobagem.

Na minha cabeça, tá mais pra velha história da carapuça que veste bem. A campanha fala evidentemente do 99% de lixo que é a internet. Nem a agência nem o jornal me parecem capazes de acreditar que blogs são feitos por habilidosos macacos copistas.

Fiquei surpreso com o espanto generalizado. Surpreso mesmo, porque eu, com esse meu imenso coração sincero, esperava mais das cabeças digitais pensantes. Parece até que algo ali mexeu com a culpa de quem anda postando bobagem por aí -- e daí o fenômeno foi contaminando os outros.

E digo isso na boa, porque até então eu tava achando a campanha superbacana. Até porque, pra mim, a carapuça serviu: não vejo por que alguém beberia um dos vinhos recomendados na tag etílica aí ao lado. Eu não entendo lhufas de vinho. É óbvio que o caderno Paladar tem muito mais moral pra falar sobre vinhos do que eu.

Mas o jogo viraria, por exemplo, se eu fizesse um blog de quadrinhos. Eu daria um banho no Estadão, e também digo isso na boa, sem querer ofender ninguém. O fato é que, ainda que eu tivesse uma coluna sobre quadrinhos no Estadão, o meu suposto blog seria melhor que a coluna, por conta de tamanho e da maleabilidade de um blog.

O Universo HQ, por exemplo, dá um banho na cobertura de quadrinhos de qualquer jornal do país. E olha que tem uns jornalistas de HQ bons por aí.

Mas, se eu gosto de quadrinhos, o Estadão é um puta jornal para eu me informar sobre política, economia, informática e culinária. Não são assuntos que eu acompanho com voracidade, então, ele supre as minhas necessidades superbem. Verdade seja dita: o Estadão é, de fato, o melhor generalista de informação nacional diária do mercado.

Quando o Estadão mostra o macaco, ele solta um alerta: "Amigo leitor, tome cuidado com o senhor que lê por aí". E vende seu peixe: "Se porventura quiser uma informação mais confiável, eu tenho aqui". Quando separa informação boa da ruim, fica claro que ele conquista uns leitores. Mas, mais que isso, põe uma pulga atrás da orelha do leitor. Liga o desconfiômetro.

E, afinal de contas, ler qualquer coisa com o desconfiômetro ligado é, desde sempre, pré-requisito para a vida civilizada. Algo de que ninguém deveria ter medo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Bergman por Allen., Antonioni por Scorsese

Fazer jornalismo em Nova York deve ser foda. É só ver o New York Times de hoje.

O Woody Allen ("Can one’s work be influenced by Groucho Marx and Ingmar Bergman?") escreveu sobre o Bergman: "I have joked about art being the intellectual’s Catholicism, that is, a wishful belief in an afterlife. Better than to live on in the hearts and minds of the public is to live on in one’s apartment, is how I put it. And certainly Bergman’s movies will live on and will be viewed at museums and on TV and sold on DVDs, but knowing him, this was meager compensation, and I am sure he would have been only too glad to barter each one of his films for an additional year of life."

E, como se já não bastasse, meio que só pela petulância, o Scorsese escreve sobre o Antonioni.

Outro dia, eu comentei com alguém que moraria em Londres, ainda que não houvesse nenhuma outra vantagem, só por causa da estética intrínseca da estratégia varejista do Tesco e do mapa do metrô. Mas ainda é capaz de eu me mudar pra Nova York só pelo New York Times, sem dar muita bola pro Whole Foods e pro Vino Vino.

domingo, 12 de agosto de 2007

Murais em Bagdá

Estão pintando uns painéis bacaníssimos em Bagdá. Aliás: Diego Rivera pra caralho, se vocês querem saber.

Libelomuralismo, War Street Art ou seja lá o que for, é impactante, é comovente e é a primeira notícia que leio desde que a guerra começou que me dá um sinal sincero de que tem esperança de essa joça acabar bem.

E, ainda por cima, achei mais um argumento irrefutável pra esfregar na cara de quem diz que arte é inútil (o que é completamente diferente de dizer que arte tem que ser útil, vejam só).

Google Phone & AdSense

Não vi, mas me contaram: o Google Phone não é um boato. E tudo indica que será lançado no Brasil.

A propósito, o Google cancelou minha conta no AdSense. Não tenho a menor lembrança de que tenha feito algo errado, mas os algoritmos deles juram que fiz. O e-mail deles diz que posso recorrer, mas não estou muito a fim.

E vou soar velho agora, mas enfim: debater com um discurso criado por um conceito ainda está longe de ser uma idéia que eu aceito com naturalidade.

Preparem-se: antes disso, eu já vinha confabulando posts a respeito de Google e privacidade. Serão vários, e muito divertidos.

Cof cof

Quanto pó, hein?

Bem, eu fui até ali, mas já voltei.

Deixem-me aproveitar este post para sugerir que os leitores vejam também minhas resenhas publicadas na atualização desta sexta do Universo HQ: Batman 53, 54, 55 e 56, Grandes Astros: Superman 7, O Estranho Mundo de Jack (tá nas bancas e é um mangazinho bacana pra quem é fã do filme, por sinal), Os Melhores do Mundo 1 e Sete Soldados da Vitória 4.