terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cinco trechos de The perks of being a wallflower



Era pra ser um livrinho bobo pra adolescentes. Uma amiga diz que eu deveria ter lido aos 22. Eu acho que deveria ter lido aos 16. Talvez seja isso mesmo. Mas, pra mim, The perks of being a wallflower, de Stephen Chbosky, foi uma bomba H. Devastadora. Um golpe baixíssimo. Saí perturbado. Do livro e, depois, do filme, que é de onde saiu a imagem deste post.

Selecionei cinco citações pra compartilhar neste post. Pra mim, elas fizeram todo o sentido do mundo:

"Charlie, we accept the love we think we deserve."

"To tell you the truth, I love Sam. It’s not a movie kind of love either. I just look at her sometimes, and I think she is the prettiest and nicest person in the whole world."

"Nobody can be as big as the Beatles because the Beatles already gave it a 'context.' The reason they were so big is that they had no one to compare themselves with, so the sky was the limit."

"It’s just that I don’t want to be somebody’s crush. If somebody likes me, I want them to like the real me, not what they think I am."

"So, I guess we are who we are for a lot of reasons. And maybe we’ll never know most of them. But even if we don’t have the power to choose where we come from, we can still choose where we go from there. We can still do things. And we can try to feel okay about them."

***

Em tempo: o livro, traduzido como As vantagens de ser invisível, saiu em português há uns anos pela Rocco.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Envelhecer

"I find it a lousy deal. There is no advantage getting older. You don’t get smarter, you don’t get wiser, you don’t get more mellow, you don’t get more kindly, nothing good happens. Your back hurts more, you get more indigestion, your eyesight isn’t as good, you need a hearing aid. It’s a bad business getting old and I would advise you not to do it if you can avoid it. It doesn’t have a romantic quality."


Woody Allen, aqui.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cinthya e o café

Café

as xícaras são carícias
(e as pernas — tremores)

só me reconheço
com pouco.

O poema é da Cinthya Verri e está no seu livro Constantina, que tem lançamento em São Paulo no sábado, 28, na Livraria da Vila.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

domingo, 17 de junho de 2012

Love and be loved, if you ever get the chance

"‘What are you going to do with your life?’ In one way or another it seemed that people had been asking her this forever; teachers, her parents, friends at three in the morning, but the question had never seemed this pressing and still she was no nearer an answer. The future rose up ahead of her, a succession of empty days, each more daunting and unknowable than the one before her. How would she ever fill them all? She began walking again, south towards The Mound. ‘Live each day as if it’s your last’, that was the conventional advice, but really, who had the energy for that? What if it rained or you felt a bit glandy? It just wasn’t practical. Better by far to simply try and be good and courageous and bold and to make a difference. Not change the world exactly, but the bit around you. Go out there with your passion and your electric typewriter and work hard at … something. Change lives through art maybe. Cherish your friends, stay true to your principles, live passionately and fully and well. Experience new things. Love and be loved, if you ever get the chance."

David Nicholls, no epicentro das lágrimas de One Day.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cracolândia

A Cracolândia é um problemão, óbvio. Mas ela fica um problemão ainda maior quando a gente não entende e não faz esforço pra entender. A Fernanda Eda Paz Leite fez esse esforço, aprofundou o debate e transformou em um documentário curtinho, que dura menos de meia hora.

Aprendi um monte.



(tks, Sérgio Amadeu, que mandou o link no Twitter)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Tippoo Sultan's Incredible White-Man-Eating Tiger Toy-Machine!!!

O nome do livro é esse mesmo, inclusive com as exclamações: Tippoo Sultan's Incredible White-Man-Eating Tiger Toy-Machine!!! Daljit Nagra é uma revelação recente da poesia inglesa. Esse é seu segundo livro, e o primeiro já bastou para colocá-lo no primeiro time da poesia britânica contemporânea. E é justo: que belo poeta que é.

Encontrei-o por acaso, nem tenho por que me gabar. Estava numa livraria em Londres e fui até a seção de poesia. Porque é aquilo: é muito difícil achar poesia britânica contemporânea no Brasil. Nem Ann Carol Duffy foi traduzida, o que me parece bastante bizarro. Então tem que aproveitar as viagens pra futricar um pouco. E foi numa dessas que vi a capa do livro de Nagra:



Lembro que pensei assim: "Com uma capa dessas, o cara tem que ser ou muito ruim ou muito ousado". E aí o fato de estar uma livraria fez diferença. Um dos livreiros tinha escrito um daqueles bilhetinhos em que contam por que gostam do livro, e o rapaz parecia bem entusiasmado.

Levei, trouxe, comecei a ler e, bem, cá estou contaminado pelo mesmo entusiasmo.

Transcrevi dois poemas do livro, com a esperança de contaminar vocês também, e quiçá um editor brasileiro a fim de traduzi-lo:




The Monsoon Song of Raja Narcissus

all the girls say they love me
all their mums say i'm lovely
ever since i lived in the clouds

ever since you left
i've been raining on the road
where you frist said you loved me




Tippoo Sultan's Incredible White-Man-Eating Tiger Toy-Machine!!!

To flesh a career

in poems you rifle

through your stash

of coolly imperial

diction. Dying

to blood that hoard

swotted since foreign

kid of the class

who chewed the fat

of the raw meat minty

tongue that English

is

nowadays your wrought

state. You're awfully

scary once in your

stripes! You claw

at the mirror – overcome

by the camps of history!

Thus

when that top-hat sahib

screams, O God

your eyes are ablaze

observing themselves

in the cull you're

no longer mankind

once you're the Sher

of Punjaaab on the wallahs of the

rrrrraaaaaaaaaaaajjj!!!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O amor segundo Hitchcock

Hitchcock fala sobre amor.

A cena está aos 20 minutos de Rich and Strange, um dos primeiros filmes sonoros de Hitchcock. É de 1931. Está longe de ser um dos melhores. Mesmo a essas alturas, o diretor já tinha feito coisa melhor (The lodger, especialmente). Mas a história do casal Hill tem sua graça. Se quiser, tem todo aí, de graça:



Pois então: a cena começa no 20º minuto. Antes dela, o Sr. Hill pegou a herança do tio adiantada e saiu a viajar pelo mundo com sua mulher. É um novo rico, um emergente. Viaja deslumbrado e atrapalhado. É até caricatural.

Em Marselha, o sr. e a sra. Hill pegam um navio rumo ao Oriente. Enquanto o marido está mareado, a sra. Hill (Joan Barry) se encanta com o comandante, um certo sr. Gordon (Percy Marmont). Na cena em questão, os dois estão conversando.

Traduzi, ~adaptei~ e grifei o diálogo dos dois (uau, me deem uma medalha). É Hitchcock falando sobre amor. Tá aí abaixo.




O comandante Gordon começa:

- Você é uma delícia. Eu podia ficar ouvindo você a tarde inteira.

- Você está me ~zoando~...
- Não tou. Mesmo.
- Eu fiquei pensando que tava porque na real eu acho meio difícil falar com as pessoas.
- Jura?
- É, mas não com você. Eu acho mais fácil que falar com meu marido. Cê sabe...
- Olha... Quer dizer, desculpa.
- Bem...
- Não quis interromper. Continue...
- Eu queria dizer que tem uma coisa que eu não conseguia entender. Mas agora eu acho que sei por que isso rola.
- Por quê?
- Você é só um cara, não é o meu marido. Se você me achar mala, é só levantar e ir embora. Não faz diferença.
- Bem, mas faz. E muito.
- Você já amou, sr. Gordon?
- Não posso dizer que tenha amado.
- É uma pena, porque vai ser difícil pra você entender. Veja bem: eu amo Fred, e ele me ama. E naturalmente eu quero que ele pense bem de mim.
- Sei...
- Quando falo com ele, não quero dizer nada que soe idiota. Ele é muito inteligente.
- Mas eu não sou?
- Não. Você é interessante e divertido. E você gosta das coisas de que eu gosto, mas isso não é lá muito difícil, né?
- Não, não é.
- Então: não acho que seja inteligente.
- Acho que não sou mesmo. É muita sorte que não estejamos apaixonados.
- Né?
- O amor é um troço muito difícil, Sr. Gordon. Você ficaria surpreso.Faz com que tudo seja difícil e perigoso. Não acho que o amor faça as pessoas ficarem corajosas, como os livros dizem.
Ele as deixa tímidas. Deixa as pessoas mais felizes quando estão felizes e mais tristes quando estão tristes. Tudo é multiplicado por dois: a doença, a morte, o futuro... Tudo significa mais. Acho que não fui muito clara.
- Você foi, mas...
- O amor é uma coisa maravilhosa, Sr. Gordon.
- É...
- Esse tipo de amor que você descreve deve ser. Acho que terei que prová-lo.
- Claro, você foi feito pra isso. Mas escolha a mulher certa. Seria um crime desperdiçá-lo.
- Sra. Hill, você me daria uma resposta direta pra uma pergunta direta?
- Claro.
- Você tá me tirando?

***

Estou num projeto pessoal sem prazo de ver todos os filmes do Hitchcock na ordem ao mesmo tempo em que vou lendo o Hitchcock Truffaut, que é o livro monumental em que Truffaut entrevista Hitchcock. Fala filme a filme, discute detalhes - e dá uma guinada na forma como ele é visto pela crítica americana.

Ainda não sei o que vou fazer com isso. Nem se vou fazer algo com isso. Até cogito uma série de posts mais estruturados, mas sei lá. Por enquanto, estou tomando notas. Aos poucos, compartilho mais algumas coisas aqui.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Seja lá o que você queira...

A primeira vez que eu ouvi falar do Derek Sivers foi quando assisti ao seu TED Talk, uns anos atrás.


Veja bem: eu já tinha visto um bom punhado de TED Talks, e acabei vendo outro punhado desde então. Mesmo assim, a palestra dele segue sendo a minha favorita. Ela dura apenas cinco minutos, é direta, fala de um tema muito contemporâneo e inverte a lógica natural do nosso pensamento. Acho genial. Mesmo.

Aí umas semanas atrás eu tava andando por aí e vi que o mesmo Derek Sivers tinha lançado um livro: Anything you want. O resumo dizia que o livro ia falar sobre a empresa que ele fundou, a CD Baby, uma distribuidora de CDs independentes, e falar um pouco de negócios. Podia ser uma cilada. Mas era o Derek Sivers, o mesmo cara do melhor TED Talk de todos os tempos, e tava barato. Eu tinha que dar uma chance.

Pois é.

Anything you want é bem legal.

Naquelas: se você acha que um bom livro é só uma novela latino-americana ou uma antologia de poemas russos, não vai ser a sua praia. É um livro de negócios. Sobre um cara que transformou um hobby em um negócio de uma forma bacana, e esse negócio se tornou uma imensa loja de CDs independentes.

O livro não tem clichês do mundo dos negócios. Não tem gráficos de pizza. Tem poucos números. Tem algumas fórmulas mágicas, mas elas são bem razoáveis e decentes. É curtinho.

Deu vontade de compartilhar, porque eu vejo muita gente boa aí tentando vender seu trabalho bacana de uma forma velha e quadrada. São escritores, quadrinistas, músicos, artistas em geral, e mais cozinheiros, doceiros... Muita gente muito criativa na hora de produzir suas obras, e muito, muito, muito careta na hora de pôr à venda. Acho que todo mundo conhece gente assim: na hora de criar, é um Pollock, um Joyce; quando vai ao mercado, veste as roupas de um vendedor de enciclopédia.

O livro do Sivers não dá um único caminho, mas mostra que você pode achar a sua forma de vender alguma coisa. Pode ser inspirador, pode servir.

Se ajudar alguém, tá ótimo pra mim.

domingo, 8 de abril de 2012

Três histórias de índio


(1) Xingu

O filme Xingu, de Cao Hamburguer, está nos cinemas. É sobre os irmãos Villas-Boas e a criação do Parque Nacional do Xingu. Bem bom pra uma cinebiografia. Gostoso de ver. Dentro do possível, os índios ficam em suas terras, mantém sua cultura, se protegem da nossa civilização. De novo: dentro do possível.



(2) Escalpo

A HQ Escalpo, de Jason Aaron e R.M. Guéra, é publicada da revista Vertigo. É um dos melhores quadrinhos que a DC Comics publica hoje em dia. Se passa dos Estados Unidos. Os índios têm uma reserva, mas vivem principalmente da exploração do cassino que instalaram nela e de produtos correlatos - sexo, drogas e crime organizado de maneira geral. Há agentes do FBI infiltrados. Gente corrupta. Até prova o contrário: ninguém presta.


(3) Habitante irreal

O romance Habitante irreal, de Paulo Scott, foi publicado no ano passado. Começa com um estudante de Direito que encontra uma índia na beira da estrada no interior do Rio Grande do Sul. O garoto se envolve com a índia, tenta ajudá-la, não quero ir além pra não estragar nada, mas o livro retrata aquela miséria em que vivem os índios brasileiros, ainda mais os urbanos, que vivem em reservas que pouco ou nada são mais que favelas com uma língua à parte.

(Falei um pouco mais de Habitante irreal outro dia.)

***

Pensando alto: a questão indígena

A gente chama de a "questão indígena". Tudo que é complexo demais a gente junta numa caixinha chamada "a questão". Tem questão racial. A das cotas. A dos homossexuais. A fundiária. A das drogas. É até bom pra diferenciar o que é fácil de fazer do que exige debate. No Brasil, não há uma "questão dos impostos", por exemplo. Não há nada a discutir, apenas a reduzir.

Mas dá pra reduzir com ficção? Dá pra fazer um romance sobre a reforma fiscal?

Habitante irreal mostra que Xingu mostra só uma parte do problema? Ou Xingu aponta um caminho para EscalpoXingu é um paraíso artificial que nos redime pelos índios de Escalpo e Habitante irreal? O final de Xingu alivia? E o final de Habitante irreal gera culpa? Escalpo, que ainda não chegou ao final, deve acabar como? Por que eu posso misturar índios americanos e brasileiros se as realidades são distintas? (As realidades são distintas?) Deveria haver um cassino no Xingu? E na aldeia de Maína, de Habitante irreal?

Pro que é questão de fato, dê-lhe debate. E ficção. Ou não.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Freud e uma dificuldade da psicanálise


Sem controle sobre seu inconsciente, Dr. Freud virou dedoche

Uma dificuldade da psicanálise é um texto curto, de umas dez páginas. Nele, Freud enumera as três rasteiras que a ciência deu no que ele chama de “narcisismo geral”, ou “amor-próprio da humanidade”.

A primeira: Copérnico prova que a Terra não é o centro do universo.

A segunda: Darwin mostra que não somos o centro da criação. (Em sua explicação, Freud diz que a humanidade criou um abismo entre ela e os animais, o que faz especial sentido quando vemos hoje em dia como lidamos com a natureza.)

A terceira: a própria psicanálise, que, ao reconhecer o inconsciente, chega dizendo que o homem não é nem mesmo senhor de si mesmo. Como se já não bastasse ter perdido o posto de ser o centro do universo e da vida...

Em dado momento, Freud cria um depoimento imaginário da psicanálise para o Eu*. É de chorar de tanta belezura. A lucidez de Freud a respeito da psicanálise que ele mesmo desenvolveu nos anos anteriores é de uma lucidez avassaladora. Simplesmente não temos controle do inconsciente, mesmo quando achamos que temos.

Separei dois trechos:

“Você superestimou sua força, ao crer que podia fazer o que quisesse com seus instintos sexuais, sem considerar minimamente as intenções deles. Então eles se rebelaram e tomaram seus próprios obscuros caminhos, a fim de escapar à repressão, e criaram seus próprios direitos, de uma maneira que você não pode aprovar. Como realizaram isso e que vias percorreram você não pode saber; apenas chegou ao seu conhecimento o resultado desse trabalho, o sintoma que você percebe como sofrimento. Você não o reconhece como derivado de seus próprios instintos rejeitados, e não sabe que ele é a satisfação que os substitui.”

Mais tarde, a psicanálise encerra sua fala:

“Volte-se para si, para as profundezas, conheça antes a si mesmo; então compreenderá por que tem de ficar doente, e conseguirá talvez não ficar doente.”

***

* O “Eu” é o que era o “ego” na tradução consagrada. A tradução de Paulo César de Souza altera a nomenclatura.

***

Aos poucos, bem aos poucos, vou lendo as obras completas do Freud que a Companhia das Letras começou a editar no ano passado, com tradução de Paulo César de Souza. Ainda estou na metade do meu primeiro volume, e o 14º da coleção. O volume abre com um caso clínico memorável, O Homem dos Lobos. Aí vai pra Além do princípio do prazer, que não me animou tanto. E aí chegou a essa dificuldade da psicanálise.

Vou devagar com a leitura. Freud me faz ter sonhos incríveis, mas muito desgastantes. Só prossigo se posso me dar ao luxo de uma manhã mais perturbada. Sugestão, inconsciente, como saber?

(Aliás, posso apostar que hoje vai ser uma noite daquelas.)

domingo, 25 de março de 2012

Habitante Irreal, de Paulo Scott



Habitante Irreal estava na minha pilha fazia uns dois meses, coisa assim. Gosto do Scott. Bom sujeito, bom escritor. Via muita gente elogiando. Lia os comentários por alto, eu queria ler e não me contaminar. Via textos falando sobre a importância do livro, sobre o papel de tratar sobre "a causa indígena". Comecei a ter medo de achar chato. De ter uma tese política. De que Scott tivesse se perdido nesses anos todos de contato mais rarefeito.
Ainda bem que li.
Não é nada disso.
Um punhado de páginas passou voando, e eu já tava vidrado na índia Maína. Que personagem imenso. Uma noite, me peguei lendo, tomando notas e rabiscando. Saiu esse desenho aí em cima.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O gosto do cloro

O gosto do cloro, de Bastien Vivès, é uma HQ sobre natação e amor.

Como uma piscina, é silenciosa e elegante.

***

Lendo, me lembrei da cena de Somewhere que já vi, sem exagero, dezenas de vezes: a da piscina do Chateau Marmont, com I'll try anything once como fundo. Não achei a cena, mas o vídeo abaixo tem alguns cortes e a música.




***

Dá pra ler o comecinho de O gosto do cloro, bem como a orelha do Paulo Scott, aqui:

Escritos em verbal de ave

"Queria que um passarinho 
escolhesse minha voz
para seus cantos."

Que livro bonito - e bonito de uma forma tão ampla - é Escritos em verbal de ave, de Manoel de Barros.

domingo, 18 de março de 2012

10 razões pra odiar Pina 3D

Win Wenders e Angela Merkel na estreia do filme, no Festival de Berlim


1. É cafona. Se fosse um diretor menos aclamado no circuito cult colocando cortininha e plateia pra emoldurar um filme velho, seria execrado. Mas é Win Wenders, que parece que pode tudo.

2. Pior ainda é a bailarina miniaturizada. Ou a Pina gigante e espectral em 3D no palco. Não sei qual das duas parece mais o holograma da Princesa Leia.

3. Óbvio que as coreografias da Pina Bausch são excelentes. Óbvio. Ficariam melhor sem Wenders.

4. Wenders quer ser cerebral. Aí faz um filme racional pra falar de emoção. Tédio sem fim.

5. Toca Leãozinho.

6. Os depoimentos dos bailarinos são o fim. Pina reduzida a um livro de auto-ajuda. 

7. Não me dou bem com os filmes do Win Wenders. Não rola. Me deixa.

8. Win Wenders não deveria desperdiçar seu tempo fazendo novos filmes. Deveria passar o tempo inteiro fotogrando.

9. Hugo foi o que Pina fica tentando ser: o primeiro filme em 3D excepcional.

10. Saber que o simples fato de eu não gostar vai redundar em horas de explicação do porquê de eu não ter gostado.

***

Duas coisas legais


1. Ver o túnel abandonado com imagens d'Osgêmeos em 3D. Mas isso, tou dizendo, já tinha aparecido na fotografia de Win Wenders.

2. O incauto que apresenta a Dança do Tamanduá Africano pra Pina - e em seguida ver que ela incorporou os passos numa coreografia.

Tochtli, a culpa por isso tudo que está aí e o que me impressionou no vídeo Kony 2012

Várias capas de Festa no Covil. Roubei do site do Villalobos


"Se jogam uma bomba atômica em você, os sabres não servem pra nada."

Gosto dessa frase que o Juan Pablo Villalobos escreve mais pro fim de seu Festa no Covil. De certa forma, esse romance curtinho que a Companhia das Letras lançou há umas semanas pode ser definido por ela. Porque o livro fala sobre (e é narrado por) esse menino, Tochtli, que vive isolado do mundo num cartel de narcotraficantes. Tão isolado que consegue contar quantas pessoas conhece (14). Filho de Yolcault, El Rey, não sabe exatamente por que vive isolado. Nem mesmo tem discernimento para entender o que se passa ali. É protegido. E se protege. Tipo o Mito da Caverna.

Tochtli é espertinho. Tem os sabres. Mas enfrenta uma bomba atômica, que é uma montanha de informações que ele desconhece. Ele nem sabe que vive no alto de um império de podridão etc. e tudo o mais que o narcotráfico é.

***

Os últimos dias foram corridos. Queria ter lido Festa no Covil em uma sentada, mas não deu. E olha que são menos de 100 páginas com uma fonte bastante razoável.

(Já volto pro Tochtli.)

Durante a semana, também não vi o Kony, aquele que todo mundo viu e que se tornou o vídeo que se viralizou mais rápido na história da internet. Só que o vídeo tem meia hora e, desculpa, é uma colagem de imagens com muitos clichês, não consegui me empolgar na primeira tentativa.

Assim:


Vi ontem.

Minha primeira reação foi "O Banksy fez isso". E não só pelo chapa Shepard Fairey, que aparece lá pelas tantas. Mas é que o autor parece alguém que entendeu o famoso "tudo isso que está aí". Banksystyle.

Aí fiquei pensando o que fez, até agora, 82 milhões de pessoas verem esse vídeo quase por inteiro (porque o Google só conta se você se aproxima do fim).

Ou melhor: o que motivou as primeiras mil ou dez mil pessoas a verem esse vídeo quase por inteiro. Porque, a partir de algum momento, a força do hype explica o fenômeno. Mas o que leva alguém que não é mais amigo do autor a dizer: "Ei, você TEM QUE ver esse vídeo" quando esse vídeo tem meia hora, é repetitivo, é em inglês, é uma colagem caseira de imagens e que, convenhamos, não é como a Susan Boyle, que você vê rapidinho, vê de novo, chama um amigo pra ver com você e, de repente, você mesmo, sozinho, percebe que foi responsável por uns dez views.

Raiva do ditador? Vontade de participar de um evento global? Desejo de ser um super-herói por um dia? Tentativa de mandar no governo? Culpa por não saber que existia um bandidão na África? Ou, somando tudo, uma forma de tentar lidar com a culpa que se sente pelo "tudo isso que está aí"?

(Na boa: adoro a ideia de prender Kony. Contudo, é a África. Um continente inteiro que é uma tragédia. Sudão. Nigéria. Líbia. Um continente inteiro que foi colonizado. E aí um rapaz americano. Enfim.)

***


Aí voltamos ao Tochtli. Que vive ao lado de um bandidão do narcotráfico mexicano. E, pelo que sabemos, o narcotráfico mexicano não é lá muito diferente de um Kony no quesito "atrocidades".

Tochtli não enxerga que seu mundo é estranho (pra nós) porque ele já nasceu imerso em todas as mentiras. Vive num mundo de fantasias, com samurais, hipopótamos anões, chapéus e palavras difíceis. Não pode sair (e aqui o poder é bem amplo). Não chega a ser muito diferente de quem tem um colar de diamantes e não sabe como a pedraria foi extraída de uma mina África.

Quer dizer: Tochtli não enxerga, mas há um subtexto que percorre o livro que indica que ele não quer ou não pode (porque não está pronto, porque tem limitações) enxergar.

Festa no Covil virou um sucesso editorial. Ganhou rapidamente edições em diversos países, e mais outros vão publicá-lo, o que não é exatamente comum para o primeiro romance de um autor latino-americano. Não é na mesma toada de Kony. Mas Festa no Covil também é um baita sucesso global.

Fiquei com a sensação de que Festa no Covil e Kony 2012 contam histórias muito parecidas sobre a tentativa de enxergar a origem do mal que está ao nosso redor.

***

Chegamos a um ponto em que tudo pode gerar culpa. Porque conseguimos enxergar a origem do mal.

A moça vai ficar noiva. Dez sudaneses morreram extraindo o diamante do anel da mina.

O cara resolve deixar de andar de carro pra pegar metrô. O sistema é hidroenergético, mas a eletricidade alagou hectares e hectares de mata pra ser gerada.

O rapaz compra um celular. Um chinês se matou.

O sujeito põe molho de tomate no cachorro-quente. Um agricultor do interior de São Paulo perdeu os braços porque precisou aplicar o agrotóxico sem proteção adequada.

Kony 2012 e Festa no Covil falam sobre essa consciência extrema que surgiu com a proliferação de abaixo-assinados, campanhas, notícias... A informação circula mais. Estamos todos conectados. Se tudo faz mal ao mundo, todos fazemos mal. Temos que lidar com o fato de que somos todos parte do bando de Yolcault, do exército de Kony ou do board da fábrica de celulares. É um inferno. Isso significa que não basta combater milicianos africanos com vídeos no Youtube. Para fugir do inferno, também temos que aceitar a nossa própria nocividade.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Moebius

Moebius morreu no sábado. Foi um monstro. E foi mais que um quadrinista. Tinha refletido bastante sobre seu trabalho havia uns dias. Um jornalista havia me procurado pra falar sobre Moebius, por conta dos novos álbuns, e eu acabei saindo do eixo dos quadrinhos e indo pro eixo da produção de imagens que marcaram uma época. Foi isso que acabei tratando no texto que, a pedido do Luiz Antonio Araújo, escrevi pra Zero Hora. Saiu hoje, no Segundo Caderno.

Dá pra clicar e ler a reprodução ampliada que eu peguei do iPad. Dá pra ler a íntegra, sem edição, abaixo.

No final, conto só aqui no blog umas coisas que não couberam no jornal.


Moebius é essencial

A notícia da morte de Moebius logo cedo, na manhã de sábado, estragou o dia de muitos leitores de histórias em quadrinhos. Justo. Afinal, foi com as HQs que o artista teve uma relação mais duradoura e prestigiada. Mas sua importância transcende obras como Incal: Moebius foi antes de tudo um poderosíssimo criador de imagens e uma dos artistas mais influentes da segunda metade do século passado.


O que fez de Moebius Moebius foi uma imensa capacidade de se relacionar com o que estava acontecendo ao seu redor. A contracultura, os hippies e os eventos do mês de maio de 1968 francês ainda estavam frescos quando adotou o nome Moebius definitivamente. Lado a lado com o já conhecido faroeste Blueberry (no qual assinava seu nome de batismo, Jean Giraud, e seguiu publicando até os anos 2000), passou a produzir quadrinhos de uma forma que nunca tinham sido vista antes. Misturou ficção científica com expansão da consciência. Criou mundos imaginários que até podem estar em galáxias distantes, mas mais parecem tirados de um livro sobre o inconsciente junguiano. E deu certo: Moebius se deu muito bem com o espírito de seu tempo. Materializou em desenhos o que havia de mais contemporâneo na mente de seus leitores.

Nas páginas da revista Métal Hurlant, da qual foi cofundador, não só ele, mas também Philippe Druillet, Enki Bilal e outros autores exploravam terrenos parecidos. A publicação tornou-se um marco. Ali, Moebius influenciava boa parte da ficção científica e da fantasia que seriam criadas dali pra frente. E também cavava espaço para lançar seus livros mais importantes: Incal, O Homem É Bom? e Garagem Hermética (este, veja só, influenciou até o nome de casa noturna porto-alegrense).

A força de suas imagens logo atraiu Hollywood. Moebius fez a concepção visual de dois filmes que ajudaram a definir a ficção científica nos anos 80: Alien – O 8º Passageiro e Tron. Colaborou em mais uma dezena de longas. Foi convidado para a equipe de Blade Runner, mas recusou. Mesmo assim, a Los Angeles futurista dos replicantes foi construída a partir de seus quadrinhos. Moebius é tão onipresente no clássico de Ridley Scott quanto o tema sonoro de Vangelis.

A verdade é que a influência de Moebius na cultura mundial é imensa, mas ainda precisa ser avaliada com consistência. Olhando daqui, já parece claro que defini-lo apenas como um quadrinista que fez grandes álbuns não parece dar conta de sua produção: os indícios o colocam lado a lado com David Bowie, Kraftwerk, Rem Koolhaas e outros criadores. Eles, como Moebius, ajudaram a moldar o imaginário das décadas de 1970 a 1980.

Enfim, de volta às livrarias

O leitor brasileiro que se sentir motivado a ler a obra de Moebius a partir da notícia de sua morte pode encontrar uma parte de seus trabalhos nas livrarias. Não é tudo, mas já quebra o galho. É que, nos últimos anos, os quadrinhos europeus ganharam mais atenção do mercado editorial brasileiro. A presença de Moebius nas prateleiras é um reflexo desse fenômeno.

Talvez seu trabalho mais famoso, Incal acaba de ser publicado em um volume chamado Incal Integral (Devir, 308 p.). O roteiro é do escritor e diretor de cinema Alejandro Jodorowsky. Na história, cheia de referências ao tarô, o detetive John Difool parte em busca de um artefato chamado o Incal. Outras séries ligadas a Incal também estão em catálogo, mas sem seu desenhista original.

Além de Incal, a editora Nemo está publicando obras de Moebius. Por enquanto, saíram dois álbuns: Arzach (56 p.) e Absoluten Calfeutrail & Outras Histórias (96 p.). São antologias de histórias curtas, menos conhecidas. Mas, ao contrário do Incal, tem roteiros de Moebius. A Nemo promete publicar outros volumes da coleção destinada ao autor este ano. Entre eles, duas obras essenciais: O Homem É Bom? e A Garagem Hermética.


***

E notas extras, só no blog...


Uns dois anos atrás, um amigo me falou que havia um cartunista francês mundialmente famoso morando em Pirassununga. Passaram-se uns dias até eu descobrir que o sujeito era, na verdade, Alain Voss, brasileiro que foi um grande colaborador da Métal Hurlant. Fui com entrevista marcada, mas só lá soube que ele não queria dar entrevista alguma. Conversamos a tarde toda, sobre assuntos variados. E aí ele me deu a sua versão para o afastamento de Moebius da revista.

Teria sido culpa de Jodorowsky, que, pra ele, afastou de vez Moebius da política, levando-o a um mergulho no misticismo. Outros sócios teriam se irritado com a presença constante de Jodô.

Eu, que tinha conhecido Jodô uns anos antes, e visto algumas pessoas se converterem à sua psicomagia diante de mim, não por que duvidar.

Jodô é um ator, um poeta e um sedutor. Cá entre nós, não sei se ele acredita na psicomagia enquanto magia. Mas tenho certeza de que ele acredita que funcione -- e que o mise en scène é essencial.

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Lembrei muito de Moebius numa exposição que não o cita diretamente: Postmodernism - Style and Subversion, 1970-1990, que o V&A apresentou até o começo deste ano. Moebius não estava, mas Blade Runner estava, bem como vários de seus contemporâneos. O campo do pós-modernismo (o do design, da arquitetura) me parece um bom começo pra um estudo sobre a influência Moebius. 

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Entre idas e vindas, entre noites viradas e colunas semanais, a Zero Hora foi minha casa por cinco anos. Já fazia uns cinco que não colaborava com nada. Foi bom voltar por um dia. Obrigado, Araújo, Tic, Claudia, Feix, Lari e todos os outros que eu nem sei que se envolveram.

domingo, 11 de março de 2012

Dia internacional (2)


Dia internacional do Skype.

Dia internacional do eu só queria ter você aqui ao meu lado.

Dia internacional do ar condicionado bem gelado.

Dia internacional do scanner.

Dia internacional da atriz Mila Kunis.

Dia internacional da ignorância enquanto benção.

Dia internacional do mascote paraolímpico.

Dia internacional do mascote olímpico.

Dia internacional do faça calor ou faça frio.

Dia internacional do tuiteiro progressista.

Dia internacional do blogueiro reaça.

Dia internacional da série Sopranos.

Dia internacional de começar a ler jornal pelo fim.

Dia internacional do unfollow é serventia da casa, me deixa.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Dia internacional

Dia internacional do orgulho de usar bandana.

Dia internacional de ficar falando sozinho.

Dia internacional de desencanar de tudo.

Dia internacional de dormir de conchinha.

Dia internacional de beber leite numa mamadeira depois de adulto só pra tentar descobrir o que tinha de tão gostoso naquela garrafa.

Dia internacional do footing na praça central pra achar namorado.

Dia internacional de não se meter na vida do outro.

Dia internacional de estar celebrando o gerúndio.

Dia internacional de passar a tarde lendo chic-lit embaixo do edredon.

Dia internacional de não fazer nada, só pra deitar e rolar com você. Com você.

Dia internacional de esperar a chuva passar pra pedir pizza, assim o motoqueiro não fica ensopado.

Dia internacional de não brigar com o operador de telemarketing, coitado, não tem culpa.

Dia internacional do amor incondicional.

Dia internacional dos dias internacionais.

Dia internacional daquele balanço a caminho do mar.

Dia internacional do beijo respeitoso na testa.

Dia internacional do cada um é o que quer ser.

Dia internacional do é o que tem pra hoje.

domingo, 4 de março de 2012

Carey Mulligan canta

Pra quem já viu Shame, filme sobre obsessão sexual de Steve McQueen.
Ou pra quem não se importa de ouvir antes a canção de uma cena memorável.
Aí vai:



De toda essa temporada de Oscar, Shame é o filme que eu mais queria ver. Queria muito. Steve McQueen é um diretor que me pegou faz tempo. Não com Hunger (também com o ator Michael Fassbender), mas com videoarte. Me dei conta de que esse era um artista que sempre me causava o mesmo efeito: se pegava o vídeo pela metade, sentava, esperava o final e -- via inteiro depois, do começo ao fim, sem sair. Atente que: no mundo da videoarte, as montagens equivocadas normalmente favorecem que se veja apenas fragmentos de filmes mais longos. Mas McQueen me prendia nos banquinhos sem encosto das galerias e bienais. Daí que não fiquei com medo de ver Shame numa sessão da meia-noite de um dia cheio de atividades. O efeito foi o mesmo: fiquei vidrado. E, quando acabou, queria ver de novo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Para saber mais: 1922 e Ho-ba-la-lá


Quando eu era moleque, lançaram a revista Superinteressante. Era bem mais científica do que hoje - embora fosse mais amigável que os livros escolares, a pegada pop só veio mais tarde. Lembro de ter passado horas tentando entender a Teoria da Relatividade que um pôster me prometia decifrar. Às vezes, achava que tinha conseguido, mas aí uma cãibra cerebral me levava de novo à estaca zero.

Uma das coisas que me chamava atenção na Super era uma box no final de cada matéria: Para saber mais, dizia, e vinha uma recomendação de livros que complementariam o tema. Supostamente, a matéria era tão interessante que provocaria a vontade de o leitor se aprofundar. Era só o primeiro passo.

Na minha fantasia, era assim que funcionava. Hoje, fico com a impressão de que é mais uma bibliografia consultada pra fazer a matéria. Talvez tenha sido sempre assim. Talvez nem seja assim. Vai saber...

Lembrei disso porque, por acaso, li duas reportagens que saíram em livro nos últimos tempos. 1922 - A semana que não terminou, de Marcos Augusto Gonçalves, e Ho-ba-la-lá - À procura de João Gilberto, de Marc Fischer. Acaso mesmo. 1922 acaba de sair. Ho-ba-la-lá eu levei pra praia não pra ler, mas pra dar de presente pra uma pessoa. Que não pode ir. E aí lá estava ele, dando sopa. Engatei.

A rigor, os dois livros não tem quase nada em comum. São, em vários aspectos, antagônicas. 1922 é uma reportagem clássica. É resultado de muita pesquisa, de algumas entrevistas. Tem uma nobreza: o autor e seus pesquisadores reviraram arquivos, lidaram com pó, confrontaram versões. É um esforço que aparece pro leitor. Ao menos, pra um leitor como eu, que perde em conhecimento sobre a Semana de Arte Moderna pra qualquer normalista.

Ho-ba-ba-lá surgiu como resultado de uma paixão: o alemão Marc Fischer tomou o fora de uma garota e se apaixonou por João Gilberto. Veio ao Brasil para ouvi-lo cantar Ho-ba-ba-lá. Arma uma busca maluca por um notório recluso. A investigação tem idas e vindas - e umas descobertas pelo caminho. Fischer fascina-se, a certa altura, a ideia (compartilhada por muita gente) de que João é um vampiro, e chega ao ponto de cobiçar dicas do casalzinho de Crepúsculo, que está filmando no Rio na época. O que 1922 tem de meticuloso, Fischer tem de turbulento: às vezes, sente-se lost in translation e deixa o leitor com a mesma dúvida. Azar. É obra de um apaixonado que aceita se perder, divagar e sonhar.

A comparação entre os dois livros, insisto, vem do acaso. Não quero forçar um elo entre duas obras que se conectam apenas pelo rótulo de livro-reportagem e por tratarem de temas canônicos da cultura brasileira. Mas, em mim, os dois livros criaram um efeito bom: o de querer saber mais.

Em uma reportagem sobre movimentos culturais brasileiros na Super, os dois livros poderiam constar dos boxes. Mas isso é o de menos. O que me encanta é que, de certa forma, os dois livros encerram-se com seus próprios boxes nos apêndices.

Acabei 1922 com uma vontade imensa de chafurdar na bibliografia em busca de mais informações sobre a Semana de Arte Moderna (e de ir na exposição da Tarsila no CCBB do Rio, ela que não participou da Semana, mas é modernista e antropofágica). Ho-ba-ba-lá me deu vontade de ouvir mais João imediatamente - eu estava no avião mas, por sorte, tinha dois álbuns no meu celular.

Não lembro se cheguei algum dia a ir atrás dos livros da Super. Mas agora me parece que esse é um bom critério para avaliar uma reportagem: que ela não seja autocontida, que seja instigante, que leve o leitor adiante.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Mira e o vazio



"Eu diria que a linha, na maioria das vezes, apenas estimula o vazio. Não estou certa que a palavra estimula esteja correta. Algo assim. De qualquer modo, o que importa na minha obra é o vazio, ativamente, o vazio."

Mira Schendel. Frase na parede da exposição Através, que está na Caixa Cultural da Praça da Sé, em São Paulo, até o dia 26. A foto foi tirada por mim na exposição.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Meu mantra para 2012


“Contrary to the belief of a small industry that has grown up around a supposed Mayan prophecy, the world won’t end in 2012. But at times it will feel as if it is about to.”

Daniel Franklin, no editorial da The Economist - The World in 2012