terça-feira, 22 de julho de 2008

Uns textos aí

A pedido do editor Cassius Medauar, escrevi recentemente dois textos para as publicações de quadrinhos da Pixel Media.

O primeiro é a introdução do álbum Planetary - Deixando o século 20, que compila histórias da elogiada série de Warren Ellis.

O outro acaba de chegar às bancas. Consta da nova edição da Pixel Magazine, e fala um pouco sobre o norte-americano Brian Azzarello como roteirista da série Hellblazer, protagonizada pelo mago inglês John Constantine.

Apesar de ter sido interpretado no cinema por Keanu Reaves uns anos atrás, e curiosamente retratado como um norte-americano, um dos principais traços de Constantine nos quadrinhos é sua natureza britânica. Isso fez com que, por muitos anos, seus autores fossem britânicos. Quando Azzarello assumiu, jogou-o nos Estados Unidos, e são essas as opções que comento.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Jovens na Metrópole

Os retratos mais óbvios de São Paulo são vários. A gente tropeça neles todos os dias, e os jornais e revistas são pródigos em reproduzi-los: restaurantes de primeira, Daslu, PCC, trânsito, helicópteros, trânsito de helicópteros...

Por isso que é uma beleza encontrar Jovens na Metrópole, livro organizado pelo José Guilherme Magnani e pela Bruna Mantese de Souza e produzido pelos integrantes do Nau - o Núcleo de Antropologia Urbana da USP.

É uma compilação de etnografias feita por estudantes, uns de graduação, outros já doutorandos, sobre a vida social dos jovens por esta coisa imensa em que a gente mora.

Eles estudam daquele comportamento coletivo que já foi chamado de "tribo". Hoje, se fala muito disso na internet, dos orkuts e myspaces. Toda semana surge nova empresa que se diz especializada em criar e invadir esses espaços, uma maluquice total. Eu não tenho muita paciência pra isso, juro. Conceitualmente, é bacana, mas a prática dessas comunidades virtuais acaba sendo um tanto quanto chata, principalmente porque elas costumam dar conta de uma única faceta, nem sempre muito verdadeira, de uma vida bem mais rica.

Enfim, enfim...

Já as etnografias do livro do Nau (ainda que irregulares, aviso!) me contaram coisas incríveis, coisas que eu nem imaginava, sobre esta cidade -- e coisas que estão aqui ao lado de casa.

Moro mais ou menos perto da Santo Amaro, que é uma avenida grande, larga, que corta a Zona Sul e é afamada por sua feiúra. E, quando se fala da feiúra da Santo Amaro, as pichações vêm logo depois dos fios de luz baixos e da calçada estreita. Mas o capítulo sobre pichações do livro muda o jogo: dá vida às palavras incompreensíveis, dá sentido (e movimento) ao ilegível e o que era feio passou a ser um combate de letras. Hoje, quando passo pela Santo Amaro e vejo as pichações, essa brigalhada de palavras faz mais sentido.

Também moro perto da Vila Olímpia, bairro de baladas mauricinhas. Fui nelas socialmente duas ou três vezes, mas outro texto do livro me decifrou um código importante que eu nunca notaria sozinho: quem é bacana desce o vidro do carro pra circular na Vila Olímpia. Porque isso favorece a interação. Mas eu sabia que o posto de gasolina da Faria Lima, o grandão ao lado do McDonald's, era um, digamos, point. Mas não sabia que existia uma Máfia do Posto, clientes que têm como privilégio isenção do rigoroso rodízio do estacionamento e até passagem secreta para sair.

Outro exemplo que me encantou foi o da sorveteria Soroko, uma casa comercial simples da rua Augusta que, a pedido da clientela straight-edge / vegan, criou uma linha de sorvetes sem leite. Vou lá.

Mais um: pelo texto, o relacionamento dos b-boys (dançarinos do rap da periferia) com os streeteiros (dançarinos de rap da colônia japonesa) dava um puta filme.

Dava pra eu ficar aqui listando as descobertas que fiz por um tempão. Mas eu não daria conta de passar todo meu fascínio com o troço, que fica por conta de o leitor enxergar neste texto bobo, visivelmente encantado, de quem gostou muito do que leu.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O pequeno Garcia



Este é o retrato do pequeno García, feito pelo mestre Bronzino, de Florença.

A postura e a sisudez do menino não são à toa: o pequeno García é um autêntico Médici. E desde pequeno, do berço. Faz do retrato um troço ainda mais perturbador.

Conheci o bebê Médici na exposição O retrato do Renascimento, que segue em cartaz no Museu do Prado, em Madri. Virou instantaneamente um dos meus quadros favoritos.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Leitura de férias: Pó de parede

Como eu ia dizendo, é complicado escrever sobre um livro sem tê-lo em mãos. E é o que me atrevo a fazer depois de deixar Pó de parede, da Carol Bensimon, na outra mala.

Conheço a Carol já faz uns anos, porque somos de Porto Alegre – e Porto Alegre permite que as pessoas se conheçam e saibam o suficiente um sobre o outro a ponto de simpatizar ou desprezar sem que sejam de fato pessoas que se encontram com regularidade. Acho que encontrei a Carol duas ou três vezes na vida, mas por um bom tempo pude acompanhar à distância o que ela andava fazendo.

Carol sempre foi um nome interessante, sempre andou bem acompanhada e, portanto, era certo que uma hora dessas viria um Pó de parede por aí.

Pó de parede é um livro de estréia – e isso não é nenhum problema. Suas três novelas curtas me deixaram a impressão de que ainda tateiam para encontrar uma sintonia fina entre si – e há um esforço visível e admirável nesse tatear, ele é consciente e eficaz. A Carol parece ter um caminho no mínimo mais ou menos tomado e não está se debatendo no escuro.

O resultado é que gosto muito das três histórias. Só fiquei com a impressão de que a menina da primeira história é madura demais pra idade dela em algumas passagens. Eu não era assim, mas meninas amadurecem antes. Sei lá se tanto, me digam vocês.

De qualquer forma, a última história é a melhor, disparado. Capitão Capivara é um personagem brilhante (desenhei vários num moleskine na hora), os bastidores do hotel viraram um cenário perfeito, tudo funciona bem demais. É por isso que, embora eu goste demais da opção maluca de desfecho, fiquei mais a fim de ler uma conclusão diferente em, talvez, uma história com mais páginas.

*

Pó de parede saiu pela Não Editora – eles não são uma editora, indica o cachimbo do Duchamp no logotipo. Mais de uma pessoa (tipo o Delfin) já os definiu dizendo que são a nova Livros do Mal – porto-alegrense, pequena e cheia de nomes interessantes.

Hm.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Leitura de férias: Como a picaretagem conquistou o mundo

Essas horas todas passadas em aeroportos, aviões e hotéis têm sido utilíssimas para ler – algo que a vida comum teima em tirar de mim.

Um dos livros que consegui, enfim, dar cabo é Como a picaretagem conquistou o mundo, um que estava prestes a ser largado sem que eu chegasse ao fim. Mas, num esforço derradeiro, voilá: cheguei ao fim.

Confesso que esperava, ao mesmo tempo, mais e menos de Francis Wheen. Explico: achei que o sujeito se dedicaria mais a essas picaretagens que a gente vê todo dia: ocultistas, numerólogos, marqueteiros baratos, profetas da internet e quejandos. Mas a verdade é que ele trata dessas patetices (que me interessavam demais) como parte de um fenômeno maior, que é a imensa quantidade de bobagens que são ditas até por gente séria (e que, por incrível que pareça, se acha séria). Gente que, por exemplo, sai por aí pregando que o iluminismo foi uma fraude que não serviu pra nada.

Pra quem, como eu, esperava um livro belicoso e rancoroso (e tiraria prazer disso), Wheen surpreende como um ensaísta arguto, denso, com um texto impecável e idéias sólidas como rocha.

*

Bem, não se pode ter tudo. Deixei o livro em casa antes de partir pra Madri, o que me impede de consultá-lo para fazer comentários mais espertos sem correr o risco de sair por aí falando bobagem. Desculpaí.