domingo, 25 de janeiro de 2015

No cinema (11)

Na minha cabeça, esta série de posts chamados No cinema serve para dar uns pitacos e ajudar amigos que querem ir ao cinema. Tanto que falo do que mais gosto, do que acho interessante de alguma forma. Faço de vez em quando, perco uns filmes pelo caminho. Inclusive perdi vários entre o último post e hoje. Alguns que não queria perder, como As aventuras do avião vermelho, feito por tantos queridos amigos, ou O ciúme, que considerei um acontecimento.

Ao mesmo tempo, foram dias mornos. Não tinha tanta coisa interessante acontecendo nas telas.

Retomo hoje, com um cenário bem diferente. Há filmes bons aos montes. Ao mesmo tempo, a temporada de Oscar está começando, e os cinemas, por tabela, lotando. Imagino que isso leve mais amigos aos cinemas. Aliás, amigos: se forem, vão logo, se atentem pras pré-estreias, evitem deixar pra quando o boca-a-boca do Oscar lotar demais as sessões...

Se ajudar, aí vai:




Grandes Olhos - Tim Burton foi o diretor que me ensinou na prática que existem diretores. Vi Beetlejuice quando saiu, no extindo Baltimore, em Porto Alegre. Pirei. Eu mal sabia que existiam diretores, mas entendi que queria ver tudo que fosse como Beetlejuice. Dois anos depois, veio o Batman, outro Beetlejuice, e entendo que deveria ver todos os filmes desse cara, o que efetivamente fiz. Segui fazendo isso a vida toda, e passei a procurar Beetlejuices de outras pessoas. Até hoje, eu e Tim Burton nos damos muito bem, a despeito de ele nem saber que eu existo. Vejo todos os filmes como se fossem novos Beetlejuices, e eles são. Tim Burton faz filmes pra mim, e naturalmente este filme novo não poderia ser sobre outro tema senão artes visuais. Não que eu concorde com tudo, mas eu converso sobre tudo que está ali. Especialmente a cena do supermercado. Depois disso tudo, acho que ficou claro: eu vejo os filmes de Tim Burton de uma forma muito especial, e não acho que todo mundo vá ter uma reação tão empolgada como a minha. Mas espero que mais alguém tenha, e não poderia não recomendar. E insistir.

Acima das Nuvens - Assayas talvez seja meu Tim Burton mais recente. Comecei a vê-lo há três ou quatro anos, já busquei filmes do passado. É um grande diretor. Leio por aqui que consideram um filme menor dele. Não vejo como poderia ser maior algo dessa magnitude. Assayas, Kristen Stewart e Juliette Binoche puxam nosso tapete a toda hora.

Até que a Sbórnia nos separe - É um desenho animado que é uma confluência de gênios e heróis. Nico, Hique, Otto Guerra, Guazzelli, Maia... É incrível não só que este filme exista, que tenha surgido mesmo em condições tão adversas, sobre as quais nem preciso versar, mas que também seja tão maravilhoso. Já tinha visto numa sessão improvisada no IED, e agora o vi em condições adequadas. Que imensa obra-prima.

O abutre - A imprensa diz que é sobre a imprensa, o que deve ser apenas uma questão de narcismo. A imprensa é só o cenário. É um grande filme sobre a patologia das corporações.

O crítico - Filme argentino que está passando meio batido. Mas é uma comédia romântica interessantíssima sobre um crítico que não aceita ser ele mesmo um clichê.



Depois da chuva - Vi na Mostra de 2013 e não achei que ainda ia estrear em circuito. É um filme ao mesmo tempo jovem e poderoso. É um filme que não foge do debate político, que fala de liberdade abertamente. Não acho que esteja atraindo muita gente, mas não sei de quem, tendo visto, não tenha gostado.

Homens, mulheres e filhos - Nas resenhas, atacam o diretor Jason Reitman. Acusam-no de luddista, dizem que não é mais hora de falar mal de internet. Esquecem que o filme abre com uma ode à tecnologia e aos grandes avanços da humanidade, com a Voyager. É um filme interessantíssimo sobre a forma como usamos a tecnologia. É sobre nós, os maluquinhos viciados em grupos de Whatsapp.

Ida - Pequena joia polonesa em P&B. Certamente o filme mais sutil e delicado em cartaz, e ainda assim cheio de escolhas corajosas.

As férias do pequeno Nicolau - Como seu antecessor, uma delícia de filme infantil. 

Leviatã - O que é esse Leviatã? Que grandioso. Tão distante de nós, por ser a Rússia, mas tão próximo. Poderia ganhar uma versão brasileira. No litoral paranaense, quem sabe? Nossos problemas são da mesma estirpe.

Livre - Achei que seria um embuste. Adorei. Vibrei. Saí do cinema a fim de dar a volta na Islândia a pé. Fiquei pensando em Cheryl Strayed por dias e dias. De vez em quando ela me volta.

O segredo das águas - Um dos filmes mais soturnos da Mostra do ano passado. Bem bom, com momentos memoráveis.

Whiplash - Adorei ver o filme. Vibrei. Me diverti horrores. Mas depois o filme foi se revelando um Karatê Kid com jazz, um Rocky cool. Mesma estrutura. Difamei o filme por todo canto. E então me dei conta, numa discussão meio torta com a Graziela, de que eu estava errado. Esses filmes todos eram sobre uma pessoa que precisa de autoconfiança. Whiplash não tem nada a ver com autoconfiança. É sobre trabalho duro mesmo. E isso é inédito. Enfim, não amei. It's not my tempo, mas tem algo nesse filme.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Diálogos recorrentes sobre cinema argentino

- Você viu Relatos Selvagens?
- Vi, gostei bastante.
- Você não amou?
- Não amei. Gostei, gostei bastante, mas acho que o filme tem uma certa preguiça em explorar esses impulsos selvagens. Ele só relata mesmo, mas fico com a sensação de que deveria expl...
- Mas então você não gostou?

*

- E o Darin! Você não ama o Darin?
- Amar, amar, não. É um otimo ator, mas...
- Por que você não gosta do Darin?

*

- O cinema argentino é o melhor do mundo, né?
- Eu não diria assim. Eu acho bom, mas...
- Mas quem faz cinema como eles? 
- Sei lá, esses filmes argentinos que estouram seguem bem a cartilha americana. Não que não sejam bons, são, mas...
- Imagina! Os americanos só fazem filme de ação! O Brasil tinha que parar de fazer porcaria e olhar pro cinema argentino. Quem é que faz cinema como eles, hein? Tu não me respondeu... Diz um lugar que faça cinema melhor que a Argentina! Só um. 
- Pernambuco.