quarta-feira, 26 de novembro de 2008

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Em Milão

A história que vou contar aconteceu com uma garota, mas me parece, desde a primeira vez em que ouvi, que ficaria melhor com um rapaz como protagonista. Um rapaz gay. Contudo, devo fidelidade a quem me contou, e é por isso que peço imaginação ao leitor para que altere o sexo durante a leitura. Obrigado e adeus,

Evandro, em seu último minuto de vida.

***

Tiro o dedo do nariz, coço a orelha com o minguinho e penso:

"Preciso vomitar aquele mondongo."

Depois de uma declaração dessas, não sou a leitoa nordestina pobre e remelenta que você imaginou. Sou modelo, e das boas. Meu agente diz que vou ser uma übermodel aos 18. Faltam menos de dois anos, portanto, para meu primeiro milhão. Vomito porque sou anoréxica. Já tentei tratar com Romodoxedrina, uma droga experimental em que fiquei viciada. Eu fico viciada em qualquer porra química do mundo. Como mondongo porque aqui em Milão é chique comer essas merdas brasileiras. Meu pai é filósofo e diz que que a humanidade está indo pra barbárie. Eu penso num homenzarrão que me puxa pelos cabelos. Me excito mais pensando no homenzarrão que trepando com franceses. Vomitei na boca de um francês outro dia e ele se apaixonou. A gente estava se beijando e aconteceu. Ele ficou todo preocupado e, quando percebi, estava dengoso. No outro dia, queria andar de mãozinha enquanto eu sonhava com um tabefe na cara -- um tabefe pesado, autoritário, repressor (não vingativo, porque vingança pressupõe afeto). De manhã, mandou flores e um anel Jacques Laver de dois milhões de franco. Cora, uma fracassada de vinte e dois anos que se vangloria de uma daquelas Louis Vuitton de bagaceira, diz que Vadin é herdeiro de um terço dos diamantes que ainda estão na África. Tudo que Cora conseguiu na vida (mas não nas passarelas) foi a bolsa e um amplo conhecimento a respeito de herdeiros franceses. Os herdeiros franceses ricos gostam muito de modelos, que consideram agradáveis intermediárias entre as putas, que são meramente profissionais, e as suas riquíssimas iguais, bem menos esforçadas em agradar seus paus amolecidos pela cocaína do que nós, as vadiazinhas da Semana de Moda de Paris.

Passei a desprezar o ziliardário e apaixonado Jacques, mas fiquei feliz com as flores. Há dois anos, em minha primeira visita a Paris, me contaram que as flores de lá eram cultivadas com corantes na água e agrotóxicos por tudo. O perfume que exala das pétalas quando queimadas chega a ser uma droga estonteante e baixa. Cora não entendeu por que fugi de um partido tão cobiçado, mas me consolou a seu modo:

-- Roger, se você quiser eu apresento, tem metade das minas de diamantes e uma rede de telecomunicações na América Latina. Mas já aviso que o pau é ainda menor.

Olho para Carlo ao meu lado e cogito vomitar o mondongo na cara dele. Pra ver a reação. Melhor não. Vai que ele se apaixona. Carlo não tem nenhuma mina de diamantes. Só uma rede de restaurantes. Rede regional que só tem aqui, em Portugal e na Espanha. Em dois anos, vou ser mais rica que ele. Só com meu corpo. Coço meu pé direito com o dedão do pé esquerdo. Seria uma boa se Carlo se tornasse traficante. Do jeito que cheira, sairia mais barato. E ele ainda poderia usar seus insuspeitos caminhões frigoríficos azuis para transportar quilos e quilos de pó todos os dias. Mas Carlo é babaca, sem ambição. Está feliz com o que tem. Feliz não! Enjoativamente satisfeito com seu primeiro milhão, em parte porque acha que está me comendo por causa da grana e da Ferrari, quando na real ele só era o último coitado com um papelote no bar. Felicidade é só o nome que se dá pra fuga dos problemas.

Como lá no Rio, em que Juan quis porque quis conhecer uma favela. O Juan era gostoso, rico, artista de cinema e muito generoso na repartição de pó, então eu naturalmente cedia mais pra ele. Armei que a faxineira desdentada da minha agente nos recebesse em seu casebre à beira de um valão cloacal. Perguntei quanto custaria um churrasco bem alegre e farto.

-- Pro pessoal lá em casa a gente gastou cinqüenta e sete. Saiu até pagode. Mas como vai a senhora e o seu Juan acho melhor gastar um tantinho mais.

-- Quanto?

-- Uns oitenta.

Dei pra pobre coitada quatrocentos reais. O Juan me deixara mil, do qual descontei minha porcentagem de sessenta porcento. Na época, eu era uma modelinho em ascenção. Ainda assim, foi suficiente pra aquela gente beber e cantar das onze da manhã até a uma da madrugada. Meu pai não acreditava em felicidade, mas minha mãe sim. E dizia que dinheiro não a compra, prova disso era que festa em casa de pobre sempre era uma alegria só.

Lembrei muito da minha mãe naquela noite, e percebi que ela estava errada: 1. o dinheiro, o dinheiro do Juan, por sinal, comprara aquela felicidade, sim; 2. Eles não estavam felizes, só anestesiados dos problemas.

Essa gente pobre, crente, encardida tinha que perceber de uma vez por todas que sua infelicidade e sua miséria é um desígnio -- se há um deus, ele nos quer infelizes, ou não teria nos dotado de lágrimas.

Enfim eu corro até o banheiro. No caminho, tropeço. Caio de cara no chão. Não sei se o sangue que sai do meu nariz é do tombo ou do pó. Sinto um vácuo abrir no meu peito, o vômito arranha minha garganta, resseca meus lábios e jorra sobre a roupa de Carlo. Então estico o braço, alcanço a garrafa de uísque, viro de guti-guti e então, só então, me sinto eu mesma.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Terça, duas da manhã

Antes de jogar, o boneco olhou pra mim e disse:

-- Normal não é legal.


Suicidal model

sábado, 9 de agosto de 2008

Resumo

Se o amigo não tem disposição pra ler o imenso post abaixo, que ao menos fique com a idéia central, assim resumida: vá ver Encarnação do demônio, o novo filme do Zé do Caixão.

Porque é espetacular.

É dublado, viu?

Aí eu tava com preguiça de ir até um cinema decente e teimei em ver Encarnação do demônio no Cinemark aqui perto de casa mesmo.

Claro que é estupidez. Cinemark é SEMPRE uma porcaria. E eu sabia disso.

Outro dia, fui, no intervalo do almoço, na primeira sessão do dia -- mas não tinha dado tempo de limparem a sala no intervalo de doze horas que separava a minha sessão da última do dia anterior. O chão estava coberto de pipoca. A sala cheirava a manteiga rançosa, e bem mais do que o habitual das salas da rede.

Mas aí eu cheguei na bilheteria:

-- Uma pra Encarnação do Demônio.

-- Inteira?

-- Inteira.

-- Pras treze e dez?

-- É.

-- É dublado, viu?

*


Aí eu dei graças a deus que estava no Cinemark. Se fosse em outro lugar, poderia estar numa sessão da Sociedade Italiana, por exemplo, antecipando a cópia que será exibida em Veneza.

Mas no Cinemark a gente sempre pode contar com o despreparo da equipe.

*


Por exemplo: vimos Quando os fracos não tem vez naquela mesma sala. Em fevereiro ou março, acho.

Com certeza é a mesma: uma bem pequena que eles guardam pra filmes a que o público deles não assiste

Na época, reclamei pro gerente que havia retângulos de luz que incidiam sobre a tela e atrapalhavam a imagem.

E o gerente ficou perplexo, achou um absurdo e disse que ia consertar imediatamente.

Hoje, passados tantos meses, os retângulos ainda estavam lá.

*


Aliás, a gente sempre pode contar com o público do Cinemark nos bons filmes. A catrefa de mascadores de pipoca simplesmente não entra nessas sessões.

Só tinha eu e mais outro sujeito na sala. E uma hora umas senhoras que cuidam da limpeza apareceram para ver (e comentar) uma cena especialmente herege.

É uma pena. Pena mesmo. Tomara que a situação tenha sido melhor em outras salas.

*


Porque o filme do Mojica é demais, claro.

De muitas formas, fala sobre tudo isso que está aí em cima. Depois de 40 anos na prisão, o Zé do Caixão sai para um mundo em que ele não se encaixa. Ele é monstruoso, pervertido, doentio, mas o resto é bem pior. A banda podre da polícia, por exemplo. Ou as milícias da favela. Ou os ruminantes de pipoca.

*


Aproveitando: tem que ler o Prontuário 666, do Samuel Casal. Tem quê.

O Samuel fez uma puuuuuta HQ que serve de prelúdio ao filme. Que conversa com o longa do Mojica e com excelente documentário O prisioneiro da grade de ferro, que é do Paulo Sacramento, não por acaso o produtor de Encarnação do demônio.

*


A trilha do filme está no MySpace.

*


Pra acabar: nunca fui o cara mais próximo do Dennison Ramalho, que é o co-roteirista, diretor-assistente e, pelo que ouvi falar, faz-tudo do filme.

A Cléo de Paris eu não vejo há zilhões de anos. E é por causa dessas dissonâncias que São Paulo faz com a gente e a gente teima em aceitar.

Mas estou muito, muito feliz pelos dois.

Download da palestra do David Lynch

Psst
Perguntas sobre como foi a palestra do Lynch chegam tanto por aqui quanto pelo Flickr (pus umas fotos lá).

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

David Lynch em São Paulo

Primeiro foi a bagunça da fila, que começou a se formar cedo. Tinha gente tentando furar, acabou virando barraco, um horror.

Estava claro: os agora lendários 166 lugares do Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, não teriam como abrigar os centenas de seguidores de David Lynch.

Teve bate-boca, teve funcionário da livraria jogando a responsabilidade da organização para o público, teve gente que chegou cedo e ficou de fora em detrimento dos furões. Enfim, ficou um climão pesado.

Fora que tinha que chegar cedo, ficar na fila, uma chatice.

E teve o lado legal: o Lynch reuniu uma fauna de amigos que ia de artista chapecoenses a editores do Batman.

Mas, deixando tudo isso de lado, de repente:

David Lynch

David Lynch estava lá. Com seu topete Eraserhead. Falando sobre meditação. Dizendo que idéias são como peixes. E que, às vezes, assim como você se apaixona por um peixe, você acaba se apegando a uma idéia -- e é essa idéia, que não é necessariamente a maior ou a melhor, que vira a obra.

(Pra mim, que já tinha lido Em águas profundas, tirando o momento tiete, foi isso que mais valeu.)

Coisas assim. Por pouco mais de meia hora.

Ou coisas como a pergunta "Meditação transcendental pode ajudar as pessoas a entenderem seus filmes?".

Pra qual a resposta foi, citando uma das supostas vantagens da tal técnica:

-- Compreensão infinita.

E a galera riu.

David Lynch

Além do Lynch em si, estava, meio que de surpresa, o Donovan, guru de meditação dos Beatles.

Donovan

O Donovan. Quem diria. E ele ainda cantou uma canção.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Napkin art

Se o café de Montevidéu é bom, me digam onde. As minhas tentativas foram frustrantes. Tanto que tive que apelar pro McCafé -- sem gosto, mas ao menos não tinham um final com gosto de água suja.

É uma pena, porque, no inverno, Montevidéu implora que você tome litros de café todos os dias.

Foi numa dessas que me saí com esta:

Eu odeio ser obrigado a sorrir

E esta:

Cuidado, señor. Está quente!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Eraserhead

O Guilherme Kroll tinha um problema: os colaboradores eventuais do site Homem Nerd, no qual é um dos coordenadores, não tinham assistido a Eraserhead, mas queriam fazer um especial bem completo sobre David Lynch.

Aí ele recorreu a mim.

E eu escrevi um texto.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

E o Duchamp no MAM?

Sim, tem a roda de bicicleta.

Roda


E o urinol.

R. Mutt, 1917


Mas tem um lado do Duchamp que é o do zoador, o do criador, do provocador.

Cinema


Esse é o Duchamp que me interessa. Eu fui atrás dele, e ele estava lá. Você pode até me acusar de ter sido um encontro marcado, que eu já sabia o que estava procurando -- mas aí vai ter que me explicar porque, se eu sabia o que ia achar, saí de lá surpreso.

E a exposição da Bossa Nova na Oca?

Antes de qualquer coisa: fotogênica.

Óculos

Outra coisa: é um grande cenário do Gringo Cardia. Mas o cenário não tá lá longe, no palco. Você caminha por ele. E uma coisa que eu reparei, e muito, foram nas imperfeições propositais que formam os efeitos visuais. Tipo uns fios mais grossos que dão a sensação de movimento:

Fios
Ah, claro: a Copacabana indoor, no subsolo, sem sol nem mar, é de uma ironia fina deliciosa.

Andando em Copacabana

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Chupa, Picasso

Vaso de flores 1Vaso de flores 2
Um desenho bem simples pra pôr numas molduras velhas, foi o que me pediram. Pra decorar casa mesmo.

Me sentindo um arremedo de renascentista, me pus ao trabalho e me saí com esses dois vasos de flores, naturezas mortas de nanquim escolar e caneta Magic-Color (essas pequenas maravilhas) sobre papel Canson.

O pagamento é em algo que vale mais do que dinheiro: um suprimento perpétuo de queijo de Minas e goiabada. Pra fazer Romeu e Julieta.

Pode falar mal, pode não gostar, pode dizer que é comercial: o queijo é meu, a goiabada é minha.

Cinema rasteiro

Batman - É tão bacana que me pus a achar defeitos. Listei 52.

Arquivo X - É tipo Indiana Jones: só de tocar a musiquinha já vale o ingresso. Mas o filme é, ainda por cima, bom pra chuchu.

domingo, 3 de agosto de 2008

Mojica e o medo

ÉPOCA - De onde surgiu a vontade de fazer filmes para causar medo nas pessoas?

Marins - Um dia o projecionista do cinema que meu pai gerenciava caiu na besteira de liberar minha entrada durante uma sessão para alertar mulheres sobre doenças venéreas. A primeira coisa que vi na telona foi uma vagina com gonorréia. Aquilo me assustou muito! Comecei a chorar. Até hoje tento reproduzir aquele terror que senti.

(Entrevista completa, por Rodrigo Turrer, aqui. O filme do Zé do Caixão estréia logo mais. E pra mim cria mais expectativa do que um Batman do Nolan ou qualquer dessas coisas assim.)

Conversas com o Dr. Freud

Dr. Freud
E aí a gente estava no CaixaFórum, tinha visto uma mostra matadora do Mucha e queria trazer o catálogo. Fomos na lojinha e lá estava ele, figura recorrente de todas essas lojinhas de museus por que passei nos últimos anos: o dedoche do Freud.

Comprei, né?

Já fazia tempo que eu andava arrependido de tê-lo deixado pra trás tantas vezes. Sentia que ele tinha algo além do aparente. Que era um dedoche especial.

E era.

As pessoas falam com o dedoche do Freud. Abrem seus segredos, buscam ajuda, o enfrentam, como se estivessem em terapia -- e não importa que elas estejam em uma sala de espera ou um Starbucks ou até mesmo no meio do escritório. Elas simplesmente me ignoram (e isso não me parece fácil), olham para meu dedo e começam a falar.

-- Olha, eu sei que você só pensa em sexo e acha que tá tudo relacionado a sexo, mas o meu problema não é esse.

-- Eu me sinto sozinho, por isso, não sei o que fazer.

-- Eu não acredito em terapia, em ficar falando com um sujeito que não me responde nada, prefiro uma conversa, viu?


Não é completamente mágico?

sábado, 2 de agosto de 2008

Em águas profundas


A semana que vem vai ser de Em águas profundas, o puta livro bacana de meditação do David Lynch.

É que Lynch já está pelo Brasil. Na quinta, faz palestra, dá autógrafos e faz alguma função em São Paulo.

Comprei o meu semana passada, no lançamento do livro da Jeanne. Não fui só eu. Suspeito até que tenha sido o segundo livro mais vendido da noite.

É curto, é gostoso de ler, é inspirador - dá vontade até de tentar meditar. Pra mim, funciona como um manual de auto-ajuda intelectualóide que dá uma vontade imensa de fazer esforço para criar. Mas funciona.

Outro dia mesmo eu postei um vídeo do Lynch falando sobre o livro.

Outro trecho que bateu: "A raiva, a depressão e o sofrimento são muito bonitos nos enredos, mas venenosos para o cineasta e o artista. São como torniquetes de criatividade". Pra mim, faz todo o sentido: nunca consegui criar nada quando estou mal. Não cola nem aquele papo de trabalhar pra esquecer.

Pros outros, sei lá se funciona. De repente, não.

Mas pra mim é curioso demais que alguém não tenha interesse em saber como a mente do Lynch funciona.

O Calombo Amigo

Figura 1


Depois de um tempo, a gente aprende a conviver com um colchão inflável e suas idiossincrasias.

Aqui em casa temos um colchão já faz tempo. Roxo. Comprei logo que me mudei, para poder receber eventuais visitas. No fim, eu mesmo já dormi nele diversas vezes.

Bastante usado, o colchão acabou se desgastando. Não estourou, mas abriu por dentro, o que gerou um calombo (ver Figura 1).

O calombo tem uma formação curiosa. Se coberto por um edredon, dá a impressão de que tem uma pessoa miudinha dormindo ali embaixo. Tanto que quem dorme ao seu lado mais cedo ou mais tarde o abraça.

Acho que é por isso que o nosso amigo Guiti acabou batizando o calombo. Agora, chamamos de Calombo Amigo.

As últimas semanas foram movimentadas. O calombo abrigou o Delfin, presença constante nesta casa, o Guiti e minha própria mãe. Agora, faz companhia para a jovem Milena, prima da Jeanne. É um bom rapaz, o Calombo Amigo. No começo, se estranha, mas todo mundo acaba gostando dele.

Nos próximos meses, devemos ter algumas mudanças por aqui. É algo que pensamos faz tempo. Nessas mudanças, o Calombo Amigo deve bailar. Suspeito que o movimento de visitas deve cair.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Uns textos aí

A pedido do editor Cassius Medauar, escrevi recentemente dois textos para as publicações de quadrinhos da Pixel Media.

O primeiro é a introdução do álbum Planetary - Deixando o século 20, que compila histórias da elogiada série de Warren Ellis.

O outro acaba de chegar às bancas. Consta da nova edição da Pixel Magazine, e fala um pouco sobre o norte-americano Brian Azzarello como roteirista da série Hellblazer, protagonizada pelo mago inglês John Constantine.

Apesar de ter sido interpretado no cinema por Keanu Reaves uns anos atrás, e curiosamente retratado como um norte-americano, um dos principais traços de Constantine nos quadrinhos é sua natureza britânica. Isso fez com que, por muitos anos, seus autores fossem britânicos. Quando Azzarello assumiu, jogou-o nos Estados Unidos, e são essas as opções que comento.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Jovens na Metrópole

Os retratos mais óbvios de São Paulo são vários. A gente tropeça neles todos os dias, e os jornais e revistas são pródigos em reproduzi-los: restaurantes de primeira, Daslu, PCC, trânsito, helicópteros, trânsito de helicópteros...

Por isso que é uma beleza encontrar Jovens na Metrópole, livro organizado pelo José Guilherme Magnani e pela Bruna Mantese de Souza e produzido pelos integrantes do Nau - o Núcleo de Antropologia Urbana da USP.

É uma compilação de etnografias feita por estudantes, uns de graduação, outros já doutorandos, sobre a vida social dos jovens por esta coisa imensa em que a gente mora.

Eles estudam daquele comportamento coletivo que já foi chamado de "tribo". Hoje, se fala muito disso na internet, dos orkuts e myspaces. Toda semana surge nova empresa que se diz especializada em criar e invadir esses espaços, uma maluquice total. Eu não tenho muita paciência pra isso, juro. Conceitualmente, é bacana, mas a prática dessas comunidades virtuais acaba sendo um tanto quanto chata, principalmente porque elas costumam dar conta de uma única faceta, nem sempre muito verdadeira, de uma vida bem mais rica.

Enfim, enfim...

Já as etnografias do livro do Nau (ainda que irregulares, aviso!) me contaram coisas incríveis, coisas que eu nem imaginava, sobre esta cidade -- e coisas que estão aqui ao lado de casa.

Moro mais ou menos perto da Santo Amaro, que é uma avenida grande, larga, que corta a Zona Sul e é afamada por sua feiúra. E, quando se fala da feiúra da Santo Amaro, as pichações vêm logo depois dos fios de luz baixos e da calçada estreita. Mas o capítulo sobre pichações do livro muda o jogo: dá vida às palavras incompreensíveis, dá sentido (e movimento) ao ilegível e o que era feio passou a ser um combate de letras. Hoje, quando passo pela Santo Amaro e vejo as pichações, essa brigalhada de palavras faz mais sentido.

Também moro perto da Vila Olímpia, bairro de baladas mauricinhas. Fui nelas socialmente duas ou três vezes, mas outro texto do livro me decifrou um código importante que eu nunca notaria sozinho: quem é bacana desce o vidro do carro pra circular na Vila Olímpia. Porque isso favorece a interação. Mas eu sabia que o posto de gasolina da Faria Lima, o grandão ao lado do McDonald's, era um, digamos, point. Mas não sabia que existia uma Máfia do Posto, clientes que têm como privilégio isenção do rigoroso rodízio do estacionamento e até passagem secreta para sair.

Outro exemplo que me encantou foi o da sorveteria Soroko, uma casa comercial simples da rua Augusta que, a pedido da clientela straight-edge / vegan, criou uma linha de sorvetes sem leite. Vou lá.

Mais um: pelo texto, o relacionamento dos b-boys (dançarinos do rap da periferia) com os streeteiros (dançarinos de rap da colônia japonesa) dava um puta filme.

Dava pra eu ficar aqui listando as descobertas que fiz por um tempão. Mas eu não daria conta de passar todo meu fascínio com o troço, que fica por conta de o leitor enxergar neste texto bobo, visivelmente encantado, de quem gostou muito do que leu.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O pequeno Garcia



Este é o retrato do pequeno García, feito pelo mestre Bronzino, de Florença.

A postura e a sisudez do menino não são à toa: o pequeno García é um autêntico Médici. E desde pequeno, do berço. Faz do retrato um troço ainda mais perturbador.

Conheci o bebê Médici na exposição O retrato do Renascimento, que segue em cartaz no Museu do Prado, em Madri. Virou instantaneamente um dos meus quadros favoritos.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Leitura de férias: Pó de parede

Como eu ia dizendo, é complicado escrever sobre um livro sem tê-lo em mãos. E é o que me atrevo a fazer depois de deixar Pó de parede, da Carol Bensimon, na outra mala.

Conheço a Carol já faz uns anos, porque somos de Porto Alegre – e Porto Alegre permite que as pessoas se conheçam e saibam o suficiente um sobre o outro a ponto de simpatizar ou desprezar sem que sejam de fato pessoas que se encontram com regularidade. Acho que encontrei a Carol duas ou três vezes na vida, mas por um bom tempo pude acompanhar à distância o que ela andava fazendo.

Carol sempre foi um nome interessante, sempre andou bem acompanhada e, portanto, era certo que uma hora dessas viria um Pó de parede por aí.

Pó de parede é um livro de estréia – e isso não é nenhum problema. Suas três novelas curtas me deixaram a impressão de que ainda tateiam para encontrar uma sintonia fina entre si – e há um esforço visível e admirável nesse tatear, ele é consciente e eficaz. A Carol parece ter um caminho no mínimo mais ou menos tomado e não está se debatendo no escuro.

O resultado é que gosto muito das três histórias. Só fiquei com a impressão de que a menina da primeira história é madura demais pra idade dela em algumas passagens. Eu não era assim, mas meninas amadurecem antes. Sei lá se tanto, me digam vocês.

De qualquer forma, a última história é a melhor, disparado. Capitão Capivara é um personagem brilhante (desenhei vários num moleskine na hora), os bastidores do hotel viraram um cenário perfeito, tudo funciona bem demais. É por isso que, embora eu goste demais da opção maluca de desfecho, fiquei mais a fim de ler uma conclusão diferente em, talvez, uma história com mais páginas.

*

Pó de parede saiu pela Não Editora – eles não são uma editora, indica o cachimbo do Duchamp no logotipo. Mais de uma pessoa (tipo o Delfin) já os definiu dizendo que são a nova Livros do Mal – porto-alegrense, pequena e cheia de nomes interessantes.

Hm.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Leitura de férias: Como a picaretagem conquistou o mundo

Essas horas todas passadas em aeroportos, aviões e hotéis têm sido utilíssimas para ler – algo que a vida comum teima em tirar de mim.

Um dos livros que consegui, enfim, dar cabo é Como a picaretagem conquistou o mundo, um que estava prestes a ser largado sem que eu chegasse ao fim. Mas, num esforço derradeiro, voilá: cheguei ao fim.

Confesso que esperava, ao mesmo tempo, mais e menos de Francis Wheen. Explico: achei que o sujeito se dedicaria mais a essas picaretagens que a gente vê todo dia: ocultistas, numerólogos, marqueteiros baratos, profetas da internet e quejandos. Mas a verdade é que ele trata dessas patetices (que me interessavam demais) como parte de um fenômeno maior, que é a imensa quantidade de bobagens que são ditas até por gente séria (e que, por incrível que pareça, se acha séria). Gente que, por exemplo, sai por aí pregando que o iluminismo foi uma fraude que não serviu pra nada.

Pra quem, como eu, esperava um livro belicoso e rancoroso (e tiraria prazer disso), Wheen surpreende como um ensaísta arguto, denso, com um texto impecável e idéias sólidas como rocha.

*

Bem, não se pode ter tudo. Deixei o livro em casa antes de partir pra Madri, o que me impede de consultá-lo para fazer comentários mais espertos sem correr o risco de sair por aí falando bobagem. Desculpaí.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Minhas férias

Mercado del Puerto
Mercado del Puerto, Montevideo

Não me espanta que tenha surgido a profissão de blogueiro. Afinal, pra seres normais, essa coisa de escrever blog é uma atividade altamente improvável. Veja bem: quando tenho que trabalhar, mal tenho assunto pra criar um postzinho miserável. Agora que estou de férias, falta tempo e espaço de escrever tudo que vejo / leio / faço.

Cheguei ontem à noite de Montevidéu. Isso depois de passar uns dias em Porto Alegre. A quantidade de informações é bizarra: deixa a sensação de que eu perderia os dedos de LER antes de ser capaz de documentá-la.

Pior que essa era a parte calma das férias: amanhã embarcamos para Madri, sob os auspícios do Limão, um site jovem do Estadão. Isso porque me dei ao trabalho de fazer aquilo que todo mundo acha besta: durante 18 dias, respondi as perguntas de um quiz bem complicadinho. Acabei sendo um dos premiados: e vou-me embora pra Madri. Como se não bastasse o tal do Rock in Rio, ainda tem Madri inteira pra conhecer.

Ou seja: haja dedo pra detalhar tudo isso.

No Flickr tudo fica mais fácil: as imagens que valem por mil palavras adiantam boa parte do serviço. Já fiz uma pasta pra Porto Alegre, uma especialmente pra Fundação Iberê Camargo e uma pra Montevidéu (que é a que ainda está em construção). Madri, se o wireless do hotel permitir, vem a seguir.

Enquanto isso, vou deixando uns posts por aí.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Rapidinha: Iberê Camargo

Por dentro

Estou no aeroporto, saindo de Porto Alegre. Com tempo (ou com wireless no hotel, o que vier antes), faço um post maior e posto mais fotos no Flickr. Mas é fato que a Fundação Iberê, em seu prédio projetado por Álvaro Siza, é, pra não sair do clichê, imperdível.

E idem para a mostra Transfer, em cartaz no Santander Cultural.

Detalhes um dia, quem sabe.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sexta-feira, 13

Corvo
Um corvo no Père-Lachaise.

Não é por nada, não. Mas é que, se o senhor reparar, tava faltando uma imagenzinha pra dar um lustro.

sábado, 7 de junho de 2008

Dignidade

O depoimento da governadora Yeda Crusius, do Rio Grande do Sul, publicado na edição online de Zero Hora, também é muito esclarecedor sobre a mente dos políticos:

"Mais firme do que nunca quero manifestar minha indignação pelo comportamento do vice-governador. O Rio Grande do Sul é colocado, frente ao cenário nacional, como um Estado em que práticas de comportamento como essa jamais foram vistas. É um comportamento digno de confronto. Esse maravilhoso povo do Rio Grande do Sul não aceita não discutir frente a frente como sempre deve ser feito na política."

Claro que gravar conversa sem avisar é feio. Se você faz isso com alguém, é molecagem. Mas, numa balança, acobertar corrupção me parece bem pior.

Honradez

Tenho um interesse antigo por saber como funciona a mente do corrupto. Acho que, no Brasil, todos nós temos.

Se é distorcida, se é apenas má, se faz porque acha que é assim mesmo.

No noticiário de hoje, temos uma pista preciosa. Cezar Busatto, político tradicional do Rio Grande do Sul, nome forte desde o governo Britto, nos anos de 1990, agora chefe da Casa Civil, foi flagrado pelo vice-governador Paulo Feijó, um inimigo ferrenho da governadora Yeda Crusius. Feijó gravou um papo sobre corrupção no governo e divulgou. Contou onde fica a torneirinha de dinheiro usado para financiar a corrupção.

Na minha cabeça, o que o sujeito fez é demais: ele achou o vazamento. Agora só falta mandar o encanador.

Olhando daqui, parece um ato nobre, de gente digna, que faz o certo -- e me dizem que ele, ao menos, é um cara honesto, sério.

Mas não é o que diz Busatto:

"É uma armadilha safada, ele não é um homem honrado. Ele quer ser governador, é golpista. Ele é um mau caráter. Eu fui de coração aberto e ele divulgou."

É ou não é uma preciosidade?

sábado, 31 de maio de 2008

Policiais torturam jornalistas. Você apoiou?

"O interrogatório e as torturas duraram sete horas e meia, período em que a equipe foi submetida a socos e pontapés, choques elétricos, sufocamento com saco plástico, roleta-russa, tortura psicológica e todo tipo de situação vexatória. Em um dos intervalos entre as sessões de agressões, a equipe identificou o barulho de sirenes iguais às das patrulhas policiais rondando o cativeiro. Mas os homens que chegavam ao local, em vez de socorrer as vítimas, eram solidários aos carrascos."

A milícia da Favela do Batan, em Realengo, no Rio, torturou uma repórter, um fotógrafo e o motorista da equipe, todos do jornal O Dia. A história está contada em detalhes na edição de hoje do jornal.

Milícia, no caso, é a reunião de policiais, bombeiros e funcionários da Segurança Pública, um grupo que, em tese, defende a favela dos traficantes. Seriam a lei onde a lei de fato não chega. E faria com quem rompe essa falsa lei o que a ler de verdade não permite: torturar e matar.

A lógica é torta. Uma frase de um dos torturadores, reproduzida na reportagem, é de lascar: "Existem muitos policiais corruptos, mas nós não somos corruptos. A gente se mata de trabalhar aqui, leva tiro de vagabundo para vocês chegarem e estragar o projeto social que estamos fazendo. Nós não somos bandidos".

São, sim. Claro que são.

Não por coincidência, tudo isso lembra os métodos do Capitão Nascimento, personagem do filme Tropa de Elite -- que virou herói nacional. Ano passado, a classe média aplaudiu de pé nos cinemas a tortura e a morte indiscriminada de "bandidos" pela banda podre da polícia. Na votação do site de cinema Omelete que elegeu "os melhores de 2007", por exemplo, o policial corrompido foi indicado (pela equipe do site) e eleito (pelos leitores) o herói do ano. O caso do Omelete não foi o único caso. Só o exemplo de que lembrei, justamente porque acompanho o trabalho do site -- que se deixou levar, quero crer, pela onda.

É esse tipo de pensamento inocente, que não avalia as conseqüências éticas dos aplausos, que fomenta a lógica torpe do mundo do crime. E leva, por tabela, a situações como essa, é endêmica.

O caso dos jornalistas d'O Dia tem que servir para alguma coisa. Alguém tem que dar um basta nessa palhaçada.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Sinal dos tempos

Vi hoje, aqui na frente de casa, um Chevette velho, todo estropiado, quase se despedaçando.

Mas ele tinha um GPS.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O fascinante ornitorrinco

Sempre tem aquele conhecido que volta da Austrália se achando o máximo por conta de pele bronzeada e carcomida, à moda Crocodilo Dundee.

Entusiasmado, pergunto:

-- Você viu um ornitorrinco?

A resposta, pô, é sempre "não".

Acho muito esquisito que alguém voe meio mundo, se sujeite a um jet lag monumental, corra um baita risco de ter uma trombose venosa e depois sequer se dê ao trabalho de ir ver esses bichinhos tão fascinantes.



lost platypus, originally uploaded by popvulture.

Aliás, os ornitorrincos ficaram ainda mais bacanas hoje, com a divulgação da nova edição da revista de ciências Nature. A capa não esconde a novidade: o ornitorrinco é a atração principal da publicação.
O tema é que o genoma dos ornitorrincos acaba de ser completamente decifrado. E o resultado, como era de se esperar, é alucinante.

A doce criaturinha não só é um mamífero esquisito com bico de pato e cauda de castor que põe ovos, mas também é uma mistura de mamífero, ave e réptil no canto mais recôndido de seu DNA.

É um texto imperdível. Doce como as próprias criaturinhas.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Coisas que estão acontecendo

* Geralmente eu odeio animações digitais, mas Bee Movie se supera. É chato pra caramba.

* Estou pensando em fazer uma viagem maluca. Vamos ver.

* Fico emocionado ao ver o cartaz do novo Indiana Jones quando vou ao cinema. A sensação não é de nostalgia, e sim de esperança.

* Mas na real eu quero mesmo é que lancem a caixa do Jovem Indiana Jones em DVD. Está entre as cinco melhores séries ever (com Família Addams, A Feiticeira, Minha Vida de Cão e Twin Peaks, oras). Mas necas. Nem de pré-venda.

domingo, 4 de maio de 2008

Tchau, Tuio

Ia escrever sobre o Falsa loura, esse puta filme, filmaço, do Carlão Reichenbach. Fui ver se tinha algo no Reduto do Comodoro que se pudesse aproveitar de alguma forma: uma foto bonita, uma citação qualquer.

Tinha. Tinha a notícia da morte do Tuio Becker.

O Tuio foi meu colega na Zero Hora. Era o crítico de cinema. Convivemos pouco na redação, mas foi o suficiente pra eu ver como o baita crítico que eu já lia no jornal trabalhava. E era uma coisa bonita de se ver.

Lembro especialmente de uma sexta. Eram 11h30min, e o caderno Cultura de sábado fechava ao meio-dia. Aí entrou, por agência, a notícia da morte de um diretor europeu importante, mas relativamente obscuro. O Tuio quis homenageá-lo. Com o aval e o apoio do Eduardo Veras, a contracapa do caderno, então pronta, foi derrubada para que o tal cineasta pudesse ser enterrado dignamente. Tuio sentou-se para escrever enquanto nós, os desocupados, nos mexemos para fazer os outros procedimentos necessários, tais como achar e baixar foto do cara, pré-diagramar a página e caçar nos livros referências sobre o morto.

Uns vinte minutos depois, Tuio tinha acabado o texto, coisa grande, de uns 80 centímetros (na medida do jornal, é um texto bem grandinho). Estavam citados no artigo os maiores filmes do cara, com o devido ano de produção entre parênteses. E estava tudo certo. Conferimos com os livros, pra ver se não tinha erro. Mas não tinha. No sábado de manhã, sem saber de nada disso, os eventuais leitores encontraram um artigo precioso. E quem leu nem sabia que por trás dele estava uma baita aventura.

Também lembro de um Festival de Cinema de Gramado que cobrimos, eu, ele e o Roger, talvez a mais enxuta equipe da redação a subir para a Serra nesta década. Agora me ocorre que talvez tenha sido o último ano em que Tuio foi a Gramado pelo jornal. Não lembro.

Saímos do jornal na mesma época, em 2001, ele se aposentando, eu indo fazer as revistas da RBS.

Continuamos nos falando, principalmente em cabines e em encontros por acaso no Centro, onde eu morava e ele ia ao cinema, por uns meses. Na época, dizia:

-- Agora que me aposentei, só vejo filme bom.

Tuio foi desaparecendo na medida em que o Alzheimer tomou conta. Eu também fui sumindo. De vez em quando, vinha uma notícia sobre ele, sobre a doença, sobre a internação.

Mais comum é eu lembrar do Tuio vendo um filme. Outro dia mesmo, vi Pequenos espiões, que ele tinha achado divertidíssimo. Na época, ele recomendou:

-- Mas espera pra ver em DVD, porque a distribuidora só trouxe cópias dubladas para Porto Alegre.

É isso: o Tuio vai continuar indo ao cinema comigo. E com muita gente. Principalmente se os filmes forem bons.

*


Quando vi que o Tuio morreu, fui correndo ler a coluna da Cláudia Laitano. Eles eram muito próximos. Mesmo sabendo que o Tuio rende incontáveis textos bons, eu tive a sensação de que o melhor texto viria dela.

E eu estava certo:

"Tuio distribuiu generosamente sua cultura e seu bom humor até o último dia de trabalho no jornal, há sete anos, quando se aposentou. Formou e informou todos os que tiveram o privilégio de conviver com ele ao longo de mais de 30 anos de jornalismo."

*


Fico pensando não no que o Tuio escreveria sobre Falsa loura, mas no que ele falaria. O universo que Carlão criou é uma dádiva para o humor sarcástico que Tuio tinha nos bastidores.

Homem de Ferro


Esse sujeito de armadura é o super-herói do momento, o Homem de Ferro. Seu filme está passando nos cinemas, e tem recebido elogios, ainda que moderados, da crítica.

A culpa é do moço logo abaixo, Robert Downey Jr. O ator passou uns anos no ostracismo depois de montar uma memorável coleção de merdas realizadas. É uma seleção tão primorosa que suas merdas estavam expostas em uma sala especial, como se fossem troféus, e todo mundo que pensava no cara logo lembrava das suas muitas merdas.

Homem de Ferro é sua redenção. No filme, nosso Downey Junior interpreta Tony Stark, um bilionário, mulherengo, ególatra, a dois passos do alcoolismo e, pra encerrar a lista dos adjetivos pejoraticos, dono da fábrica de armamentos que está fodendo com a população afegã porque supre também para as milícias terroristas. Mas Stark é seqüestrado e aprende que, a exemplo de Downey Júnior, estava fazendo uma coleção memorável de merda. E resolve se redimir usando a armadura para combater os bandidos que vendem armas (ou seja, sua própria firma) e as milícias terroristas afegãs.


Tenho uma hipótese que Downey Junior só funciona porque está apoiado em uma atriz que mata a pau, Gwyneth Paltrow -- por sinal, também sumida. Como Pepper Potts, assistente pessoal de Tony Stark, ela ressurge num papel delicioso. É ela quem faz a ponte entre o bilionário excêntrico e o resto do mundo.

A dupla, ou casal, sei lá, atua num roteiro com boas sacadas, que servem de contraponto à arrastada história da origem do super-herói de ferro -- ou melhor, uma liga de ouro e titânio.

Mas, e sempre tem um "mas", nem tudo é uma duplinha de velhos galãs em climinhazinho de romance.

Há uma cena que me incomoda desde o momento que eu vi, na tarde de sexta, mas que a parafernália do filme ofuscou até ontem.

Depois de se redimir e virar super-herói, Stark vai até o Afeganistão, mata uns terroristas, salva uns miseráveis de um bandidão e, no fim da cena, entrega o sujeito para os aldeões, dizendo:

-- Agora é com vocês!

Macacos em mordam se isso não é uma apologia ao linchamento, como se linchar e fazer justiça com as próprias mãos fosse uma coisa bacana.

Não é.

Há uma boa discussão sobre o tema na bela entrevista que a Flávia Tavares, do Estadão, fez com o sociólogo José de Souza Martins há alguns domingos.

Mas é o que o filme mostra: depois de se redimir e (quase) virar um modelo a ser seguido, ele passa a acreditar na justiça do olho por olho, no toma lá, dá cá, na vingança insana da coletividade e no fim da civilização.

Diferentemente de outras obras que retratam a violência, como Oldboy, Homem de Ferro não abre um fórum para a discussão do linchamento. Embora muitos assuntos sejam debatidos, não há nenhuma reflexão sobre o tema no subtexto do longa.

*


Voltando ao tema da classificação indicativa da MPAA, já discutido no post sobre o documentário This film is not yet rated, Homem de Ferro é, segundo a MPAA, PG-13. "For action violence and some sensuality", diz a avaliação.

*


Ontem, caminhando na Paulista, percebi que os camelôs de DVDs piratas anunciavam Homem de Ferro como o grande lançamento do feriadão.

sábado, 3 de maio de 2008

Grandes exposições: Star Wars e Revolução Genômica

Nave
Não curti a exposição de Star Wars que está no Porão das Artes. Traz maquetes, modelos, fantasias e -- o mais bacana -- desenhos de produção. Mas, em virtude do auê todo que fizeram na divulgação, a mostra decepciona.

Não fui só eu. Na saída, ouvi dois "Mas era só isso?" saindo de grupos diferentes.

Claro que os fãs mais fetichistas babam ao ver os droids R2-D2 e C-3PO de pertinho. Mas uma exposição, por mais mega que seja, tem que ser mais do que um exercício de fetiche.
(Mea culpa: armei um set no Flickr com meus fetiches e com flagras do fetiche alheio.)
Uau
É o caso da vizinha Revolução Genômica, também em cartaz no Ibirapuera. Lá, não dá pra tirar fotos. Nem precisa: você aprende coisas e leva novos conhecimentos na lembrança.

Muito, mas MUITO bem montada mesmo, a mostra começa falando de biodiversidade. Tem animais de verdade, vivos, como cobras e sagüis, para dar esse choque de que tem genética em todo o canto.

Captada a idéia, começa a parte mais científica, mais hardcore, mas muito bem explicada. Sempre didática, mas nunca bobinha, é uma baita duma exposição.

É menos badalada que Star Wars, mas muito melhor.
E sai pela metade do preço.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

"As Gas Costs Soar, Buyers Are Flocking to Small Cars"


Olhe bem pra manchete do New York Times de hoje: "As Gas Costs Soar, Buyers Are Flocking to Small Cars". Ela é histórica: nossos amigos norte-americanos estão deixando de lado os poluidores SUV e as picapes de lado, optando pelos compactos.

Em abril, um a cada cinco carros vendidos na América foram compactos ou subcompactos. "Quase uma década atrás, no pico dos veículos utilitários esportivos, só um em cada oito eram compactos", diz o texto de Bill Vlasic.

Os motivos apontados seriam econômicos: o aumento do preço do galão. Nãoparece ser uma onda de conscientização a respeito da mudança climática global, aspecto que a reportagem mal tangencia. Mas não é nada desprezível.

"É fácil a mais dramática alteração de segmentos do mercado que testemunhei em meus 31 anos aqui", disse ao Times George Pipas, analista-chefe de vendas da Ford.

Michael Jackson, executivo-chefe da AutoNation, maior varejista de automóveis de lá, é taxativo:

"A era das SUVs grandes com base de caminhão acabou."

Alguns impactos da mudança de hábito já pipocam aqui e ali. Os californianos já compraram 4% menos de gasolina em janeiro deste ano do que em um ano atrás.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

"America Online, Yahoo!, Excite, Netscape, GeoCities, AltaVista, @Home, and Prodigy"

"We established long-term relationships with many important strategic partners, including America Online, Yahoo!, Excite, Netscape, GeoCities, AltaVista, @Home, and Prodigy."

"We are planning to add music to our product offering, and over time we
believe that other products may be prudent investments."

"However, as we’ve long said, online bookselling, and online commerce in general, should prove to be a very large market, and it’s likely that a number of companies will see significant benefit."


Jeff Bezos, na carta aos acionistas da Amazon.com, em 1997.

Para mostrar a evolução da então apenas uma livraria virtual, o fundador da livraria anexou o velho documento à carta deste ano, que celebra, sem dar números, o sucesso do Kindle.

Não por acaso


Pedro (Rodrigo Santoro), Teresa (Branca Messina) e São Paulo

Muito, muito bonito Não por acaso, estréia em longa do diretor Philippe Barcinski. Bonito e rico. Daqueles filmes, raros, de que dá para escolher um aspecto e ficar falando sobre ele por horas e horas.

Rende papo sobre nosso tema mais candente, o trânsito -- será que um engenheiro de tráfego (Ênio, numa atuação contida e imbatível de Leonardo Medeiros) tiraria proveito pessoal do superpoder que tem numa cidade como São Paulo?

Mas também sobre a própria cidade, que aparece retratada em seus ângulos mais bonitos.

Dá para matutar sobre as imprecisões inevitáveis, sobre os minutos perdidos, sobre o que se ganha ou se perde com um atrasinho de nada -- porque Pedro, vivido por Rodrigo Santoro, parece um cara bacana, mas se revela megacontrolador. Acha que controla até as bolinhas do adversário na sinuca, mas na real não tem controle sobre nada.

Até mesmo a atuação pode virar pauta, porque elas são várias e boas, desde Letícia Sabatella como uma, err, chatinha, ou Branca Messina vivendo uma moça em transformação, ou a jovial e energética Rita Batata, que dá luz ao filme.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Júlio Pomar na Pinacoteca

The Beatles I
Não dêem bola para as minhas fotos. Elas estão distorcidas porque foram feitas displicentemente, apenas e somente para o caso de as imagens que eu queria não estarem disponíveis no material de divulgação.

Pois é o caso. Azar.

Só é preciso deixar claro que nenhuma das três fotos deste post faz jus à belíssima exposição do artista português que está em cartaz na Pinacoteca.

(Há outra, simultaneamente. De arte japonesa do período Edo.)

Cada quadro tem um motivo para estar aqui. Motivo meu, claro.

O primeiro, Beatles I, foi escolhido pela força icônica da imagem. A pintura é intensa, violenta, mas tem a delicadeza dos rostos e das formas corretas.

Conversa com outra, cujo nome fico devendo:

Quadro
É uma obra mais recente. Tem mais cores. Tem uma mão ainda mais pesada. Mas lá está, de novo, a delicadeza da Madonna, coisa de um Rafael que se encontra com a fúria de um Pollock.

E, pra encerrar, um porco. Porque ele ama porcos e touros. E pela diversão!

Porco
A exposição fica lá até o dia 18.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

This film is not yet rated

Já fazia uns meses que eu estava para ver This Film Is Not Yet Rated, um documentário bem elogiado sobre os bastidores da classificação etária dos filmes de Hollywood. Assisti ontem à tarde. O longa-metragem fala daquele sistema da MPAA que vai do G, de General Audiences (ou seja, pra todo mundo), ao NC-17, dado aos filmes a que nenhum ser menor de 17 anos deveria assistir de forma nenhuma.

O tema é polêmico por si só. Afinal, o que a MPAA de Jack Valenti faz é uma espécie de censura. E, ainda por cima, é um gesto que pode acabar com a carreira de um filme no mercado norte-americano.

É justamente na classificação mais amaldiçoada pelos produtores que o filme se debruça: a temível NC-17. Um filme com uma avaliação dessas fica praticamente fora do mundo supostamente mágico do multiplex, justamente onde vão os freqüentadores assíduos das salas norte-americanas. Pior que isso, só X, que nem entra na lista, porque Hollywood e a pornografia não se nada dão bem.

Um dos pontos que o documentário de Kirby Dick levanta é o peso desproporcional que a MPAA daria aos dois fatores centrais da classificação: sexo e violência.

Haveria, pelo visto, uma permissividade maior em relação à violência -- em especial a mortes por tiro estranhamente sem sangue. Sexo já é mais difícil, ainda mais se envolver algum tipo de homossexualismo e nu frontal masculino.

Daí que Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, é um filme NC-17, exceto em sua versão reeditada (que deve ter uns 15 minutos).

Mas uma sangria desatada como Sexta-Feira 13 é R.

Claro, a escolha tem um fundo cultural tipicamente norte-americano, em que a sexualidade é vista de uma forma que soa estranha para quem está de fora. E essa perspectiva distorcida está em todo lugar. Basta ver os super-heróis -- falei um pouco sobre isso na resenha da série Omac, que sai no Brasil na revista Universo DC.

Falando assim, até dá para ficar com a impressão de que isso não afeta nossa vidinha aqui do outro lado do Equador. Mas não é bem assim. A carreira internacional de muitos filmes está diretamente relacionada com o seu desempenho no mercado norte-americano. Além disso, os produtores acabam realizando mais filmes com tiroteio do que com sexo saudável. O resultado está na programação dos cinemas deles, mas também nos nossos.

A categorização é feita por um comitê designado pela MPAA. Sem especialistas, o grupo seria formado apenas por pais de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos. A avaliação é secreta, e o nome dos jurados não é divulgado ao público.

E é aí que vem a sacada do filme: Kirby Dick contrata uma dupla de detetives (a propósito, duas senhoras homossexuais) para descobrir quem de fato faz parte do comitê e decide o que os norte-americanos podem ou não assistir. O resultado é pra lá de suspeito: tem pais de filhos mais velhos do que a faixa etária divulgada, além de um sujeito que não tem filhos!

No fim do processo (mas não do filme!), o documentário é enviado para avaliação do MPAA.

This film is not yet rated ainda traz outras coisas interessantes. Há depoimentos de diretores e produtores (entre eles, Kevin Smith, Matt Stone e o mais que polêmico John Waters) e alguns mergulhos rasos na relação dos estúdios com Washington.

Beat it

Tive uma reunião com Michael Jackson. Ele cantarolava uns paraparás o tempo todo. E estalava os dedos.

Dava mó vontade de dançar.

Chamei-o de "gênio". Ele fez que desdenhou.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Imbecilidade sem fronteiras


Nada de crise econômica, nada de greve dos professores (a primeira na Inglaterra em anos): a matéria sobre os balões do Padre Adelir foi a terceira mais lida do site do Guardian ontem, conforme indica o ranking do jornal.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Feliz aniversário

Shakespeare
Sonnet XXII

My glass shall not persuade me I am old,
So long as youth and thou are of one date;
But when in thee time's furrows I behold,
Then look I death my days should expiate.
For all that beauty that doth cover thee
Is but the seemly raiment of my heart,
Which in thy breast doth live, as thine in me:
How can I then be elder than thou art?
O, therefore, love, be of thyself so wary
As I, not for myself, but for thee will;
Bearing thy heart, which I will keep so chary
As tender nurse her babe from faring ill.
Presume not on thy heart when mine is slain;
Thou gavest me thine, not to give back again.
-- William Shakespeare

terça-feira, 22 de abril de 2008

Deus do céu

O Padre Adelir é, hoje, uma figura central do catolicismo. A história bombou no feriadão, mas só fiquei sabendo dela graças a essa maravilhosa rede de informações inúteis que é o escritório de trabalho: o religioso decidiu voar preso a balões cheios de gás hélio, o tempo não estava bom, a bateria do celular pifou e o padre se perdeu. Até agora, só os balões foram encontrados.

Que eu lembre de cabeça, não tivemos, na História recente, nenhuma oportunidade como essa para provar a existência (ou mesmo a inexistência) de Deus, o deus católico. É uma momento de uma riqueza ímpar para crentes e ateus.

O motivo é simples: se o deus católico, vulgo Deus, existe, não tem por que deixar morrer um velhinho bacana e bonachão, que estava a seu serviço, voando lépido e faceiro pelos céus. Não há motivo nenhum, e não é como Joana D'Arc ou São Sebastião. Esse sujeito não vai virar mártir de coisa nenhuma, até porque seria estúpido canonizar um perfeito idiota com tendências suicidas. O deus católico deveria soprar seu vento e fazer o padrezinho encerrar sua viagem em uma planície cheia de flores.

Mas, se o velhinho aparece vivo, sem rádio, sem saber operar o GPS, depois de cair no meio do Atlântico, então quase que dá pra afirmar que foi um milagre, e um milagre quase inexplicável.

De todo jeito, olhando o caso agora, é inevitável afirmar que a fé faz, de fato, coisas incríveis. Como, por exemplo, não terem dado as buscas por encerradas.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

No one belongs in my refrigerator more than you

Há um ano, por conta do lançamento de No one belongs here more than you, Miranda July criou um site matador, provavelmente o mais bacana já dedicado a um livro.

Agora em maio, sai a versão paperback. E o novo site acaba de ficar pronto.

domingo, 20 de abril de 2008

Prevenir e remediar

A pílula anticoncepcional mudou mais do que os costumes. Ela transformou também um velho ditado popular. Hoje em dia, no caso de gravidez, prevenir é remediar.

sábado, 19 de abril de 2008

Paranóia

Vi ontem. No pára-choque traseiro do carrinho de um catador de lixo, pichado em tinta preta, estava escrito:

"NÃO ME SIGA"

Eu ia tirar uma foto. Mas fiquei com medo.

Espírito jovem

Teen Spirit é o nome de um desodorante norte-americano. É a ele que cheira o single responsável pelo estouro do Nirvana, Smells like Teen Spirit. Em 1991, parecia que Kurt Cobain tinha feito o deboche definitivo a respeito da busca pelo espírito jovem, mais um Santo Graal dos nossos dias. Mas não foi suficiente.

A Cássia reportou ontem em seu blog que, em Porto Alegre, alguns ônibus teriam trocado a tradicional plaquinha que diz "Assento reservado para idosos, gestantes e deficientes etc." por "Os assentos vermelhos são preferenciais para jovens de espírito. Com idade acima de 60 anos".

Nem preciso dizer o quanto isso é ridículo -- e provavelmente ilegal, mas mais do que tudo, imoral. Quando eu era mais moço, o normal era dizer que ao menos o envelhecimento nos conduziria a uma idade da razão. Hoje, a quem passa dos 30, não resta valor sequer no espírito da maturidade.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Coisas que estão acontecendo

Nos últimos dias:

* Quatro pessoas me disseram que ligaram o computador à sua TV. Uma delas assiste a vídeos do Youtube, um depois do outro. Mó tendência.

* Vi na Rebouças uma moça com uma sacolinha de compras do Zaffari de São Paulo. O gaúcho Ricardo Freire (assim até parece que estou escrevendo pra Zero Hora) foi lá e fez um belo relato pro Guia do Estadão. Já eu acho muito louco que alguém vá a um Zaffari em São Paulo. Parece que um amálgama de realidades paralelas. É meio como ir à Estátua da Liberdade de Paris.

* Li o Mais ou menos normal, da Cintia. Esse se passa em Porto Alegre, e as descrições da ficção de materializam em lugares bem reais na minha cabeça. Merece um post maior mais adiante, já podem ir lendo.

* As coisas estão corridas, até porque a vida normal se uniu a uma série de coisas que tenho /tive que produzir / criar / escrever. De quebra, ainda está rolando a Semana de Criação, cujas palestras são na Fecomércio, no outro extremo da cidade. O táxi sai tão caro e o trânsito está tão ruim que, olhando pro céu, fico pensando se financeiramente não compensa alugar um helicóptero.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Fatos da idade avançada

Outro dia, andando pela rua, vinham em minha direção três garotas, todas assim From UK, definitivamente jovens. Quando nos cruzamos, ouvi uma frase da conversa:

-- Hoje em dia é raro achar homem que não se depila.

domingo, 13 de abril de 2008

Downtown 81

O mais bacana de ter uma cópia própria de Downtown 81 é que você pode ver quando der na telha. E, diacho, tenho uma, e revi nesta noite.

Eu já tinha visto no cinema. Duas vezes. Mas ver a qualquer hora, independentemente do humor do programador e dos horários da programação do cinema, é outro jogo. Perde-se umas frescuras como som e tela grande.

Mas Downtown 81 não é sobre isso. E, embora tenha se tornado um filme sobre Jean-Michel Basquiat (quadro ao lado), é mais que isso: é uma viagem antropológica a uma Nova York que já era, é uma cápsula do tempo (ironicamente ao gosto de Andy Warhol), é um passado enclausurado pelos olhares de quem quer encarar para se sentir cool, é uma aula sobre o que já foi feito.

Eu possuo o DVD, mas não o filme. O filme é que nos possui, porque por ele olhamos 25 anos no passado e achamos que estamos em casa. Nada mudou, mas tudo deveria ter mudado.

Onde foi que o mundo travou?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Esboços de Frank Gehry


Vimos agora à noite o documentário Esboços de Frank Gehry, dirigido por Sydney Pollack.

Parece que é um documentário sobre arquitetura, e portanto com alto potencial de se revelar de uma chatice atroz. Mas taí o grande engano: não é nada disso, nem chato nem sobre arquitetura.

O mais adequado seria chamar de investigação sobre um artista, sobre como ele cria, sobre como ele desenvolveu toda uma técnica para conseguir pôr de pé seus rabiscos e, por fim, sobre como funciona a cabeça do sujeito.

Pollack, brilhante, põe até o terapeuta do Gehry pra falar. E dá um bom peso pras fraquezas e inseguranças de um criador que está sempre no limite.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Relembrar é preciso: Nasi x Nasi

Se a fama é uma coisa muito louca, imagine só a microfama. Microfama, você sabe, é aquela sensação traíra de que você é famoso, mas na verdade tem um grupo pequeno de gente que conhece você - ou um grande grupo que ouviu falar vagamente da sua existência. Mais cruel que a fama, a microfama é devastadora.

Suspeito que sou mais uma vítima da microfama. Há alguns sites que acham que o Nasi, que era do Ira!, se chama Eduardo Nasi. Na verdade, ele se chama Marcus Valadão.

Já que o assunto veio à tona, resolvi buscar nos meus arquivos uma velha entrevista com o Nasi macrofamoso, publicada originalmente no agora extinto caderno Patrola, da Zero Hora. Egocentrismo à parte, foi a apresentação que fiz aos meus jovens leitores.

Podei a introdução, editei umas coisas que não estavam claras, mas não cheguei a cortar as menções à ex-banda, porque foi assim que a conversa rolou:

Ok, Nasi, pode começar contando a história de por que usar justo o meu nome...

Olha, Nasi, meu apelido era "Nazi", porque eu brigava pra caramba. Mas nunca fui nazista! Imagina, sou de uma família de italianos comunistas. Nunca pensei que um apelido de colégio fosse ficar por tanto tempo. No primeiro e no segundo disco do Ira!, o meu nome aparece como Marcos Valadão. Aí mudei pra "s" porque tive muito problema com isso. Até os caras de um partido nazista me ligavam!

E tem um lance de "nasi" ser nariz em italiano...

É, é "narizes", é plural. Na época que eu cheirava, o pessoal dizia que eu tinha muitos narizes. Mas agora não faço mais isso.

Como que ser italiano pesa numa banda que é a mais paulista do Brasil, ainda mais que São Paulo tem essa coisa superitalianada?

Sou muito italiano. Meu nome é Marcos Valadão Rodolfo, e o "Rodolfo" vem de "Ritolphi". Agora vou mudar o nome pra fazer cidadania. Todo mundo na minha família já fez, mas sou muito enrolado. Na banda, todos são italianos, menos o André, mas nem sei direito o que ele é. E a gente tem sotaque forte. Se bem que perdeu muito com as viagens.

Já que vocês são tão de São Paulo, o que tem de mais legal lá?

Eu não sou mais um cara da noite. Saio pouco. Então eu gosto dos restaurantes, vou na casa dos amigos... Quando vou em outras cidades, penso como seria legal morar nelas, mas teria que levar os amigos.

Tem bandas novas legais lá?
Tem, mas gosto mais da cena curitibana, que tem uma coisa meio porto-alegrense de uns anos atrás. Gosto de Feichecleres e Relespública.

Sex Pistols vai lançar DVD com show da Brixton Academy

Deu na NME: os Sex Pistols vão lançar um DVD, o primeiro ao vivo oficial da banda, com os shows da Brixton Academy no ano passado.

Eu estive lá. A fotinho medonha aí embaixo saiu do meu celular (clicando nela se vê mais duas no Flickr).

Sex Pistols, Brixton Academy, Londres

Não é segredo pra ninguém que está longe, mas muito longe, de ser o meu show favorito de todos os tempos. Foi esquisito, tanto que nem cheguei a escrever nada sobre ele. Achei que a farsa do troço todo ficou evidente no palco, com o pessoal da gravadora (ou empresários, whatever) saindo aos borbotões da área VIP e abrindo roda punk com seus ternos Armani. E, por mais que pareça, isso nem mesmo é uma figura de linguagem.

domingo, 6 de abril de 2008

Basquiat e mais filmes

Notei que venho falando pouco de cinema por aqui ontem à noite, quando enfim vi o ótimo Basquiat. Grande filme, por sinal, com uma bela trilha sonora. Importamos via Amazon, junto com o Downtown 81.

Deixei passar outros belos filmes que passaram aqui por casa. Dois deles são divertidíssimos: Hairspray e Superbad - É hoje (e depois eu troquei meu nick no MSN por "McLovin" por uma semana depois).

Planeta terror, do Robert Rodrigues, tem seu charme, em especial no falso trailer de Machete. Mas eu já estou cansando de ver zumbis por todos os cantos.

Tekkonkinkreet é um animê fabuloso, que se passa numa Paris japonesa futurista. O desenho é baseado no mangá Preto &  Branco, que a Conrad lançou em 2001. E passou batido!

Acho que nem House, eu comentei. E olha que acabei vendo três temporadas em um mês!

Charlton Heston (1924-2008)

"I have a face that belongs in another century."

Acaba de dar no New York Times, via Associated Press, que o Charlton Heston morreu há pouco. É um cara que fez de tudo, de Os dez mandamentos a O planeta dos macacos, passando por dois clássicos do cine-catástrofe: Terremoto e Aeroporto 75. E isso sem falar da entrevista antológica de Tiros em Columbine.

Esse rende obituários de primeira.

Invejei.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

MySpace vira o iTunes da moçada

O My Space anunciou que vai vender música. O MP3 -- sem DRMs -- deve sair em torno de um dólar.

Mas o site aposta que ser chapa do seu artista favorito não tem preço.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Auto-engano

Quero aproveitar o 1º de abril para desvendar uma pegadinha que venho fazendo comigo mesmo. Já faz uns dias que criei pra mim um del.icio.us e um Netvibes. Fiz não por teimosia, mas justamente o oposto: diante de uma discussão, queria ver se os argumentos do outro eram válidos e se eu poderia ser feliz organizando minha internet.

No Netvibes, achei uns artigos que talvez não tivesse lido de outra forma.

E o del.icio.us me tirou a culpa de deixar coisas para trás.

Tive, por alguns momentos, a sensação de que eu era um self-made Google, e que a organização da web cabia a mim e só a mim.

Aí me caiu a ficha: a internet continua lá fora como sempre foi: caótica, cheia de lixo e com um punhado de coisas bacanas. Encontrá-las depende de se aceitar o caos. Seja o geral. Seja o de feeds do Netvibes.

Comida em tempo de guerra


Jamie Oliver, o Orlando Silva dos chefs, quer comprar uma briga: ele pretende sugerir que a população passe a viver como se estivesse em guerra. Ou seja: que coma em casa, que poupe comida, que cultive o que vai comer no jardim.

A proposta é o mote de um novo programa do mestre cuca e apresentador que foi anunciado pelo Channel 4 nesta semana -- e repercutiu um monte, inclusive no Guardian.

Se pega, sei lá. Mas é bom lembrar que os ingleses amam os orgânicos, os smoothies da Innocent (e não sem razão), os sanduíches da EAT e todas essas coisas verdes.

sábado, 29 de março de 2008

INDIE > alternativos Juno

Indie - Alternativos - Juno

INDIE > alternativos Juno é um post it criado pela Renata. É naturalmente irônico e tem uma síntese visual impressionante. Clássico instantâneo.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Auto-retrato americano

Auto-retrato

Não sei vocês, mas eu não gosto do América, um fast food um pouco mais sofisticado desses que São Paulo nos oferece. O problema de lá é bem usual: comida sem gosto a preços pouco convidativos. O sabor vem do indefectível ketchup Heinz, que salva refeições em lugares assim. Comida sem gosto, afinal, só tem uma vantagem -- em almoços coletivos da firma, ninguém sente repulsa.

Mas hoje foi pior que o normal. Ficamos quase uma hora esperando a tal comida anódina. É triste esperar tanto por algo que não merece nenhuma expectativa, ainda mais quando é, teoricamente, fast. É uma outra forma de perda de tempo.

Quando meu hambúrguer vegetariano de shimeji (que tinha gosto de soja, verdade seja dita) chegou, já tínhamos debatido tanto sobre a doação do corpo para a ciência que o meu, desculpe o trocadilho, jogo americano já tinha virado o auto-retrato acima.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Mais azul

Serpentine Gallery Pavillion

Só pra ficar no clima azul: taí o Serpentine Gallery Pavillion 2006, por Rem Koolhaas e Cecil Balmond, em uma manhã ensolarada de fim de outono.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Fase azul

Bourgeois

Taí uma imagem bem bonita pra inaugurar o novo layout deste blog. É uma foto da escultura gigante que a Louise Bourgeois expôs na frente da Tate Modern no ano passado.

Novo EEE PC

Vem aí a nova geração do Asus EEE PC, o pequeno e adorável notebook superportátil -- e eu tenho um, então digo isso com alguma propriedade e muita satisfação. Segundo Jack Schofield, jornalista do Guardian, a versão 2 do computadorzinho deve vir com touchscreen e talvez até um GPS.

Novas formas de comer

A Economist até deu capa, uns meses atrás, alertando que esta nossa era de comida barata estava chegando ao fim. E o assunto virou manchete nos últimos dias.

Mas, na contramão, o New York Times publica hoje uma deliciosa matéria sobre como comer bem com artigos de lojas de 99 cents. A escolhida é a Jack's, que sim, vende não só comida, mas também tem um andar gourmet (com preços entre US$ 1,99 e US$ 4,99).

De quebra, ainda põe um chef para criar com esses mesmos elementos.

*

No outro lado do oceano, o Guardian faz uma matéria interessante sobre a chegada da nanotecnologia à cozinha.

terça-feira, 25 de março de 2008

Os quintos beatles, quem são eles

Eu não sou beatlemaníaco, mas, de cabeça:

* Sr. Aspinall, o que morreu domingo (bah), cujo título (de fifth beatle, não de nobre) foi concedido por Sir George Harrison (que ao menos morreu numa quinta-feira).

* Billy Preston, morto em 2006, que a Fox News chama de "the real 'Fifth Beatle'".

* Stuart Sutcliffe, o ex-baixista deposto por Paul, que foi de fato por um tempo um quinto beatle, pois que a banda era um quinteto.

* Pete Best, o baterista original, deposto por Ringo Starr, donde depreende-se que os bateristas sempre tem os nomes mais legais.

* Brian Epstein, lendário descobridor e produtor da banda.

* George Martin, por todos os serviços prestados.

Descubro, enfim, que a piada que fiz nestes últimos posts é velha. Está até na Wikipedia (o site mais boring dentre todos os sites supostamente interessantes).

Desculpe.

Fica para a próxima.

Os quintos beatles, segunda pergunta

O que é mais fácil de se encontrar: um quinto beatle ou um embaixador da Unesco?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Máquinas pré-obsoletas

"What I essentially experienced this week was an ultra-high speed lesson in techno-obsolescence. Instead of taking 18 months to become doorstops, my new machines arrived pre-obsolete."
Douglas Coupland, substituindo Stephen Fry na sempre admirável coluna Dork Talk.

Google x O Mundo - round 669

À sua maneira, o Google ganha dinheiro a custas de conteúdo alheio. A lógica, veja bem, é sutil. Um jornal tem um esforço milionário para produzir uma notícia, publica num site, sustenta uma estrutura monstruosa para vender anúncios e, de repente, perde os míseros centavos que o clique do leitor rende para o Adsense. O lance é sutil e ainda não ficou claro quem ganha mais nessa tal de nova realidade. Tanto que alguns jornais adotam o AdSense como ferramenta de publicidade online para áreas não-comercializadas.

O debate já é comum em congressos de jornalismo. Que eu saiba, o tema é mais candente nos encontros dirigidos aos donos de jornais, embora, na minha cabeça, seria uma área interessante até para os famigerados sindicatos, se tentassem levantar uns trocados para o bolso de seus associados.

Agora, anuncia o New York Tines de hoje, há um novo capítulo na novela mexicana de amor e ódio: uma ferramenta em que o Google se oferece para pesquisar dentro do site de terceiros e, de quebra, joga anúncios da concorrência na página de resultados. Por exemplo: quem procura anúncios de emprego no Washington Post, conta o Times, vê links de AdSense para a agência Monster.com.

A briga, mais uma vez, é boa.

domingo, 23 de março de 2008

RSS

Acho essas coisas de RSS bastante inúteis. O motivo é egoísta: não funcionam pra mim. Já usei inúmeros agregadores, mas acabei desistindo de todos.

Deve ser o clima de Páscoa: pra provar que não sou radical, criei um link para os agregadores de vocês: http://feeds.feedburner.com/eduardonasi

Testei e, pelo visto, tá tudo certo. Mas, se não funcionar, avisem.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Meu vizinho é um druida


No dia em que se comemoram (2008 - 33 =) 1975 anos da crucificação que acabou dizimando o paganismo da Europa, o Guardian publica um ensaio fotográfico bacana sobre os druidas contemporâneos.