quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Capitão Nascimento é moleque

No meio de todo o bafafá de Tropa de Elite, pega até mal que não se fale mais do lançamento de O Bandido da Luz Vermelha em DVD. A obra-prima de Rogério Sganzerla é de certa maneira o avô do Tropa de Elite, porque esfregou na nossa cara o que éramos lá atrás -- e de onde viramos o que somos e como tudo isso deu no que deu.

Em um manifesto feito na época (republicado aqui pela Contracampo), o diretor escreveu: "Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime".

Não vejo como uma discussão possa ser mais atual.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

TV Digital

Faz uns dois meses, se isso, que assisti a testes da TV Digital, essa mesma que lançam no fim de semana. Confesso que babei: a qualidade é tamanha que deu vontade de esperar pra ver o filme na Tela Quente (com som original, legendas e imagem melhor que a do DVD).

É um troço impressionante. Quando o povo descobrir, sai de baixo. Por um lado, não entendo por que diabos o varejo está reticente e ainda não vende os conversores. Mas, por outro, entendo plenamente: com esse governinho miserento, é difícil.

O trem e o cinema

Quando eu conto que andei de trem pela Europa nos últimos dias, uma das reações mais comuns no Brasil é falar sobre a impressionante (sic) honestidade dos europeus, que pagam a passagem correta sabendo que, muitas vezes, em muitos trechos, não haverá conferência. E é fato: na linha do Thalys entre Amsterdã e Paris, nossos bilhetes foram checados logo na saída e um pouco antes da chegada. Dava pra viajar na boa entre Bruxelas e toda a Antuérpia sem pagar nada.

Sem se dar conta, a gente fala como se isso fosse coisa de outro mundo, o que é um pouco surreal e um tanto revelador sobre o país em que vivemos.

E sempre vem o comentário arrebatador: dizem que um sistema tão livre jamais funcionaria aqui. O que, convenhamos, é verdade. Nossa tendência, porém, é creditar a culpa ao pobre coitado que passa por baixo da roleta do ônibus, e não àqueles que estão mais próximos de nós e que usam carteirinha de estudante falsificada (e por favor notem que me refiro apenas às falsas).

Sei que arregimento pequenas hordas de detratores a cada vez que toco nesse assunto. Sei que sôo antipático. Mas é um fato: por que esperar que gente com bom salário pague uma passagem de ônibus se não paga sequer a outra metade do ingresso do Cinemark? A lógica, me desculpem os pilantras, é a mesma. E quem paga mais caro pra ver um filme sou eu e o pequeno punhado de gente que acha que vive num país que merece ter solução.

domingo, 25 de novembro de 2007

O Bazar Atômico

Li nas férias O Bazar Atômico, uma grande e poderosa reportagem do jornalista norte-americano William Langewiesche a respeito da reconfiguração do poder nuclear depois do fim da guerra fria.

Não fossem o tema e as conclusões, apavorantes, seria um daqueles livros gostosos de se ler. Langewiesche é minucioso, rico em informações, mas preciso, sem excessos.

De certa forma, também é reconfortante: o livro explica por que, afinal de contas, ainda é altamente improvável que seu vizinho tenha uma bomba atômica na garagem (embora São Paulo, segundo ele, seria um bom lugar para se fazer uma). Ou por que o tráfico do Rio tem poucas chances de comprar uma -- e praticamente nenhuma possibilidade de construir uma.

Ao mesmo tempo, assusta: afinal de contas, uma única bomba suja de terceira categoria pode fazer um estrago monumental e dar um novo significado à esta era de caos e paranóia que estamos vivendo. Afinal, percepção é tudo.

sábado, 24 de novembro de 2007

Jogo de Cena

Não é de hoje que Eduardo Coutinho é um cineasta obrigatório, desses que a gente tem a missão moral de acompanhar a obra filme a filme. Jogo de Cena, elogiadíssimo por aí, é antes de tudo sobre a humanidade e os limites do mimetismo do ator. Demasiado humano, evoca a expressão famosa de Nietzsche, mas suga mesmo e pra valer de Aristóteles: há palco, há máscaras (e não há), há principalmente catarse, e catarse por todos os poros.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Kindle e o mundo mudou de novo

Até eu, que já previa que não encerraríamos 2007 sem um e-reader com apelo de massa, fui surpreendido pelo Kindle, o leitor eletrônico da Amazon. Desta vez, não foi o Steve Jobs, e sim o Jeff Bezos.

O aparelho tem conexão EV-DO, tela fosca, dicionário embutido, Wikipedia online, recebe jornais e revistas, bateria bem razoável, um bom acervo para compras, compatibilidade com arquivos como Word (PDF só se convertido em Mobi, leio, mas parece que isso não é difícil), teclado para anotações, é leve... Não vejo o que mais alguém poderia querer -- ok, que ele fosse um pouquinho mais bonito e tivesse cores.

Mas é isso: se não for o Kindle, será algo muito próximo dele. Eu apostaria em um sistema um pouco mais aberto, como a Creative faz com os MP3 players. Mas, por enquanto, fico torcendo para que lancem algo parecido no Brasil logo em seguida. Até porque quero ver como e-books em massa afetam o hábito de leitura -- acho que essa será a próxima grande discussão.