segunda-feira, 9 de junho de 2014

Filmes no Netflix

Já faz uns meses que eu fiz uma pequena lista de filmes não-óbvios para se ver no Netflix. Era uma seleção bem simples, mas rendeu bastante. Até hoje, me pedem mais. Mas é aquilo: uma lista dessas só funciona se torna possível depois que se vê bastantes filmes, então leva um tempo pra renovar o estoque de assunto. Até porque a ideia não é recomendar O lobo de Wall Street – é óbvio que é pra ver, não preciso dizer isso pra ninguém. Mas acho que agora tenho um conjunto interessante:

* Dear Mr. Watterson - Bill Watterson, criador de Calvin & Haroldo, é um cartunista recluso. Sempre evitou imprensa. Queria que seu trabalho falasse por si. Este documentário persegue Watterson respeitosamente, indo atrás das informações públicas a respeito dele, sem nunca abordá-lo. (Este ano, Watterson saiu um pouco da toca. Entre outras coisas, deu uma entrevista em áudio pro documentário Stripped. Mas, na boa, Dear Mr. Watterson é melhor.)

* Good Ol'Freda - Freda foi a secretária dos Beatles (e coordenadora do fã-clube) ao longo de toda a carreira da banda. Neste documentário, essa mulher que é uma figura abre seu coração pela primeira vez. É um barato.

* A Thirsty World - Falta água no mundo, não só na Cantareira. Este documentário é sobre isso. Tem muita coisa que eu não sabia. Por exemplo, em 2008, acabou a água de Barcelona.



* Interior. Leather Bar. - Diz a lenda que o filme Cruising, aqui conhecido como Parceiros da Noite, teve 40 minutos de cenas de sexo sadomasô gay cortadas entre sua estreia no Festival de Berlim e sua estreia comercial. James Franco, quem mais?, resolve refilmar esses devassos 40 minutos perdidos em um documentário maravilhoso. Sinceramente? Eu programaria pra ver com uma sessão dupla de Cruising – que não tem no Netflix, mas tem num DVD da Lume.

* Habemus Papam - Uma hora dessas tenho que escrever sobre esse filme do Nanni Moretti pro Eh,Già!. Mas, com um papa como esse picareta do Francisco pagando de diretor de marketing do Vaticano, melhor nem esperar pra ver.



* Carlos - É uma série de TV baseada em fatos reais (mas não muito, porque os fatos disponíveis eram poucos e obscuros) com apenas três episódios sobre um terrorista venezuelano que atacou a OPEP em plenos anos 70. Os três são dirigidos pelo Olivier Assayas (do maravilhoso Depois de Maio). É uma das melhores coisas já produzidas pra TV. É um dos melhores filmes do Netflix. Não tem nada melhor nesta lista.

* Sleeping Beauty - Uma mocinha bonita é paga pra dormir sedada na companhia de homens. Filme adorável. Passou meio batido nos cinemas aqui.

* Terms and conditions may apply - Um documentário fascinante sobre os contratos de uso de sites como o Google e o Facebook (onde esta lista está hospedada) e o quanto nós abrimos nossos dados até mesmo à NSA ao aceitá-los.

* Blackfish - Documentário sobre maltratos a orcas no Sea World – e as mortes de humanos que são decorrentes desses maltratos.

* Tales of the Night - Animação linda, linda, linda. Pra quem tem criança e espera que elas vejam algo decente. Ou pra quem quer ver um filme lindo.

terça-feira, 3 de junho de 2014

No cinema (1 a 4)

Na época do Oscar, comecei a fazer uns comentários de filmes no Facebook. De tempos em tempos, faço uma lista de uns filmes bons que vi no cinema. Mas no Facebook as coisas de perdem. Resolvi trazer também pra cá. Nesta primeira vez, a lista tá editada, arrumadinha em ordem alfabética, com link pra comprar o DVD quando tiver... Ainda tem uns cacos deixadas pelo passar do tempo, mas enfim, vai ficar assim.

Tenho achado que o Facebook é legal pra postar esses textinhos porque rola uma discussão que não tenho mais esperança que rolem nos comentários do blog. Então, se alguém quiser acompanhar e comentar lá, tá liberado. Não precisa ser amigo, é só seguir.


***




12 anos de escravidão - Eu gosto demais do Steve McQueen desde que ele fazia ~videoarte~.

A grande beleza - Jep Gambardella é o melhor guia de Roma, e ficamos por isso por enquanto. Escrevi sobre o filme mais demoradamente aqui.

Alemão - Acho que 75% do filme é filmado num caixote. Não deve ter custado caro, mas nem dá pra notar. É aquele tipo com potencial de blockbuster que é decente o suficiente pra você torcer pra que dê certo. E deu sorte / azar de a situação estar difícil de novo no Alemão.

Amante à domicílio - Woody Allen é um gigolô, John Turturro faz michê, meio que não tem como dar errado. E não dá.

Azul é a cor mais quente - Acho bem bonito, e tem uma fofura de Sessão da Tarde.


Blue Jasmine - Cito a Mari Messias, que nem lembra que falou isso: "Eu e o Woody All velho nos damos muito bem".

Caçadores de Obras-Primas - Divertido demais, especialmente se você se importa com o destino de obras-primas durante a guerra.


Capitão América 2 - O Soldado Invernal - Tentaram me dizer que era tipo um filme de espionagem dos anos 70. Fui achando que veria o Tinker Tailor Soldier Spy da Marvel. Não é nada disso. Mas é um filminho de super-heróis divertido. Tem lá suas bobagens. Tá longe até de ser o melhor do gênero (Batman - O Retorno segue imbatível), mas é dos melhores dessa leva da Marvel, e merece uma mençãozinha.

Godzilla - Muita gente adorou. Mais que isso: pessoas com quem eu tenho afinidade pra gosto pra filme adoraram. Eu achei que tem seu charme. É bacana a coisa toda estar ligada a esse zeitgeist Fukushima. Tem a Juliette Binoche sendo incrível. Por isso que eu ponho aqui. Mas aquele lance de o rapaz coincidentemente estar sempre perto dos monstros é forçado demais. Estraga tudo. Dava pra resolver de um milhão de jeitos, mas ficou esse aí, meio chinfrim.

Gloria - Sobre essa mulher de uns 50 anos que vive a vida, não cai no papel de velha, e que é uma realidade cada vez mais comum.





Heli - A violência no México rendeu um filme que, no ano passado, deu a Amat Escalante o prêmio de melhor diretor em Cannes. Mostra a confusão entre polícia e narcotráfico, no sentido de que com um Estado fraco essas fronteiras se confundem. É uma história pesada, claro. Que se passa no México, mas deixa uma impressão de que pode estar acontecendo agora mesmo aqui em São Paulo, no Rio ou em qualquer periferia de grande cidade.

Hoje eu quero voltar sozinho - Na contramão de tudo, correndo o risco de ser achincalhado, eu pego no pé de alguns filmes rotulados de "gays" que acabam sendo comédias românticas ou melodramas ruins, mas que, por terem personagens gays, ganham automaticamente ganham um verniz de revolucionárias. Tá cheio de filme assim. Mas Hoje eu quero voltar sozinho, ainda bem, não tem nada a ver com esses filmes aí. Mesmo que seja uma comédia romântica adolescente, ou talvez porque seja uma bela comédia romântica adolescente. Num mundo melhor que o nosso, faria da Sessão da Tarde uma festa. Todo o auê em torno do filme está justificado.




Hotel Mekong - Demorou, mas chegou. O novo filme do Apichatpong Weerasethakul tinha passado no Festival do Rio de 2012 e eu nem tinha mais esperanças que entrasse em cartaz por aqui. Mas entrou. E é maravilhoso. Talvez seja o filme mais incrível em cartaz.

Os personagens estão nesse hotel na beira do rio Mekong, que está passando por uma enchente grande, devastadora. O governo está tentando remediar, mas é meio patético (todo governo é meio patético). Tem o fantasma de Pob, que come tripas. E tem a música de Chai Bathana, toda no violão, uma trilha linda que percorre quase todo o filme, acho que tem só uma interrupçãozinha.

O filme segue o tempo da enchente, e isso me emocionou bastante: a enchente é real, e o tempo de duração das filmagens é o tempo em que o rio esteve cheio. Só consigo imaginar o que é restringir o tempo de filmagens ao tempo de uma inundação.

(Como única ressalva, fiquei meio traumatizado por ter recomendado o Apichatpong anterior, Tio Boonmee. Muita gente adorou, mas alguns amigos acharam terrivelmente chato e nunca vão me perdoar pela indicação.)


Inside Llewyn Davis - Esse é um dos filmes que justifica esta lista: não sei se as pessoas estão se dando conta que estão perdendo um filme desses.





Instinto Materno - Resolvi escrever hoje porque esse é um filme que está quase saindo de cartaz, e merece muito ser visto. Trata-se do romeno que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim no ano passado. Passou batido. Desde a semana passada, vem sobrevivendo em sessões esparsas e esquisitíssimas em alguns dias da semana em alguns Cinemarks menos cotados. Ao menos em São Paulo. É a história de um rapaz rico que atropela e mata um menino pobre, e especialmente da mãe do rapaz, uma dondoca que vai fazer de tudo para proteger seu filho, mesmo que isso signifique comprar a família do menino morto. Um petardo. Simples e profundamente original.

Jackie - Não sei se ainda tá passando nos cinemas ainda. De São Paulo, saiu. Mas é um filminho holandês divertido, leve e surpreendente sobre duas irmãs holandesas que vão em busca da americana que serviu de barriga de aluguel pros pais gays. Chegam lá e encontram uma hippie loucona que mora num trailer e está toda zuada. E partem com ela por uma viagem pelo deserto.

Marina - É uma cinebiografia do cantor Rocco Granta, que fez sucesso com músicas italianas na Bélgica. Eu tenho pé atrás com biografias, mas fui ver e achei bem decente. Escrevi sobre ele aqui.

Nebraska - Aquele lance coxinha no Hawaii que foi Os descendentes me tirou toda a vontade de ver outro filme do Payne. Mas ainda bem que fui.

Ninfomaníaca v. 1 e v. 2 - O 2 é mais extremo que o 1. E acho que o conjunto pode mudar a percepção que parte do público tem a respeito de Von Trier. Mas eu queria mesmo é que o sucesso dos dois justificasse a exibição da versão hardcore de cinco horas.


Noé - O filme só é fiel à Bíblia na visão de Aronofsky. Por exemplo: a Bíblia diz que existiam gigantes na Terra; Aronofsky nos dá anjos transformers deformados de pedra. A Bíblia diz que Deus falou com Noé; o filme mostra Noé como um fanático religioso que tem alucinações psicotrópicas e delírios darwinistas. Muita gente não gosta, mas Aronofsky é um maneirista, e eu curti demais. Inclusive peço que me ajudem: vocês também ficaram com a impressão de que o Aronofsky usou as distorções da conversão em 3D pra distorcer o próprio Noé na medida em que ele vai ficando mais loucão?



O Congresso Futurista - Uns anos atrás, Ari Folman fez algum sucesso com a animação Valsa com Bashir. Pois bem: O Congresso Futurista é muito mais legal. É sobre o fim do cinema, sobre envelhecimento, tecnologia. Uma parte do filme é com atores. Outra, com animação. Acho que é um daqueles filmes que a gente fica falando deles pra sempre, mesmo que não se dê muita bola agora.

O Grande Mestre - Esse eu vi na Mostra, mas acabou estreando só agora. O filme conta a história de Yip Man, popularmente conhecido como ~ o mestre de Bruce Lee ~. Não é o primeiro filme sobre ele. Tem até uma série chamada Yip Man que é divertida. Mas esse novo é do Wong Kar-Wai, que pesa um pouco a mão (ou era eu que já tava com o peso da Mostra?), mas acaba fazendo um belo filme. Em tempo: mal entrou em cartaz e já tá saindo. Se liguem.

O Lobo de Wall Street - Scorsese transloucado. E isso é bom. (PS: tá no Netflix.)



Os filhos do padre - Uma comédia croata impagável. Decidido que contracepção é pecado, um padre bola um plano de furar todas as camisinhas da cidade e devolver a fertilização às mãos de Deus.

Pelo malo - De partir o coração: na Venezuela, um menino pobre de marré deci tem, digamos, questões de gênero: uma queda pelo rapaz que trabalha na vendinha, vontade de alisar cabelo... A mãe acha um horror, quer que ele seja machinho, faz horrores pra não ter um filho gay. A avó delira: ajuda a alisar o cabelo, estimula a ser artista. Só desgraça.

Philomena - Bem bom! Como que a Judi Dench pode melhorar cada vez mais?

Praia do Futuro - Eu cresci num país que ~só fazia filme ruim~ (era o que eu ouvia nos tempos da Embrafilme, mesmo que hoje eu saiba que não era bem assim). Aí teve o Collor, que andam tentando redimir por aí como presidente, mas que simplesmente matou o cinema brasileiro. Depois disso tudo, ter um cara como o Karim Aïnuoz fazendo filme aqui é um acontecimento, é uma evolução brutal em pouquíssimos anos.

Então, na boa: que preguiça da polêmica toda. Que discussão rasa que tá rolando. O filme nem mesmo tem como foco esse relacionamento gay do Wagner Moura com o alemão. É sobre outras coisas, sobre família, sobre distância e, nesse sentido, tem muito mais a ver com outras coisas que o próprio Karim Aïnouz fez, inclusive o Viajo porque preciso, volto porque te amo (que é o título mais lindo do cinema brasileiro). É um filme gigante de um diretor gigante.

Rio 2 - Não tenho uma relação muito boa com animações feitas por computador. Mas achei Rio 2 incrivelmente colorido, principalmente nas cenas musicais. Por mim, podiam deixar de lado a historinha das araras e focar só nos clipes alucinantes.

Vidas ao Vento - O Harold Bloom tem um livro em que compila e analisa os últimos poemas de poetas, e fala sobre morte e uma certa sensibilidade para a morte que os poetas acabam desenvolvendo. Vidas ao Vento foi anunciado como o último de Hayao Miyazaki, e, a partir da leitura de Bloom, me parece que ele sabe que vai morrer.

***

Depois desses filmes, tenho sido perseguido por filmes meia boca. E esses eu ignoro. Essas listas são mais pra guiar quem quer ver filme bom do que pra resenhar.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Uns filmes ótimos (e um bizarro) que estão no Netflix e talvez você esteja deixando passar



The moo man - documentário formidável sobre um fazendeiro chamado Stephen Hook, que cria vacas e vende leite cru. Você nunca mais vai ver o leite de caixinha da mesma forma. (Além do mais, Stephen é um barato.)

This must be the place - filme do Paolo Sorrentino logo antes de ele fazer A grande beleza. Passou aqui e foi bem menos badalado. Com Sean Penn no papel de um sub Robert Smith que tem seu ostracismo interrompido pela busca do pai.

The US vs. John Lennon - superdocumentário sobre a fase em que John Lennon foi praticamente considerado um terrorista.

Le petit Nicolas - baseado na série de livros de Goscinny e Sempé, é uma comédia francesa para crianças engraçadíssima.

Beginners - um filme inglês incrível que, creio, não passou aqui.

Mary & Max - a animação mais deprimente já produzida.

Sharknado - O filme mais hypado do ano passado é um encontro de Tornado com Tubarão - e mostra um tornado que pega tubarões em alto mar e os arremessa em uma cidade costeira.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Um quadro e uma caneta

A empresa de trem de São Paulo, a CPTM, costuma usar os finais de semana para reformar seus trens. Já faz uns meses que está assim, desde que rolaram umas panes bizarras uns meses atrás. Isso não quer dizer que o serviço tenha melhorado incrivelmente. Até acho que as panes diminuíram, mas a lotação nos horários de pico ainda é desumana. Além do mais, tudo indica que a empresa estaria envolvida no tal do Trensalão.

Uma das coisas que mais me incomoda nessa função dos finais de semana é que a CPTM é incapaz de avisar direito o que está acontecendo. Volta e meia você descobre que tem um problema quando já está dentro do trem. Muitas vezes, era algo que um cartaz simples antes das catracas resolveria. Já sugeri. Adiantou? Não.

Hoje mandei uma reclamação formal pra ouvidoria da CPTM. Vou deixar registrada aqui. Só pra vocês saberem: esse CAPS LOCK é loucura do próprio site da CPTM. Minha solidariedade aos pobres funcionários que precisam ler mensagens assim.


Protocolo número: 2014/001515
Data: 19/01/2014

OLÁ,

HOJE, CIENTE DE QUE O TREM DA ESTAÇÃO MORUMBI ATÉ PINHEIROS ESTARIA COM CIRCULAÇÃO ALTERADA ATÉ AS 14H, FUI ÀS 15H (OU SEJA: JÁ CONTANDO COM A INCOMPETÊNCIA USUAL, FUI UMA HORA DEPOIS) PRA ESTAÇÃO MORUMBI. CHEGUEI LÁ, CONFERI SE HAVIA ALGUM OUTRO AVISO E NADA. PASSEI PELA CATRACA (PAGUEI, PORTANTO) E SÓ AO EMBARCAR NO TREM DESCOBRI QUE TERIA QUE PEGAR O ONIBUS DO PAESE.

EU ESTAVA COM O TEMPO RAZOAVELMENTE CONTADO (PORQUE, AFINAL, NUNCA DÁ PRA CONTAR 100% COM A CPTM, ESPECIALMENTE AOS DOMINGOS). PEGAR O ÔNIBUS, ALÉM DE SER MAIS DEMORADO, É UMA CHATICE.

ENTÃO MINHA QUESTÃO É SIMPLES. NÃO QUERO SABER DE TRENS SUPERFATURADOS. NÃO QUERO FALAR SOBRE OS TRENS LOTADOS QUE HUMILHAM DIARIAMENTE OS TRABALHADORES DE SÃO PAULO. NÃO QUERO FALAR NEM MESMO DOS FUNCIONÁRIOS DA CPTM QUE TENTARAM ME ACALMAR DIZENDO QUE A MANUTENÇÃO TINHA SIDO AVISADA E QUE ERA MINHA OBRIGAÇÃO ME INFORMAR - E TINHA SIDO AVISADA, MAS TINHA SIDO AVISADO TAMBÉM QUE A MANUTENÇÃO ACABARIA UMA HORA MAIS CEDO, E EU ME PROGRAMEI A PARTIR DESSA INFORMAÇÃO.

EU SÓ QUERO SUGERIR - MAIS UMA VEZ - QUE VOCÊS PONHAM CARTAZES DO LADO DE FORA DA ESTAÇÃO DIZENDO QUAIS AS CONDIÇÕES DO SERVIÇO. DIZENDO SE TÁ COM REFORMA, COM PAESE, COM DEMORA, COM INUNDAÇÃO, SEI LÁ, TODAS ESSAS COISAS A QUE O SERVIÇO DE TRENS É SUJEITO. AFINAL, OS TRENS PODEM DAR PROBLEMA, É NATURAL, FAZ PARTE. MAS DEIXAR PRA INFORMAR O USUÁRIO QUANDO ELE JÁ ESTÁ DENTRO DO VAGÃO É UMA VERGONHA.

PARA FAZER UM SERVIÇO ASSIM, TUDO QUE A CPTM PRECISA É: 1) QUE VOCÊS SE COMUNIQUEM - E ISSO É UM PROBLEMA DE VOCÊS, FALEM COM A COMUNICAÇÃO, COM O PRESIDENTE, SEI LÁ; 2) UM QUADRO BRANCO E UMA CANETA, NO QUAL UM FUNCIONÁRIO VAI ESCREVER AS CONDIÇÕES DO TREM.

NÃO ESTOU NEM FALANDO QUE, NUM DIA COM MANUTENÇÃO PROGRAMADA, DEVERIA HAVER UM PLANTÃO DA COMUNICAÇÃO DA CPTM AVISANDO O PÚBLICO DA SITUAÇÃO PELO SITE E PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, PORQUE ISSO É MEIO ÓBVIO, MAS DEVE SER COMPLICADO. SÓ ESTOU PEDINDO UM QUADRO E UMA CANETA POR ESTAÇÃO.

SE NÃO FOR PEDIR MUITO, FUTURAMENTE VOCÊS PODERIA CRIAR UM SISTEMA INFORMANDO A CONDIÇÃO DE TODAS AS LINHAS DO SISTEMA, INCLUSIVE O METRÔ.

OBRIGADO,

E.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Thomas Demand e o artista que não se reinventa todo dia



"The standard, canonized approach would have been to invent art each day anew - to change these things every day whenever the rule became visible. But for me, this also meant that if I could do everything, I could choose to do only one thing. It's similar to language: if you use a different language every day, you lose the nuances and colors that are possible when you speak a language particularly well. And when it happens, it basically means that you're only able to employ headlines, because you're picking a new language every day. However, it's the nuances that are important to me."

Thomas Demand, em entrevista a Hans Ulrich Obrist, no livro dedicado a ele na The Conversation Series.

***

Colei as duas imagens neste post para contextualizar o trabalho de Thomas Demand, que não é muito conhecido fora do universo da arte contemporânea.

As imagens são, a rigor, as obras. Demand expõe as fotografias. São imagens feitas a partir de outras imagens, que não só já existiam, mas também tiveram alguma circulação nos meios de comunicação de massa. A janela acima, por exemplo, é feita a partir da foto de uma loja em que um garoto foi assassinado depois de ser explorado sexualmente. A imagem ao lado foi criada a partir do quarto de hotel em que Whitney Houston foi encontrada morta.

Não é por acaso ou preciosismo que digo que as imagens foram criadas a partir de outras imagens. É que elas foram mesmo. Demand reconstrói em estúdio esses espaços, em tamanho natural. Tudo em papel colorido, de diversas cores e formato. Isso mesmo: tudo que você vê na imagem é papel.

Em junho, visitei seu estúdio de Berlim com um grupo de estudos. Vi isso tudo ao vivo, o que não é comum: o trabalho de Demand é a imagem gerada. É isso que aparece na exposição. Depois da fotografia, todo o modelo é descartado. Ainda assim, ver esse modelo é fascinante. Até as dobras da toalha são feitas em papel. Para parecer tecido, Demand usa uma técnica que aprendeu na Itália, numa paróquia sem dinheiro que fazia as vestimentas de seus santos com papel.

Foram anos de pesquisa até encontrar a técnica. Não me parece que sejam anos de repetição, mas de trabalho intenso, de pesquisa séria, de aprofundamento. Por isso, destaquei o trecho durante a leitura, e decidi compartilhá-lo. Eu diria até que essa consistência não é algo que eu costume ter no meu próprio trabalho, ou que me interesse na hora de criar. Mas ao menos é alguém que vai um pouco na contramão do discurso corrente e chato que reduz a importância de artistas que não são novidadeiros.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Marina Abramović e o erro no processo criativo

"Failure is incredibly important. I put so much attention on failure, because it's so easy with artists doing the work that is repeating, repeating, repeating and you know that if you have a certain amount of success with the public, you are doing these things over and over again and that's so boring. It's really important to look into new territory, to look at things you have never done and things that you are afraid of; things you are not sure of. They are the things that really matter. If you experiment it means you have the possibility to fail and if you fail an experiment it's a really valuable experience. It's much more valuable than just the having success. I think failure is the one of the most important experiences to have as an artist. When I look to see how good an artist is, it's always important for me to see how many times they fail. It's really important that you make a great work of art and then after that you have to make at least three really shitty things."

Marina Abramović em depoimento a Hans Ulrich Obrist, no livro da The Conversation Series.

domingo, 15 de setembro de 2013

Um supermercado na Califórnia, de Allen Ginsberg

Não acho que ninguém precisa de mais uma versão em português para Um supermercado na Califórnia, de Allen Ginsberg. Há uma do Cláudio Willer, que, se a memória não falha, está no Uivo, Kaddish e outros poemas, da L&PM. Há outra, do Rodrigo Garcia Lopes. Achei uma também uma tradução aparentemente portuguesa, muito copiada por aí, sempre sem crédito. Há outras.

Mas tava mexendo com esse poema e, no processo de estudá-lo, acabei fazendo a minha própria. Ei-la:


Um supermercado na Califórnia


     O quanto que pensei em você esta noite, Walt Whitman, enquanto
eu caminhava calçada debaixo das árvores com uma dor de cabeça
olhando conscientemente para a lua cheia.
    Na minha faminta exaustão, comprando imagens, eu fui
a um supermercado de frutas de cores berrantes, sonhando com suas enumerações!
    Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras
comprando à noite! Corredores cheios de maridos! Esposas nos
abacates, bebês nos tomates! - e você, Garcia Lorca, o que
você está fazendo junto às melancias?

     Eu te vi, Walt Whitman, sem crianças, velho fuxiqueiro recluso,
fuçando nas carnes do freezer e encarando os garotos do
hortifruti.
    Ouvi você perguntando a eles: Quem matou as
costeletas? Por quanto saem as bananas? Você é meu Anjo?
    Perambulei de um lado pra outro nas pilhas brilhantes de latas
seguindo você, e sendo seguido na minha imaginação pelo segurança
da loja.
    Percorremos juntos os corredores largos em nossa
charmosa e solitária degustação de alcachofras, pegando cada acepipe
congelado, e nunca passando no caixa.

    Aonde estamos indo, Walt Whitman? As portas se fecham em
uma horas. Qual caminho a sua barba aponta nesta noite?
    (Eu toco no seu livro e sonho com uma odisseia num
supermercado e me sinto absurdo.)
    Vamos caminhar a noite toda por ruas solitárias? As
árvores juntam sombra com sombra, luzes saem das casas, vamos os dois estar
sozinhos.

    Vamos andar sonhando com a América do amor perdida
passar por carros azuis nas avenidas, retornando para nossa cabana silenciosa?
    Ah, querido pai, barba grisalha, velho e recluso professor de coragem,
que América era a sua quando Caronte parou de navegar sua balsa e
você foi para uma margem com névoas e ficou olhando o barco
desaparecer nas margens negras do Lete?

Berkeley, 1955



A seguir, a versão original:


A Supermarket in California

          What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for
I walked down the sidestreets under the trees with a headache
self-conscious looking at the full moon.
          In my hungry fatigue, and shopping for images, I went
into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
          What peaches and what penumbras!  Whole families
shopping at night!  Aisles full of husbands!  Wives in the
avocados, babies in the tomatoes!--and you, Garcia Lorca, what
were you doing down by the watermelons?

          I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber,
poking among the meats in the refrigerator and eyeing the grocery
boys.
          I heard you asking questions of each: Who killed the
pork chops?  What price bananas?  Are you my Angel?
          I wandered in and out of the brilliant stacks of cans
following you, and followed in my imagination by the store
detective.
          We strode down the open corridors together in our
solitary fancy tasting artichokes, possessing every frozen
delicacy, and never passing the cashier.

          Where are we going, Walt Whitman?  The doors close in
an hour.  Which way does your beard point tonight?
          (I touch your book and dream of our odyssey in the
supermarket and feel absurd.)
          Will we walk all night through solitary streets?  The
trees add shade to shade, lights out in the houses, we'll both be
lonely.

          Will we stroll dreaming of the lost America of love
past blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?
          Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-teacher,
what America did you have when Charon quit poling his ferry and
you got out on a smoking bank and stood watching the boat
disappear on the black waters of Lethe?


Berkeley, 1955

sábado, 7 de setembro de 2013

Um poema sobre pintura





Taí um poema que fala sobre artes visuais, sobre Pollock, lido por Al Filreis na introdução de seu curso de poesia americana moderna e contemporânea:



"830 Fireplace Road"
John Yau

(Variations on a sentence by Jackson Pollack)
"When I am in my painting, I'm not aware of what I'm doing"
When aware of what I am in my painting, I'm not aware
When I am my painting, I'm not aware of what I am
When what, what when, what of, when in, I'm not painting my I
When painting, I am in what I'm doing, not doing what I am
When doing what I am, I'm not in my painting
When I am of my painting, I'm not aware of when, of what
Of what I'm doing, I am not aware, I'm painting
Of what, when, my, I, painting, in painting
When of, of what, in when, in what painting
Not aware, not in, not of, not doing, I'm in my I
In my am, not am in my, not of when I am, of what
Painting "what" when I am, of when I am, doing, painting.
When painting, I'm not doing. I am in my doing. I am painting.

Jackson Pollack wrote: "When I am in my painting, I'm not aware of what I'm doing. It's only after a sort of 'get acquainted' period that I see what I have been about. I have no fears about making changes, destroying the image, etc., because the painting has a life of its own."

terça-feira, 9 de julho de 2013

O filme e a novela

"Nunca se deveria comparar um filme com uma peça de teatro ou um romance. O que mais se aproxima é uma novela, cuja regra geral é conter uma só ideia que termina de ser expressa no momento em que a ação atinge seu ponto dramático culminante.
Você deve ter reparado que raramente uma novela é deixada em repouso, o que a aproxima de um filme. Essa exigência implica a necessidade de um sólido desenvolvimento de enredo e a criação de situações pungentes que decorram desse próprio enredo, devendo todas acima de tudo, ser apresentadas com habilidade visual. Isso nos leva ao suspense, que é o modo mais poderoso de prender a atenção do espectador, seja o suspense de situação, seja o que incita o espectador a se indagar: 'E agora, o que vai acontecer?'."

Alfred Hitchcock em entrevista a François Truffaut, em publicada na íntegra em Hitchcock Truffaut, que saiu aqui pela Companhia das Letras.

domingo, 7 de julho de 2013

Picolé de Limão

Acho a Bruna Beber uma baita poeta. Parece que, com a Flip, enfim ela vai ganhar um reconhecimento popular - ontem, na Folha, a coluna da Raquel Cozer contou que ela esgotou na livraria do festival. O editor, faceiro, a chamava de "nosso Leminski".

Mas tenho que confessar (pode ser coisa minha) que fico mais feliz lendo Bruna Beber que Leminski.

Enfim: saiu por esses dias o novo livro dela, Rua da Padaria. É formidável. De lá tirei este poema: 

picolé de limão

pensando rápido
a vida é desgraçada 

– o primeiro rádio 
ganhei no bicho

meu primeiro amor 
achei no lixo 

o primeiro tiro 
levei no bingo 

meu melhor amigo 
conheci na cadeia 

a primeira ambição 
um palito premiado – 

pensando lento 
que graça.