Esse sujeito de armadura é o super-herói do momento, o Homem de Ferro. Seu filme está passando nos cinemas, e tem recebido elogios, ainda que moderados, da crítica.
A culpa é do moço logo abaixo, Robert Downey Jr. O ator passou uns anos no ostracismo depois de montar uma memorável coleção de merdas realizadas. É uma seleção tão primorosa que suas merdas estavam expostas em uma sala especial, como se fossem troféus, e todo mundo que pensava no cara logo lembrava das suas muitas merdas.
Homem de Ferro é sua redenção. No filme, nosso Downey Junior interpreta Tony Stark, um bilionário, mulherengo, ególatra, a dois passos do alcoolismo e, pra encerrar a lista dos adjetivos pejoraticos, dono da fábrica de armamentos que está fodendo com a população afegã porque supre também para as milícias terroristas. Mas Stark é seqüestrado e aprende que, a exemplo de Downey Júnior, estava fazendo uma coleção memorável de merda. E resolve se redimir usando a armadura para combater os bandidos que vendem armas (ou seja, sua própria firma) e as milícias terroristas afegãs.
Tenho uma hipótese que Downey Junior só funciona porque está apoiado em uma atriz que mata a pau, Gwyneth Paltrow -- por sinal, também sumida. Como Pepper Potts, assistente pessoal de Tony Stark, ela ressurge num papel delicioso. É ela quem faz a ponte entre o bilionário excêntrico e o resto do mundo.
A dupla, ou casal, sei lá, atua num roteiro com boas sacadas, que servem de contraponto à arrastada história da origem do super-herói de ferro -- ou melhor, uma liga de ouro e titânio.
Mas, e sempre tem um "mas", nem tudo é uma duplinha de velhos galãs em climinhazinho de romance.
Há uma cena que me incomoda desde o momento que eu vi, na tarde de sexta, mas que a parafernália do filme ofuscou até ontem.
Depois de se redimir e virar super-herói, Stark vai até o Afeganistão, mata uns terroristas, salva uns miseráveis de um bandidão e, no fim da cena, entrega o sujeito para os aldeões, dizendo:
-- Agora é com vocês!
Macacos em mordam se isso não é uma apologia ao linchamento, como se linchar e fazer justiça com as próprias mãos fosse uma coisa bacana.
Não é.
Há uma boa discussão sobre o tema na bela entrevista que a Flávia Tavares, do Estadão, fez com o sociólogo José de Souza Martins há alguns domingos.
Mas é o que o filme mostra: depois de se redimir e (quase) virar um modelo a ser seguido, ele passa a acreditar na justiça do olho por olho, no toma lá, dá cá, na vingança insana da coletividade e no fim da civilização.
Diferentemente de outras obras que retratam a violência, como Oldboy, Homem de Ferro não abre um fórum para a discussão do linchamento. Embora muitos assuntos sejam debatidos, não há nenhuma reflexão sobre o tema no subtexto do longa.
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Voltando ao tema da classificação indicativa da MPAA, já discutido no post sobre o documentário This film is not yet rated, Homem de Ferro é, segundo a MPAA, PG-13. "For action violence and some sensuality", diz a avaliação.
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Ontem, caminhando na Paulista, percebi que os camelôs de DVDs piratas anunciavam Homem de Ferro como o grande lançamento do feriadão.
Um comentário:
1) Robert Downey Junior = Ronaldo Fenômeno
2) Não é no Lady Vingança que eles discutem se lincham o assassino de crianças?
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