"O interrogatório e as torturas duraram sete horas e meia, período em que a equipe foi submetida a socos e pontapés, choques elétricos, sufocamento com saco plástico, roleta-russa, tortura psicológica e todo tipo de situação vexatória. Em um dos intervalos entre as sessões de agressões, a equipe identificou o barulho de sirenes iguais às das patrulhas policiais rondando o cativeiro. Mas os homens que chegavam ao local, em vez de socorrer as vítimas, eram solidários aos carrascos."
A milícia da Favela do Batan, em Realengo, no Rio, torturou uma repórter, um fotógrafo e o motorista da equipe, todos do jornal O Dia. A história está contada em detalhes na edição de hoje do jornal.
Milícia, no caso, é a reunião de policiais, bombeiros e funcionários da Segurança Pública, um grupo que, em tese, defende a favela dos traficantes. Seriam a lei onde a lei de fato não chega. E faria com quem rompe essa falsa lei o que a ler de verdade não permite: torturar e matar.
A lógica é torta. Uma frase de um dos torturadores, reproduzida na reportagem, é de lascar: "Existem muitos policiais corruptos, mas nós não somos corruptos. A gente se mata de trabalhar aqui, leva tiro de vagabundo para vocês chegarem e estragar o projeto social que estamos fazendo. Nós não somos bandidos".
São, sim. Claro que são.
Não por coincidência, tudo isso lembra os métodos do Capitão Nascimento, personagem do filme Tropa de Elite -- que virou herói nacional. Ano passado, a classe média aplaudiu de pé nos cinemas a tortura e a morte indiscriminada de "bandidos" pela banda podre da polícia. Na votação do site de cinema Omelete que elegeu "os melhores de 2007", por exemplo, o policial corrompido foi indicado (pela equipe do site) e eleito (pelos leitores) o herói do ano. O caso do Omelete não foi o único caso. Só o exemplo de que lembrei, justamente porque acompanho o trabalho do site -- que se deixou levar, quero crer, pela onda.
É esse tipo de pensamento inocente, que não avalia as conseqüências éticas dos aplausos, que fomenta a lógica torpe do mundo do crime. E leva, por tabela, a situações como essa, é endêmica.
O caso dos jornalistas d'O Dia tem que servir para alguma coisa. Alguém tem que dar um basta nessa palhaçada.
Um comentário:
Dudu, querido,
Saudades!
Queria deixar aqui a minha humilde opinião...de quem está há 20 anos no ramo. Eu concordo com tudo o que você falou. Mas, acho também que nossos coleguinhas, principalmente no Rio, quebram algumas barreiras. Investigação policial é investigação policial. Matéria investigativa é matéria investigativa. E é quando esse limite é ultrapassado que os caras se ferram. Vide Tim Lopes.
Bjs, bjs, bjs
Dê
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