terça-feira, 17 de julho de 2007

O título óbvio de sempre

É a hora, senhoras e senhores: podem usar seu clichê favorito advindo da obra de Garcia Márquez!

Tem um aeroporto no meio da cidade. No meio.

Os aviões passam aqui pela minha cabeça. Decolam no meio de prédios, vejo aqui da minha janela.

Uma hora, ia dar uma merda. Mais cedo ou mais tarde, algo grande ia acontecer. E deu no que deu.

Olhando friamente, o acidente nem foi tão grave: não caiu em cima de uma escola lotada de crianças, não destruiu um punhado de prédios pelo caminho, não explodiu nenhum shopping.

É óbvio que foi uma tragédia. Coisa que ainda nem sei o quanto me atinge diretamente, porque é evidente que conheço gente daqui de São Paulo, mas também de Porto Alegre. Conhecendo a cidade de que venho, há boas chances de ter algum conhecido mais próximo do que o deputado Júlio Redecker, com quem topei uma ou duas vezes.

Mas, mesmo antes de saber tudo, mesmo antes de qualquer lista, é bom lembrar que todo mundo que mora em São Paulo já pensou no risco que é ter Congonhas aqui pertinho. E todo mundo também acha um saco ir até Guarulhos.

Congonhas aqui ao lado é cômodo. A distância de Guarulhos se agrava com o trânsito. Até hoje, mesmo com o acidente do Fokker 1o0, onze anos atrás, estávamos pagando pra ver.

Haverá, naturalmente, mais um movimento para se reduzir ferozmente o uso do aeroporto recém-reformado. É um assunto reincidente. Num chute, eu diria que os vôos vão reduzir.

Mas há algo que me faz crer que tudo pode ficar como está. São Paulo nos seduz a pagar pra ver. Paga-se para ver qual será o efeito da poluição e do stress nos nossos corpos, o que as horas gastas no trânsito representam, o que significa viver numa cidade que ama o consumo.

Pagar pra ver é o que se faz em São Paulo o tempo todo. Não duvido que a gente pague pra ver o que acontece se Congonhas continuar operando.

Um comentário:

ematoma disse...

Duas pessoas da Braskem estavam nesse vôo: uma eu conheço, a outra não. Minha maior preocupação nem é a proximidade do aeroporto com o meu local de trabalho, mas o fato de utilizá-lo (e de pessoas queridas o utilizarem)com uma freqüência maior do que eu gostaria. Odeio esse descaso com a vida alheia. Todo mundo comentando sobre a falta de segurança, e ninguém fazendo nada. Muito, muito triste.